por Caio César Muniz
Conheci a Fundação Vingt-un Rosado um ano após a sua criação. Fui levado por Cid Augusto para iniciar o processo de publicação do meu primeiro livro. Naquele ano também surgiriam para a nossa literatura os poetas Marcos Ferreira e Genildo Costa, Cid já estava na seara, já era gente grande.
Em 1999 fui procurado por Vingt-un Rosado para digitar UM livro, depois, sem uma conversa prévia, digitei dois, três, mil livros… Me tornei um auxiliar próximo de Vingt-un. Que sorte a minha! Não pelo emprego, mas pela oportunidade da convivência. De 1999 a 2005 tive um aprendizado sem igual.
O dinheiro da Fundação vinha de pequeno convênio quase permanente com a Prefeitura Municipal de Mossoró. Nos tempos de Vingt-un ele comprava de papel, de insumos gráficos, depois, com a necessidade de sairmos do ambiente familiar da casa de Vingt-un e ocuparmos um espaço mais neutro, este pequeno convênio servia para pagar o custeio da Fundação: (aluguel, água, luz, telefone, funcionários).
Nunca foi pago em dia, mas saía. Firmamos convênios paralelos, mas específicos para fins de publicação, não podiam ser aplicado e outros fins.
Desde o final do último mandato da prefeita Fafá Rosado a coisa começou a ganhar conotações catastróficas. Os atrasos se tornaram muito grandes e as renovações não aconteceram. Também foram ignorados por Cláudia Regina e por Francisco José Júnior.
Com isto, há cerca de quatro anos, a coisa se tornou insustentável. Era preciso reduzir custos ao máximo e a Fundação deixou uma sede ampla e acolhedora para ganhar rumos incertos.
Uma organização do acervo, realizado por professores e alunos do curso de História da UERN, foi por água abaixo. Três ano de trabalho e recursos jogados fora.
Aquela mudança dividiu o acervo: uma parte para o Museu do Sertão, na comunidade de Alagoinha, mal acondicionado, empilhado, exposto à umidade e poeira. Outra parte foi para uma residência em um bairro de Mossoró.
Nestas mudanças, sem pessoas qualificadas para tal, só Deus sabe o quanto foi perdido de obras raras da biblioteca particular de Vingt-un, de documentos, de obras da Coleção.
No final do mandato de Francisco José Júnior, para dar uma resposta, mesmo que rasa e paliativa, os acervos foram novamente transferidos de ambiente, agora para o piso superior do Museu Lauro da Escóssia.
Empilhado, empoeirado, sem acesso ao público. Novamente imagine-se no quanto se perdeu do acervo pela má condução.
Nós, os funcionários, fomos dispensados, não havia mais como arcar com a bola de neve que estava se tornando o atraso de salários. A gráfica foi desativada.
Há de se ressaltar aqui o empenho do diretor-executivo Dix-sept Rosado Sobrinho. Somos testemunha do seu esforço, até aqui em vão para erguer a Fundação.
Retirou do seu próprio bolso, comprometendo inclusive seu patrimônio pessoal, recursos consideráveis até aqui.
Agora o acervo faz a sua quarta mudança de local. Vai para a Biblioteca Pública Ney Pontes Duarte. Confio na inteligência e experiência de pessoas como Eriberto Monteiro e Maurilio Carneiro, além de Raniele Costa,que continua realizando o seu trabalho junto à Fundação.
Acho que, enquanto a Fundação Vingt-un Rosado não tiver uma sede própria, ela não estará segura. Assim, mesmo sem apoios financeiros, ela estará guardada em definitivo em local apropriado.
Aos chefes da política e da cultura de Mossoró, só um pedido: não deixem este patrimônio se perder (mais ainda), tenham sensibilidade para com o nosso passado para que tenhamos um futuro mais digno.
PS: Hoje (06 de abril) a Fundação Vingt-un Rosado completa 22 anos. Em sua história, nada, nunca foi fácil, mas agora está muito, mas muito pior.