20 filmes espanhóis excelentes para assistir na Netflix

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Já há um tempo, talvez desde que Um Contratempo ganhou fama no catálogo da Netflix, os filmes espanhóis entraram na mira de quem quer fugir da pegada hollywoodiana ou de quem simplesmente procura por um bom filme.

Não que isso já não tivesse ocorrido em outras oportunidades, guiado por um ou outro, mas talvez nunca tenha sido com o hype tão elevado… algo que, mais tarde, seria superado por O Poço.

Pensando nisso, preparei uma lista com alguns filmes espanhóis para você assistir na Netflix. A ideia também foi indicar para muitos gostos diferentes, tanto para assistir quanto para reassistir.

Sem mais demora e, como sempre, dentro de uma abordagem sem verdades absolutas, vamos à lista de 20 filmes espanhóis para assistir na Netflix (sem ordem específica):

20. O Poço

O controverso filme de Galder Gaztelu-Urrutia, lançado em 2019, traz uma prisão vertical com uma cela por nível, cada cela com duas pessoas. No centro, apenas uma plataforma de comida e dois minutos por dia para se alimentar. É um pesadelo aparentemente sem fundo.

Há várias relações possíveis para o filme, sejam sociais, filosóficas ou até mesmo a possibilidade de se entregar à história pela história.

Fica, de quebra, a dica para assistir ao premiado curta-metragem Próximo Piso (Next Floor no original), de Denis Villeneuve (diretor de A Chegada, Blade Runner 2049 e do em breve Duna) e lançado em 2008, que, se não serviu de inspiração para Gaztelu-Urrutia e seus roteiristas, uma coincidência muito grande aconteceu. No mínimo.

19. Nuestros Amantes

Uma típica comédia romântica com roteiro que parece ter saído da fábrica hollywoodiana do gênero. Isso pode ter seu lado negativo, mas o que o roteirista e diretor Miguel Ángel Lamata faz parece ter sido pensado com tanto carinho que pode conseguir subverter esse estigma.

Não dá para contar muito da história, visto que ela já foi assistida outras vezes, mas basta dizer que uma sinopse diz: “Um homem. Uma mulher. Uma regra: não se apaixonar”. O resto já sabemos. Ou não.

18. O Autor

Um homem obcecado com a ideia de escrever “alta literatura” começa a causar conflitos ao seu redor. A partir disso e baseada em livro de Javier Cercas, a história de O Autor passa a misturar realidade e ficção na mente do seu protagonista, muito pelo processo traumático de trazer ao mundo sua escrita, muito por necessidade de dar sentido à vida.

17. Sob a Pele do Lobo

Sob a Pele do Lobo se mostra como um pequeno tratado antropológico, um filme que não está disposto a romantizar e traçar uma história agradável. É uma obra bem direta em seus propósitos, apesar das quase duas horas com pouquíssimos diálogos.

A história, escrita e dirigida por Samu Fuentes, acompanha um montanhês que vive sozinho e, para aliviar a solidão, compra uma esposa. Essa, porém, é só a premissa de um filme bem pesado.

16. Árvore de Sangue

Viajando para descobrir seus passados familiares mútuos, Marc (Álvaro Cervantes) e Rebeca (Úrsula Corberó) se envolvem em um drama que toca com muita sensibilidade no universo das árvores genealógicas. Corberó, inclusive, demonstra ser uma atriz que vai muito além da Tóquio de La Casa de Papel.

15. Durante a Tormenta

Um dos filmes recentes mais instigantes no catálogo da Netflix, Duas Tormentas é o típico filme-cronômetro: são 72 horas que separam o eterno desconhecido da verdade.

O diretor Oriol Paulo (de Um Contratempo) sabe como poucos construir essa tensão finita e separá-la de possíveis previsibilidades. Se a pedida é por injetar adrenalina na experiência, a dica é se entregar a Durante a Tormenta e deixar o corpo responder.

14. 7 Años

Quatro amigos enfrentam uma decisão agonizante: um deles precisa ir para a prisão e os outros três devem fazer o sacrifício valer a pena. Embora possa parecer, de vez em quando, uma peça teatral, são somente 77 minutos de duração que passam como se fossem 20.

No filme, ainda se destacam as atuações dos protagonistas, as situações impostas pelo roteiro e a trilha sonora original que é tão interessante que quase parece diegética (saída das próprias cenas).

13. O Homem das Mil Caras

O Homem das Mil Caras é um suspense biográfico sobre a história de um sujeito que enganou um país inteiro. É uma espécie de conto sobre trapaças inspirado em fatos a partir dos passos de um dos personagens mais intrigantes das últimas décadas: o espião Francisco Paesa (interpretado aqui por Eduard Fernández).

