por Eliano
Eis a minha primeira publicação literária e já não era sem tempo. Não fosse agora, talvez não publicasse jamais estes poemas – a não ser no facebook. Não fosse Jack D’ Emilia, o italiano mais potiguar que eu conheço, com seu entusiasmo, talvez não me sentisse tão à vontade com relação a essa publicação.
Estou em transição. Sempre estive, quer seja na música ou na escrita. E este opúsculo demarca uma maneira de escrever que já não é a mesma dos poemas mais recentes. “Quase não me recupero dos golpes que seus olhos me deram” traz poemetos que capturam instantes com poucas palavras. Sempre fui um sujeito de poucas palavras, contido, tímido… e esse comportamento, eu acho, é refletido na forma, mas não no conteúdo, pois mesmo falando pouco, falo sobre o profano, o mundano, a sem-vergonhice, a carne e o sexo, como pessoas sonsas falam.
Este não é um livro de amor, mas é também um livro de amor. Isto nem é um livro, mas é o meu primeiro livro.
O livro foi diagramado pelo poeta e editor Victor H. Azevedo. Foi lançado pelo selo FLIPAUT no Festival de Literatura Alternativa de Pipa dia 08/12. O prefácio é do poeta João Batista de Morais Neto, vulgo João da Rua.
Prefácio:
“Eu gosto do poema curto, conciso, bem arrumado. Pra mim, poesia é isso, contenção. As imagens representadas em poucas palavras. Tangencio o discurso longo, textão, todo prosa cheio de metáforas, uma lagoa de 500m de profundidade. Sou mais um lago Bashô, de um profundo claro, sonoro, palavra miúda, sem afetação. Não fujo do Whitman, vigoroso, voz da nação, tanto amor e tanta paixão pelo outro. E que outro!
Pois Eliano é a nossa canção que faço pra você, tecendo melopeias ao prazer, com a graça do carinho moderno, como o batom daquela canção sobre papéis de chocolate, de braço dado com o meu bem. Em ‘Quase não me recupero do golpe que seus olhos me deram’, o poeta cancionista erotiza o texto na superfície da pele. O corpo emerge o tempo inteiro na tessitura dos versos. É palpável, acariciável, porque “nexo é transformar o tédio em sexo”. A juissance deita e rola ao longo de poemas breves e intensos como a “erupção num vulcão adormecido”.
“pensamentos e cidades” é uma percepção lírica do flagrante presente fugidio cotidiano, como em Luiz Melodia.
Mas tudo é concreto na poesia de Eliano. Não exatamente em suas formas, mas no que é visível através das palavras, no exercício da corporeidade de uma fala poética que traz a vida em suas cintilações e densidades.
Porque um poeta não tem currículo, só vida”
(João Batista de Morais Neto)
Outros comentários de grandes artistas de Natal:
“Achei-o muito instigante, com trânsito livre entre a autoorreferenciação, característica bem própria da poesia dita marginal e um lirismo despojado de pudores que às vezes soa cínico, o que muito me agrada.
Acho, pessoalmente que tem força lírica, cujo ritmo permite-nos ao mesmo tempo descansar no poema lido ansiar pelo que vem. Isso é muito bom, cria uma ” força motriz” própria de bons poemas. Para mim, fica claro também, em certos momentos um deslocamento do eu lírico em poemas que aparentemente emergem de um encantamento amoroso, às vezes feminino, às vezes masculino. Alguns parecem que foram escrito pela musa (Mar)riane. Coisas de poeta.Mande bala. O livro é muito bom, de bons poemas, tem força lírica, incomoda, e isso é o que importa.”
Artemilson Lima, artista, músico e tem doutorado em poesia da década de 80 em Natal.
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“Minha vida tem urgência de golpes poéticos. E gosto quando quase não me recupero. Gosto quando a palavra me nocauteia de aranha e me deixa preso a ela. Assim, há sim, me em tonto aqui, nesses estados ali – estados aliterados da mente. Gosto de palavras brincantes de sílabas outras. Eliano, mágico, transforma verbo em qualquer coisa dentro doída, faz ilusão de métrica, faz análise sem tática só pela foto-síntese do poema. Me deixa com fome de vim ver. Esse livro, mordo. Me em dente, fico.”
Carito Cavalcanti, poeta e multi-artista.