Fernando de Noronha: dicas e custos para passar 4 dias na ilha

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Lembro do arrebatamento da versão cinematográfica do livro Fernão Capelo Gaivota, lançado em 1970 por Richard Bach. Tinha uns 16 anos quando assisti e a lembrança voltou recentemente ao visitar Fernando de Noronha. São inúmeras gaivotas residentes na ilha que, como a fábula setentista, se divertem em acrobacias e voos em consonância com a natureza e a liberdade.

Noronha transmite essa sensação. Um recanto vulcânico de apenas 26 km2 cercado de águas cristalinas e mirantes de paisagens deslumbrantes. Um deleite diário para três mil moradores. Embora para muitos ocorra o que chamam de “neurônia”, um saturamento pelo excesso de tranquilidade cercada de mar por todos os lados e provoque curtas temporadas desses nativos junto ao caos das metrópoles.

Sorte do turista uns poucos dias de completo desfrute. E pelos cinco dias passados na ilha (quatro noites), opino serem suficientes para uma ótima curtição. Nesse texto tentarei descrever essa estadia com dicas de passeios e valores praticados em Noronha. Importante um dado: este humilde editor tem 43 anos e um preparo físico razoável. As tantas ladeiras, o sol escaldante e as atividades consomem bastante. Então, levem isso em consideração. E também o mapa abaixo para situar cada local citado no texto.

Para começar: é preciso pagar uma taxa única de R$ 165 por pessoa cobrada pelo Parque Nacional de Noronha. Essa taxa é válida por 10 dias e permite acesso aos principais pontos da Ilha. Mas há outra taxa de preservação ambiental cobrada por cada dia de estadia. Pagamos R$ 79,20 no último dezembro de 2021, mas os valores de 2022 já foram reajustados e hoje cobram R$ 87,71. Mas não basta somar os dias. Há diferenciações conforme o número de dias hospedados. É prudente consultar AQUI a tabela ou mesmo já pagar por este site.

Optamos por pagar online ambas as taxas para evitar filas. Mas mesmo assim você precisa pegar, já em Noronha, uma carteirinha de acesso no CMBio, que fica vizinho ao Projeto Tamar. Você aproveita e confere informações sobre este importante projeto de preservação das tartarugas. Fica a aproximadamente dois quilômetros da Vila dos Remédios, região central da ilha onde está localizada a grande maioria das pousadas.

Pousamos no pequeno aeroporto de Noronha no meio da tarde de uma quinta-feira de dezembro. Traslado até a pousada, deixamos a bagagem e procuramos qualquer recanto simples para almoçar. O Restaurante da Mãezinha foi indicação local. Comida razoável e, como tudo na ilha, cara, dada a dificuldade na chegada ou produção local de insumos. Serviço no peso e a 100 reais o quilo.

Em seguida, descemos à Praia do Cachorro. É a praia mais central. Encontramos uma pequena trilha sem sinalização antes da escadaria de descida à orla. Resolvemos arriscar. A trilha nos levou às duas praias vizinhas: Praia do Meio, cuja maior atração é o Bar do Meio, famoso pelos preços absurdos (nativos o chamam de Barra do Euro!) e seguimos até a vizinha Praia da Conceição, point da ilha. Ficamos até o pôr do sol, uma das atrações do lugar, com vista para o famoso Morro do Pico, o ponto mais alto de Noronha com 323 metros, visto em qualquer ângulo da ilha.

Perto de findar o sol, retornamos à pousada. E haja ladeira. O trecho é curto, mas íngreme e carece algum preparo. Ou se pode optar por táxi (não há uber). Os preços são tabelados e este pequeno percurso custaria em torno de 30 reais. Dois ônibus fazem todo o trajeto da ilha, mas circulam apenas pela avenida principal. Seria outra opção caminhar até a parada e subir de ônibus por apenas R$ 5 reais. Dizem lá que eles passam a cada 30 minutos. Mas as duas vezes que usamos, esperamos um pouco mais.

A pousada São Silmares está localizada na Vila dos Remédios. Embora no centro, a localização quase no cume de uma ladeira, dificultou. É uma pousada simples, como quase todas do lugar, mas muito barulhenta, sem serviço de quarto ou atendimento. Foi escolhida pela agência e não indicamos.

Ilha Tour

No segundo dia, sexta-feira, optamos pelo Ilha Tour. O passeio faz uma geral em 80% de Noronha durante quase 10 horas, das 8h às 18h. É legal para se situar melhor. Um 4×4 com um “puleiro” na caçamba nos pegou na pousada com mais dois casais. Fomos inicialmente ao Museu do Tubarão, no extremo norte da ilha.