É um filme hipnótico, com um visual capaz de causar vertigem daquele e, com isso, ainda sustenta o caráter da narrativa. A direção de Alberto Rodríguez, um dos melhores diretores espanhóis contemporâneos, é um exercício de estilo, o que faz cada minuto do filme valer a pena, seja pela condução cirúrgica dos acontecimentos, seja pelo visual irretocável.

12. Viver Duas Vezes

Um professor acadêmico aposentado tenta encontrar o amor de sua juventude após ser diagnosticado com Alzheimer. A premissa de Viver Duas Vezes pode ser romântica e ao mesmo tempo triste, algo como o oscarizado Para Sempre Alice.

Aqui, porém, a impressão é de que o assunto é tratado com mais leveza, conseguindo, inclusive, deixar uma reflexão positiva em primeiro plano: a de que mesmo a mais dolorosa das doenças não pode nos impedir de encontrar paixões, de redescobrir o amor.

11. Palmeiras na Neve

Após a morte de seu pai, uma jovem descobre parte de uma carta. Enquanto busca respostas, ela embarca em uma jornada que a leva de volta à África, onde ela começa a desvendar os segredos de sua família.

A partir dessa história, Palmeiras na Neve é um drama romântico que traz uma história de romance épico (ou quase isso) e proibido. É, possivelmente, um dos filmes mais bonitos de nossa lista.

O momento em que ele (o filme) se passa, ainda, é outro, no qual tudo era bem diferente do mundo que conhecemos hoje. Assistir a esse filme é um exercício de compreensão bem interessante.

10. 100 Metros

Baseado em acontecimentos reais, o filme conta parte da história de um espanhol com esclerose múltipla que tentou terminar uma competição do Iron Man apesar de ter sido informado de que não poderia fazer 100 metros.

O filme consegue resistir à tentação de cair para o melodrama ou para a forçação de barra lacrimosa apesar das muitas tentações oferecidas pela história.

É um trabalho muito sensível, que mostra o poder de cura dos esportes e, sobretudo, consegue buscar o que há de melhor em seus espectadores… algo que é sempre necessário.

9. Elisa y Marcela

Em 1901, Elisa Sanchez Loriga assumiu a identidade de Mario Sánchez para se casar com sua amante, Marcela Gracia Ibeas.

Trata-se de um romance biográfico com muitas camadas e é a primeira produção da Netflix a ter sido selecionada pela Berlinale. Na ocasião, houve uma reação forte dos cineastas alemães, que pediam a sua retirada da programação por ser fruto de um serviço de streaming.

8. Quién te cantará

Indicado a diversas premiações nas categorias de roteiro e direção, Quién te cantará É um dos filmes espanhóis mais diferentes do catálogo da Netflix.

A história segue Lila, uma cantora famosa e com amnésia que, cansada da fama, acaba se esquecendo como se apresentar. Nesse processo, entra em cena uma superfã, que passa a ensinar Lila a ser Lila novamente.

7. O Vazio do Domingo

Contando a história de uma velha senhora de classe alta que recebe a visita inesperada de sua filha abandonada há mais de 30 anos, O Vazio do Domingo é um drama dos mais sensíveis disponíveis na Netflix. O pedido da filha, ao reencontrar a mãe é simples: passar 10 dias juntas. O restante é desenvolvido pelo roteirista e diretor Ramón Salazar com muito carinho.

6. Verônica: Jogo Sobrenatural

Verônica: Jogo Sobrenatural (de Paco Plaza, 2017) é um terror carregado de suspense que sabe muito bem onde está pisando. Ao contrário de investir em quebras de expectativas, o corroteirista e diretor Paco Plaza (da trilogia inicial de [REC] — fica a dica), doa-se completamente à construção delas.

Há, sem dúvidas, subversões de gênero, mas o filme está mais disposto a construir um horror crescente, sem descanso, típico do cinema espanhol — algo como faz o ótimo Um Contratempo (mais abaixo na lista).

O trabalho cuidadoso e consciente de Plaza edifica bases sólidas para o filme de uma forma única: é um terror, de fato, que traz o sempre revisitado tema da possessão demoníaca, mas é claramente realizado com muito carinho e naturalidade.

Pode ser perceptível que, nem tão em segundo plano, Verônica: Jogo Sobrenatural é sobre os “monstros” que despertam durante a adolescência.

