Coxinha de asno

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É história conhecida que, durante os anos de ditadura no Brasil, os jornais publicavam receitas todas as vezes em que tinham uma notícia vetada pela censura.

Eu, que tenho evitado escrever sobre política por uma questão de saúde, resolvi publicar uma receita sempre que me encontrar desejando sobre o tema.

Por isso, trago para a coluna de hoje a coxinha de asno.

Ingredientes:

Aproximadamente 80kg de carne de asno (de preferência, um asno com histórico de atleta);

39kg de farinha branca transportada em avião oficial da FAB;

Picanha e leite condensado aos milhões;

Doses inacreditáveis de violência institucional e discursos de incitação à violência;

Viagra e próteses penianas até dar ponto de sustentação;

Piadas horrorosas, machistas, misóginas, racistas e muito preconceito para polvilhar.

Modo de preparo:

Disponha a carne de asno por quatro anos em Brasília, mas sem trabalhar muito para que não fique resistente. Misture todos os ingredientes adquiridos através do cartão de crédito presidencial ou de compras em nome das Forças Armadas Brasileiras.

Cozinhe em fogo brando até gerar crises insustentáveis. Sustente um pouco mais. E mais um pouco. Um pouco mais, até que ultrapasse todos os limites do que é aceitável. Continue aceitando.

Faça um bolo com a massa e deixe que descanse em motociatas que se configuram campanhas fora de época. Finja que não eram campanhas. Modele a coxinha com o centrão, ameace as instituições democráticas e minta o tempo inteiro. Faça trocas e demissões de delegados para proteger a corja que segue a coxinha, incluindo a família, distribua aos milicianos e espere que o Procurador Geral da República finja demência.

Polvilhe as piadas e o preconceito a gosto. Mau gosto, aliás.

Agora é só colocar tudo sob sigilo de cem anos e está pronta para servir.

Uma observação importante:

Não engula.

Theo Alves

Theo Alves

Theo G. Alves nasceu em dezembro de 1980, em Natal, mas cresceu em Currais Novos e é radicado em Santa Cruz, cidades do interior potiguar. Escritor e fotógrafo, publicou os livros artesanais Loa de Pedra (poesia) e A Casa Miúda (contos), além de ter participado das coletâneas Tamborete (poesia) e Triacanto: Trilogia da Dor e Outras Mazelas. Em 2009 lançou seu Pequeno Manual Prático de Coisas Inúteis (poesia e contos); em 2015, A Máquina de Avessar os Dias (poesia), ambos pela Editora Flor do Sal. Em 2018, através da Editora Moinhos, publicou Doce Azedo Amaro (poesia).

Como fotógrafo, dedica-se em especial à fotografia documental e de rua, tendo participado de exposições que discutiam relações de trabalho e a vida em comunidades das regiões Trairi e Seridó. Também ministra aulas de fotografia digital com aparelhos celulares em projetos de extensão do IFRN, onde é servidor.

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