Museu do Tubarão

O Museu em si é pouco atrativo. Algumas imagens informativas e ossadas dentárias do peixe. Lá também funciona um bom restaurante. Mas melhor mesmo é o mirante em frente para a Enseada homônima. Também tem umas esculturas que valem fotos diferentes, como o trono de Poseidon ou a calda de uma sereia. Ali perto também se vê o Buraco da Raquel, uma abertura em meio a uma falésia e também a singela Capela de São Pedro, onde são realizados vários casamentos, muito mais em função da paisagem ao redor. Depois, uma rápida passagem pelo mirante da bela Praia do Leão, apenas para fotos.

Cacimba do Padre e Baía dos Porcos

Para a próxima parada é preciso informar que a Ilha é dividida em dois lados: o Mar de Dentro, onde ficam as praias mais bonitas e calmas, e o Mar de Fora, voltada ao Oceano Atlântico, também lindas, mas mais agitadas. Da Enseada dos Tubarões, por exemplo, por estar na ponta da ilha, dá para ver ambos os lados.

A sequência do passeio foi o mergulho com snorkel na Praia do Sueste, de aproximadamente 40 minutos e acompanhado pelo guia. Essa praia, junto com a da Atalaia e a do Leão, são as três do Mar de Fora. Também com águas cristalinas, o mergulho lhe proporciona a visão da vida marinha. Conseguimos ver duas tartarugas e uma raia pequena. Os equipamentos de mergulho podem ser alugados ou próprios. O aluguel estava R$ 40 o kit com nadadeira, máscara de mergulho e snorkel. A unidade sai a R$ 20.

cacimba do padre
Praia Cacimba do Padre

Depois fomos à Cacimba do Padre, que fica no meio da extensão do Mar de Dentro e onde se vê mais de perto um dos maiores cartões postais da ilha: o Morro Dois Irmãos. Parada para fotos na praia e após uma curta subida entre falésias, também mais imagens em um mirante com vista à paradisíaca praia Baía dos Porcos.

A Baía dos Porcos é menos frequentada em decorrência do acesso mais difícil. Não está inclusa no Ilha Tour. É preciso vencer uma caminhada entre pedras vulcânicas na maré seca para desfrutar da sensação de estar em um aquário gigante também com vista para o Morro Dois Irmãos. Fomos lá em um dia livre.

Morro Dois Irmãos ao fundo, a partir da Baía dos Porcos.

Nem Point da Cacimba nem Águas Claras

O almoço programado seria no Point da Cacimba, na praia Cacimba do Padre, famoso pelo peixe servido em uma folha de bananeira. Mas estava fechado para reforma. Voltamos lá no dia seguinte após longa caminhada, mas o dono não havia chegado em pleno pingo do meio dia e o garçon avisou que só sairia tiragosto. Pedimos dois do cardápio e nenhum estava disponível. Desistimos. Mas com o “Point” da Cacimba em reforma, o guia nos levou ao restaurante Águas Claras e nos proporcionou a pior ou talvez única experiência realmente ruim na ilha. Esperamos mais de uma hora por quatro pedaços pequenos de posta de peixe extremamente salgada, acompanhado por feijão e arroz caseiro. Tudo por incríveis R$ 195.

Praia do Sancho

A recompensa viria depois. Fomos direto ao mirante da Praia do Sancho, vizinha à Baía dos Porcos e considerada a mais bonita do mundo por três vezes. O acesso é agendado e se dá pela estrutura montada pelo Parque Nacional Marinho. Há um estacionamento, seguido por uma loja de souvenir do Ibama. Em seguida você encontra três opções: uma trilha de 1 km de extensão até o Mirante dos Golfinhos. A segunda te leva diretamente à descida para o Sancho, com 500 m. E a terceira e mais longa, com 1,2 km, vai ao Mirante Dois Irmãos. Todas as opções com acessibilidade para cadeirantes.

Foto: cvc.com.br

Mas, a cereja do bolo é o pé na areia, o banho de mar. E como nem tudo são flores, há uma descida de 208 degraus até a praia, sendo um trecho de escada vertical de ferro encravada em um buraco na rocha de aproximadamente 10 metros. O resto são degraus de pedra já com vista à praia. As subidas e descidas à praia ocorrem a cada 40 minutos. O banho de mar é delicioso. As águas translúcidas e a paisagem cercada por rochedos é mágica, mas as ondas são razoáveis e é prudente permanecer em uma fundura segura.