5. Toc Toc

Com delicadeza e muito cuidado, Toc Toc trata das aventuras e desventuras de um grupo de portadores do transtorno obsessivo-compulsivo que, por acaso, acabam na mesma sala de consulta… ao mesmo tempo. Vê-los sendo tratados com leveza e — por causa dessa leveza — com respeito rende as risadas mais empáticas da lista.

4. Perfectos Desconocidos

Perfectos Desconocidos é um dos remakes de uma excelente comédia dramática italiana realizada um ano antes — a versão mexicana também consta na Netflix.

O filme fala sobre a conexão com os mais próximos e como se está distante de conhecer, de fato, quem está ao redor. Ainda que procure se explicitar como uma realidade fantástica e, acertadamente, desnude o poder que tem a intimidade (o micro) de transformar o todo (o macro), fica a sensação de que o autoconhecimento ainda é o melhor caminho.

3. The Fury of a Patient Man

Originalmente Tarde para la ira, o filme, para fãs de suspense, pode ter um final um tanto quanto previsível. Mas o todo se difere de outros da lista por não alicerçar o seu suspense em reviravoltas.

O que o diretor espanhol estreante Raúl Arévalo guia é um roteiro (escrito por ele mesmo e pelo também debutante David Pulido) que jamais julga seus personagens. É uma história que, por si só, é uma grande personagem. Na verdade, a história é a vilã, é uma marcha inevitável e destrutiva.

Vencedor do Prêmio Goya de 2017 em quatro categorias — Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante (para Manolo Solo, o Santi no filme), Melhor Estreia na Direção e Melhor Roteiro Original —, The Fury of a Patient Man é, provavelmente, o ponto mais fora da curva da lista. Não por permanecer entre gêneros ou se encaixar em mais de um, mas por não se tratar de algo clássico ou fechado e acabar por ser um recorte, um conto aberto… em direção ao tormento.

2. Um Contratempo

Um Contratempo parece beber de algumas das melhores fontes que retratam crimes perfeitos, como o próprio Alfred Hitchcock e Agatha Christie, além de ter uma evolução progressiva que traz muito dos melhores suspenses de Brian De Palma e uma dinamicidade fácil que se assemelha aos bons textos de Sidney Sheldon.

A verdade é que Um Contratempo é construído com muita racionalidade, amarrado com cuidado e tem uma tensão crescente constante.

Cheio de reviravoltas, o filme espanhol do diretor Oriol Paulo conscientemente engana, reengana e engana novamente. Ele faz o coração do espectador acelerar e, sabiamente, tem uma leve despretensão, no sentido de que precisa que o público deixe de lado o que tem como verdades possíveis e aceite se submeter a uma história construída para entreter.

1. Silenciadas

Por acusação de bruxaria, cerca de 100 mil mulheres podem ter sido executadas durante a História. A maior parte delas era queimada viva, mas, caso alguma confessasse por qualquer motivo, poderia morrer por estrangulamento.

Silenciadas parece partir de um viés atual, no qual a caça às bruxas é vista como um genocídio do sexo feminino.

O que pode ser óbvio hoje — a menos que alguém acredite na retidão da Inquisição e desse extermínio que durou séculos — era uma forma de a Igreja enriquecer com os bens confiscados das vítimas e uma ferramenta para a sustentação masculina no poder.

Claro que, de todo modo, isso é só uma pequena síntese e, pelo mesmo viés atual, se o Humanismo e o Iluminismo contribuiriam para a diminuição dos julgamentos por bruxaria e os fariam terminar no século XVIII, isso não quer dizer que a matança acabou.

O filme dirigido por Pablo Agüero pode ter efeitos diferentes em cada um de nós, mas, dificilmente, ele sairá das nossas mentes de um jeito fácil. Quando existe essa resistência na memória, é porque os sentidos foram tocados e o filme, para o bem ou não, conseguiu se fixar.

https://www.youtube.com/watch?v=1oMJIAb1y9A

Agora, ficam aí os comentários para que possamos trocar indicações e ir criando uma corrente de filmes cada vez maior. Tenho certeza que vocês podem complementar e enriquecer tudo. Vamos conversando, debatendo.


Texto originalmente publicado em Canaltech

Sihan Felix

Sihan Felix

Sihan Felix é crítico de cinema desde 2008, sendo membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ) e cofundador e integrante da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN). Felix escreve para importantes mídias brasileiras, participa como jurado e palestrante em festivais dentro e fora do país, foi crítico de uma das maiores distribuidoras nacionais de clássicos e é contista. Além disso, quer comer gorgonzola sempre, mas a vida de professor de cinema e música o impede de ter muito contato.

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