Terra onde ninguém faz xixi na rua, ninguém joga o carro em cima de você, não tem criança pedindo esmolas e a vida rola solta e segura. Tudo limpo e organizado, a economia cresce 3,92% ao ano e o político não rouba nem dá golpe de Estado.
Porém em certo dia de 1980 mudou tudo. Foi o dia em que os radares da Marinha sueca captaram o som das embarcações russas invadindo o espaço marítimo delimitado entre as duas nações vizinhas. Segundo os almirantes de mar e guerra aquele som era o som dos hostis submarinos nucleares da Rússia imperialista, naquele tempo sob as ordens do desesperado e mentiroso Leonid Brezhnev.
Suécia e Rússia nunca se bicaram. Os dois países adoram uma briguinha e já travaram uma guerra sanguinária no fim do século 18, com pesadas perdas para ambos os lados. Então foi só a notícia chegar nas redações dos jornais para a Suécia se pôr em pé de guerra. A população queria que a ONU puxasse as orelhas daqueles comunistas fedorentos. Em contrapartida, os russos, nervosinhos, trataram de dar o troco mandando a suecada catar coquinho. O barraco estava armado, que Deus nos proteja.
Era inconcebível. A Rússia do Bolshoi Ballet, do Dostoiévski, da Praça Vermelha, dos grandes compositores eruditos, do cinema de Tarkovski rodou a baiana. A Suécia dos morangos silvestres, das noites de circo bergmanianas, do Prêmio Nobel, caiu matando. Foi quando alguém querendo evitar o desastre apelou para o austríaco Kurt Waldheim, secretário-geral da ONU.
A iniciativa progrediu: os ânimos se acalmaram. Depois de muita conversa, os suecos concordaram em entregar o material secreto contendo os sons subaquáticos para uma avaliação técnica.
Meus amigos, o relatório dos cientistas tornou-se objeto das maiores gozações do planeta. Aqueles estrondos, aquelas explosões não eram barulho de motor. Era peido, peidos dos peixes.
O documento primava por detalhes preciosos. Um deles confirmava que os traques dos tubarões e das baleias, apesar do tamanho dos animais eram pequenos quando comparados ao estardalhaço causado por peixes menores. Imagine a zoeira que milhares de peixinhos não fazem quando liberam seus puns. Trata-se de um som ensurdecedor capaz de ocultar qualquer barulho produzido pelas turbinas dos submarinos.
Felizmente a guerra não aconteceu e até hoje os peidorreiros são festejados pelo povo dos dois países.