Corria o ano 1992, um bando de artistas malucos se abrigava em Mãe Luiza para engrossar o caldo da campanha a vereador do Doutor Zizinho, que tinha como marca aglutinar, músicos, pintores, escritores da cena underground: Zé Avelino, Geraldo Carvalho, Pedro Pereira, Luciano Almeida, Cláudio Damasceno Assis Marinho, Blackout, entre outros, faziam parte da fauna.
Fizemos naquele QG cultural, com direito a todos os tipos de rango, regado à muita música, birita e o setor progressista, uma das mais belas campanhas que se viu na cidade.
No meio desse bando estava Dorian Lima, pau pra toda obra. Panfletamos, pintamos, colamos cartazes, produzimos shows de adesão, festejando com todas as milongas possíveis.
Nossa onda era ativa 24 horas, todos juntos, comendo e dormindo lá mesmo. Certa noite algum doido esqueceu de fechar a torneira da pia da cozinha. Nem é preciso dizer que de madrugada a casa estava com agua acima da canela. Acordei molhado no tapete em que dormia no chão. Pulei, cutuquei Dorian, que se esticava no beliche ao lado. Tentamos, sem sucesso, fazer com que Pedro Pereira nos ajudasse. O pintor das flores apenas olhou a cena, virou-se e voltou a dormir.
Passamos o resto da madrugada empurrando o aguaceiro pra fora na base de vassouras e rodos.
Em quase todos os nossos encontros sempre relembrávamos, às gargalhadas, a história do “Tapete navegador” da campanha de 92.
Lembramos mais uma vez na última sexta quando o vi na Fundação José Augusto pela última vez.
Vejo alguns companheiros de jornadas partindo aos poucos. Uma sensação de finitude preenche nossa alma e amarga o coração.
Dorian tem seu lugar na história cultural da cidade pelo Aluá, pelo MPBeco, pela Samba, pelo ativismo em favor do Centro Histórico.
Com sua camisa do tricolor da laranjeiras, cigarro derby no canto da boca, cerveja no copo e jeito irônico e inteligente de ver o mundo, sempre nos abria um sorriso malandro.
Porra, Dorian, não estava combinado você ir tão cedo.
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Parabéns, ao Moisés de Lima e ao Papo Cultura, por essa matéria que resgata Dorian, no histórico cultural da nossa cidade Natal!