Clarice e a flor mulher

clarice lispector

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O antissemitismo oficial da Rússia czarista, apesar de ser rejeitado pela Revolução de 1917, persistiu após essa ruptura histórica. Já a partir de 1919, agravou-se a perseguição aos judeus, com violências físicas e confiscos de bens. Isso resultou em forte emigração de judeus russos, principalmente para os Estados Unidos.

A família judaica de Pinkhas (Pedro) Lispector, a mulher Mania e as filhas Elisa e Tânia, optaram por emigrar da Ucrânia para o Brasil, até porque alguns parentes já moravam no país, e, na viagem, tiveram de fazer uma parada na cidade ucraniana de Tchechelnik, para Mania completar um trabalho de parto. Nascia, assim, Clarice Lispector, a maior escritora brasileira, e uma das maiores do mundo, segundo diversos críticos literários. Nasceu no dia 10 de dezembro de 1920, e faleceu, no Rio de Janeiro, a 9 de dezembro de 1977, tendo como causa um câncer de ovário.

Clarice Lispector tinha grande amor pela natureza, o que demonstrou nas suas diversas formas de se expressar pela palavra escrita. No livro “O Rio de Clarice”, a autora, Teresa Montero, reporta-se aos cinco anos (dos 15 aos vinte anos) que Clarice morou na Tijuca, bairro de pródiga vegetação, e à influência que este fato exerceu sobre a famosa escritora. Em uma parede da casa de C.L., havia uma foto do Açude da Solidão, localizado na Floresta da Tijuca, e, sob a foto, constava: “O painel ocupará um lugar especial na casa. E é mesmo meu! Nele, no meu açude, me banho toda”.

No mesmo livro, Tereza Montero se refere ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro, um lugar preferido para os passeios de Clarice.

De fato, ela adorava o Jardim Botânico, muito presente nos seus textos, tais como no conto “Amor”, que integra o livro “Laços de Família”, 1960, e na linda crônica “O ato gratuito”, publicado no Jornal do Brasil, de 8 de abril de 1972.

Da crônica, colhi pequeno trecho: “Eu ia ao Jardim Botânico para quê? Só para olhar. Só para ver. Só para sentir. Só para viver (…) Tudo se erguia em direção ao céu”.

No tocante às flores, também muito presentes nos textos claricianos, destaco as passagens constantes no livro “Água Viva”, de 1973. A autora descreve sua visão sobre diversas flores: “Rosa é a flor feminina (…) Seu perfume é mistério doido. Quando profundamente aspirada, toca no fundo íntimo do coração e deixa o interior do corpo inteiro perfumado. O modo de ela se abrir em mulher é belíssimo. As encarnadas são de grande sensualidade. As brancas são a paz de Deus”.

E Clarice se alonga ao citar vários tipos de flores. Para ela, o cravo é agressivo, o girassol gira sua enorme corola para o lado de quem o criou, as violetas dizem levezas que não se podem dizer. E desfilam mais de uma dezena de diferentes flores, cada uma com seu adendo de profunda sensibilidade, até chegar à Vitória-régia, a um tempo majestosa e simples. Mas, antes, falou da orquídea, que já nasce arte e é mulher esplendorosa.

Daladier Pessoa Cunha Lima

Daladier Pessoa Cunha Lima

Primeiro reitor eleito da UFRN. Exerceu o cargo de 1987 a 1991. Graduado em Medicina pela UFRN (1965), tem especialização em Medicina do Trabalho e Administração Universitária, com vivência em instituições universitárias no exterior. Ao se aposentar, abdicou da Medicina e optou pela Educação, tendo se dedicado à instalação da FARN, atual UNI-RN, no ano de 1999. É, ainda, membro da Academia de Medicina do RN e do Instituto Histórico e Geográfico do RN. É autor dos livros Noilde Ramalho – uma história de amor à educação e Retratos da Vida, além de outras publicações. E em abril/2017 foi eleito para a cadeira nº 3, da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

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