Mirante do Boldró

O Ilha Tour finda no cair da tarde no Mirante do Boldró, um pouco antes da Cacimba do Padre e com vista para o Morro Dois Irmãos. O lugar é muito disputado. Estava razoavelmente cheio e na beirada do monte há certa aglomeração para uma visão mais livre do pôr do sol. Na sexta-feira que fomos havia música ao vivo. No local também há um bar e banheiro.

Canoa Havaiana

No sábado desfrutamos da Canoa Havaiana, o nosso segundo dos três passeios que contratamos junto à agência Encantos de Noronha. Foi a que encontramos os melhores preços de pacote, talvez por ser mais nova, e o serviço foi a contento. Indicamos!

Há o passeio no nascer da manhã e no fim de tarde. Optamos por acordar beeem cedo e pouco depois do horário agendado às 5h, o carro da agência nos pegou na pousada rumo à Praia do Porto. Ainda estava bem escuro. Em Noronha, o sol se põe mais tarde. O guia pede para deixar pertences como sandália, em uma caixa, disponibiliza os coletes obrigatórios e dá as orientações para o passeio.

A canoa havaiana possui 12 lugares, sendo 6 em cada lado. O passeio tem 6 km e passa pelas praias centrais do Cachorro, do Meio e Conceição, quando há a parada de 30 minutos para banho e mergulho. E se nesse mergulho não se vê vida marinha, apesar das águas claras, na volta do passeio, com o sol já no poente, a presença de dezenas de golfinhos abrilhanta o passeio. Um momento realmente marcante. A chance de ver golfinhos no passeio é bem alta.

O passeio também passa pelo chamado “rugido do leão”, um estrondoso urro provocado pelo vai e vem de ondas em um rochedo – bem curioso!

canoa havaiana em noronha

A Canoa Havaiana exige pouco esforço físico e, apesar do cansaço do dia anterior e precisar acordar super cedo, vale muito a pena. É um contato mais íntimo com o mar de Noronha e com os golfinhos, além, claro, do nascer do sol, que neste dia estava um pouco encoberto por nuvens. Caso leve o celular para boas imagens, recomendamos um protetor contra água! E um alerta: mesmo com a GoPro não é permitido mergulhar o equipamento na água quando há golfinhos próximos.

É pouco comum, mas minha companheira apresentou leve enjoo no passeio. Foi a única entre os 12 tripulantes. Então, há essa possibilidade.

Entre chegada à Praia do Porto e volta à pousada, o passeio dura pouco mais de três horas. Portanto, retornamos próximo às 10h, ainda a tempo do café da manhã na pousada. Depois, breve descanso até a hora do almoço. Seguimos outra dica local e fomos até o Restaurante do Jacaré, próximo à escadaria de acesso à Praia do Cachorro. Comida caseira servida à vontade por R$ 45. Em seguida, tome ladeira com sol no lombo de volta à pousada.

Entardecer vip

No mesmo dia fechamos o terceiro e último passeio contratado: o Entardecer Vip. Também foram momentos inesquecíveis. Um pequeno catamarã nos esperava na região portuária da ilha. Esperamos uns 30 minutos até o embarque junto a outras 20 pessoas.

A cereja do bolo desse passeio é a prancha a reboque numa velocidade de até 3 km/h. Você segura uma prancha daquelas típicas de natação. Você tem o controle para inclinar a prancha para mergulhar durante o reboque e conferir a beleza marinha nos redores da região portuária, ou permanecer na superfície e conferir também as belezas paisagística de Noronha. São aproximadamente 20 minutos na prancha. Você vai acompanhado de até 7 pessoas, cada uma com a sua.

Em seguida, passagem pelas praias do Cachorro até a Cacimba do Padre para fotos próximas ao Morro Dois Irmãos, já no pôr do sol. Na volta, parada para banho na Praia da Conceição, quando é servido também o churrasco de peixe acompanhado de pão de alho e salada.

O passeio dura aproximadamente três horas e realmente é contraindicado a pessoas que enjoam com o balançar das ondas. Entre os 20 tripulantes, pelo menos umas cinco enjoaram, desde jovens a idosos.

Para quem aguenta o tranco, a experiência é fantástica!

