Discos que Mudaram Minha Vida #4
Pet Sounds – 1966
por Giancarlo Vieira
No início havia a banda… e a fábula do verão infinito da Califórnia. E as doces harmonias dos irmãos Wilson: Brian, Carl e Dennis apoiados pelo primo Mike Love e pelo agregado Al Jardine.
O Surf Rock era pura alegria e arrebatamento juvenil nos anos de ouro do “século sanduíche” de Eric Hobsbawn. Praias, festas, carrões, a garota perfeita… Little Surfer Girl…
Mas havia Brian. O menino com voz de menina. O arquiteto das harmonias. O inquieto. O tristonho. O sonhador. O ambicioso. O louco.
O sucesso comercial arrebatador do grupo não foi o suficiente para ele. Depois de um colapso nervoso no meio de uma turnê e inspirado no brilhante Rubber Soul dos Beatles, Brian arquiteta o espetacular single Good Vibrations. Não foi o bastante. Determinado em elaborar uma obra que superasse a revolução da invasão britânica nos EUA, ele dispensa os membros da banda e se cerca de músicos de formação erudita e trabalha letras e músicas com Tony Asher, um amigo especialista em jingles. “Pet Sounds” começa a surgir. Experimentações variadas, estranhos sons de animais, instrumentos inusitados. Tudo aqui se funde numa alquimia desenfreada de beleza e loucura emoldurada em letras instigantes e melodias. E que melodias… lindas, tristonhas, impactantes, brilhantes.
Da alegre abertura de “Wouldn’t It Be Nice” ao fechamento com a reflexiva “Caroline No” tudo se transforma em expressão do sublime em “Pet Sounds”. Paul McCartney, amigo e rival de Brian, declararia mais tarde que “God Only Knows” é sua canção predileta de todos os tempos.
O álbum foi lançado em 1966, assustando críticos e decepcionando os fãs tradicionais da banda. Um ano depois, os Beatles lançariam Sgt Peppers e Brian cairia num terrível estado de desintegração mental e física. Ficaram sonhos e sons. O álbum é hoje aclamado como um dos mais perfeitos já lançados.
E Brian Wilson?
Um menestrel renascentista perdido no século XX? Um Van Gogh encharcado de Rock’nRoll? Nada disso parece ter importância.
Ao contrário de todas as previsões, ele continua entre nós. Compondo, cantando, sonhando.