Em 2013, Breaking Bad chegava ao fim após cinco temporadas. O episódio Felina findava uma série que, se antes já era considerada uma das melhores produções para televisão já realizadas, acabava com tudo concretizado. Ali a produção criada e guiada por Vince Gilligan entrava, para muitos, no grupo de outros marcos para TV, como The Sopranos e The Wire.
É interessante perceber como a tensão e o drama, mantidos até as cenas finais, não se apegam às resoluções de pontas. Por que resolver algo que pode ficar em aberto como conclusão? Por outro lado, com o lançamento de El Camino: A Breaking Bad Film, isso dá margem para reviver questões que ficaram lá em 2013. Será que o filme irá expandir a criação de Gilligan como fez (e faz) tão bem a série derivada Better Call Saul? Como estarão as pontas soltas? Será que vão resolver ou elas permanecerão no imaginário?
Cuidado! Daqui em diante o texto pode conter spoilers de Breaking Bad!
1. O que aconteceu com Jesse?
Pelos trailers de El Camino: A Breaking Bad Film, dá para entender que teremos a resposta desse primeiro ponto. Até porque é óbvio que Jesse (Aaron Paul) não poderia retornar para uma vida comum. Procurado e provavelmente com um famigerado vídeo feito por Hank sob posse da D.E.A. (a Administração de Repressão às Drogas), o parceiro de Walter White (Bryan Cranston) deve ainda estar fugindo e tentando sobreviver de alguma forma. Se ele permanece no mesmo ramo… é possível. It’s science, bitch!
2. Como ficou Skyler?
A última vez em que Skyler (Anna Gunn) é vista na série é quando Walter confessa seus piores crimes a ela. Cedendo as localizações de corpos com o intuito de livrar a esposa de ser processada – caso ela aproveite as informações da melhor forma –, Walter (ou seria Heisenberg?) parece ceder um testamento. E isso dá margem para que o desenrolar de Skyler possa ganhar um desenvolvimento no filme.
3. E a relação de Marie com a irmã?
A irmã de Skyler, Marie (Betsy Brandt), tem um telefonema como sua cena final na série. Ela, assustada, avisa à irmã sobre o retorno de Walter à cidade. Mas ele, já na cozinha com a esposa, cede margem para que Marie deduza que o envolvimento de Skyler em toda a trama esteja muito além da inocência. Dado o papel de Heisenberg no desfecho de Hank (o esposo de Marie interpretado por Dean Norris), o relacionamento entre as irmãs pode ter ficado muito abalado (no mínimo). É mais tempero dramático e de tensão para El Camino: A Breaking Bad Film.
4. Onde está todo o dinheiro de Walter?
Jack (Michael Bowen), o tio neonazista de Todd (Jesse Plemons), roubou um bocado do dinheiro de Walter com sua gangue. Com Jack sendo apagado por Walter antes de revelar o paradeiro do valor, é possível que Jesse esteja voltando para resgatar esse dinheiro… o que o faria ir atrás de pistas até encontrar el camino.
5. Será que Walter realmente morreu?
A última cena de Breaking Bad parece deixar bem claro que Walter e Heisenberg estão ali, sem vida, onde tudo começou: em um laboratório. É o encerramento mais digno para um personagem tão controverso, um anti-herói (ou herói e vilão ao mesmo tempo) tão icônico. Ainda assim, os olhos sem vida e a hemorragia podem não ter sido um fim. Existe a possibilidade remota da chegada de paramédicos e, com isso, a manutenção da vida da personagem de Cranston.
Nesse sentido, dá para ir além. Caso ele esteja vivo, estaria fazendo experiências científicas em uma prisão especial? Teria conseguido fugir e retomado a parceria com Jesse para um último trabalho (que pode ser o do ponto anterior – resgatar todo o dinheiro)?
Outra indicação da existência dessa possibilidade remota é o trailer divulgado recentemente (este mais abaixo). No final, escuta-se a voz de alguém perguntando para Jesse: Are you ready? (Você está pronto?). A voz, mesmo permanecendo incógnita, tem um timbre muito parecido com o de Cranston. Então… será que veremos Heisenberg de volta à ativa uma última vez?
Essas são algumas das questões que El Camino: A Breaking Bad Film pode responder (ou não). A verdade é que Breaking Bad ficou no imaginário de muita gente e conquistou fãs tanto pela sua qualidade de roteiro e sua proximidade à linguagem de cinema quanto pela sua facilidade de segurar a atenção.
Tudo poderia ter sido finalizado ali, em 2013, mas, mesmo que esse retorno escancare o sentido comercial dada a popularidade da série, é possível que o trailer esteja muito certo quando diz que o filme não se trata somente de uma obra isolada, trata-se de um evento, capaz de reunir fãs, conquistar novos adeptos e, de quebra, fazer um trabalho de excelência ser revisitado.
Aguardemos para descobrir se essa estreia responderá questões (sem ter a obrigação disso), desenvolverá outro caminho (um mais independente – o que deve ser difícil) e, acima de tudo, se fará jus a uma das melhores produções televisivas da história. É uma posição bem delicada, mas, como é escrita e dirigida pelo próprio Gilligan, dá para plantar uma sementinha de confiança.
FOTO de Capa: Ben Rothstein/Netflix
Texto originalmente publicado no Canaltech