Onde jantar

Essa retranca será incompleta. Explico. Nossa intenção era jantar no elogiado restaurante Xica da Silva, bem atrás da nossa pousada e considerado dos melhores restaurante da ilha. Se pagaria mais caro – ainda mais! – mas pelos comentários, se comeria muito bem. Mas nas duas vezes que passamos em frente, entre 19h e 20h, havia fila para entrada e optamos por sanduicherias. Fomos à Dom Black, na esquina na pousada. Tem um bom sanduíche e ótimo serviço. Preço médio de R$ 55. A outra, a Burgueria Noronha, também próximo, ao lado da Praça Flamboyâ, achamos mais gostoso e um pouco mais barato, com média de R$ 45. Apenas não há serviço de garçon. É no estilo pague, espere e pegue no balcão. Vale a pena!

No domingo soubemos de um luau no Museu do Tubarão. Veja mais acima que informamos ter um bom restaurante e uma enseada com vista deslumbrante. Seria uma pedida irrecusável. Era uma festa privada com DJ e banda de forró. A mesa era reservada por R$ 300 revertidos em consumação. Não deu outra. Pegamos um ônibus que nos deixou praticamente em frente. Comida realmente muito boa e uma lua cheia rainha do lugar, multiplicada no mar de Noronha e vista de um mirante. Pedimos isca de peixe, escondidinho de carne de sol, petit gateau e bebidas. Deu quase o valor total. Apenas não nos foi informado que, além dos R$ 300 da mesa, havia ainda um cover de R$ 70 pelas atrações musicais. Mas valeu a pena.

Agende as trilhas antes!

Ainda no domingo, com o dia livre, fomos até o CMBio para agendar a trilha curta do Atalaia, de apenas 1 km e com acesso a uma belíssima piscina natural, ideal para mergulho e momentos relaxantes após algumas aventuras. Mas, o Centro estava fechado. Não sabíamos do horário a partir das 16h e ficamos sem esse passeio. Pegamos mais um ônibus e fomos até a Praia da Cacimba para, de lá, tentar atravessar as falésias e chegar à Baía dos Porcos para um banho igualmente delicioso.

Mas, outra dica valiosa. O ônibus para na BR e o caminho até a Praia da Cacimba é extenso, em uma estrada empoeirada de pedregulhos. Conseguimos uma carona já próximo ao local. Talvez seja a hora de desembolsar uns trocados a mais e optar por um táxi para chegar ao destino.

Buraco do Galego

O Buraco do Galego era mais uma piscina natural de Noronha – de acesso mais chatinho que outras – até o menino Neymar tirar uma foto com a então namorada Bruna Marquezine em 2015. Pronto, a foto recebeu milhões de curtidas e o local passou à badalação. Mas, empurrão a parte do garoto, o lugar é realmente belo e rende fotos incríveis. Foi nosso despedir de Noronha.

No quinto e último dia, na segunda pela manhã, descemos a escadaria da Praia do Cachorro. Já com pé na areia já se enxerga à direita uma fenda na rocha e um caminho de arrecifes até lá. Provavelmente haverá movimentação de pessoas no local. Isso se a maré estiver baixa, a única forma de acesso ao Buraco do Galego (ou pelo menos a única forma recomendável). Quando a maré está alta se torna muito perigoso. Inclusive, em uma das lojas de souvenirs que fomos, a atendente alertou que um policial havia morrido há três meses por lá.

Na manhã de segunda já havia uma fila. Portanto, se quiser tirar uma bela foto, ok. Tira e sai. Mas curtir o banho na piscina natural é bem difícil justo pela procura acentuada. E se demorar na foto ainda escuta reclamação. Eu resolvi subir no ponto mais alto da rocha para mergulhar de cima. Da um medinho! (rs). É um pouco alto, acredito que uns sete ou oito metros de altura para um “buraco” de apenas 2,5 metros de diâmetro e 3 metros de profundidade.

Como minha companheira não se arriscou a ir, fiquei sem a bela foto próxima, mas com a experiência e a sensação do pulo. Aliás, dois, porque no primeiro ela sequer conseguiu filmar e eu tive que repetir a dose! (rs). Depois, subir a escadaria, as ladeiras e o último banho em Noronha, desta vez no chuveiro da pousada. Pedimos um delivery para almoço no Bar do Valdênio, uma quentinha excelente por R$ 30, com peixe, arroz, feijão, salada, macarrão e purê. Recomendadíssimo! De bucho cheio, rumo ao aeroporto.

The dream is over.

Sérgio Vilar

Sérgio Vilar

Jornalista com alma de boteco ao som de Belchior

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