Na história da literatura norte-rio-grandense, poucas obras de ficção, sobretudo na área do conto, obtiveram considerável êxito de crítica e de público como o livro Chão dos Simples, de Manoel Onofre Jr. Publicado pela Editora Clima originalmente em 1983, portanto, há 40 anos.
Em comemoração ao lançamento da primeira e única obra do autor na área ficcional haverá uma exposição, organizada por Ângela Almeida e Manoel Onofre Neto, também em homenagem aos 80 anos do escritor, no dia 22 de julho, a partir das 10 horas da manhã, na Pinacoteca do Estado.
Sobre Chão dos Simples, se porventura alguém acha que o livro teve uma modesta recepção à época em que foi lançado, pelo menos da parte do público, vale destacar que a crítica foi bastante generosa com a obra. Escritores do porte de Anchieta Fernandes, Nelson Patriota e Veríssimo de Melo enalteceram o valor dos contos, que foram ganhando cada vez mais leitores com o passar dos anos, basta observar a fortuna crítica do livro, a qual informa que o mesmo foi utilizado em sala de aula quando da sua primeira edição pela poeta e professora Anchella Monte. Quarenta anos depois, a realidade se ampliou e a obra já é trabalhada por diversos docentes nos quatro cantos do Estado, inclusive também na Paraíba onde um grupo de alunos da pequena cidade de Logradouro, fizeram uma espécie de livreto, baseado em alguns contos do livro.
Interessante notar, como já dissemos, que o Chão dos Simples, com o passar do tempo, foi se enraizando, ou melhor, mantendo-se dentro da nossa tradição literária com bastante fôlego, e surgiu em segunda edição (1998), portanto quinze anos depois do seu lançamento, com um novo apelo, principalmente por outro motivo ilustre: ter vários dos seus contos adaptados para o teatro pelo ator e teatrólogo Lenício Queiroga, dando origem a Chão dos Simples – A Peça, a qual foi encenada, primeiramente, no Teatro Alberto Maranhão, em Natal, e depois na cidade de Caruaru (PE).
A obra ganhava assim novos admiradores, continuando a receber elogios, como por exemplo, os do crítico literário paraibano Hildeberto Barbosa Filho, que escreveu, na ocasião, artigo para o jornal “O Norte” de João Pessoa-PB, em destaque o seguinte trecho: “A maneira de narrar, em Manoel Onofre Jr., é linear, novelesca. Estribado no modelo clássico do narrador oral, o escritor tende a modular, com o jeito à vontade de Trancoso, ou mesmo dos contistas célebres dos séculos XIV e XV, como Boccaccio e a Rainha de Navarra o movimento da ação, pondo em pauta principalmente o acontecimento-surpresa, o episódio inesperado, o que faz rir ou chorar, não importa, sempre, contudo, consciente dos poderes sugestivos das experiências vividas. O estilo, por sua vez, se caracteriza: primeiro, pela precisão vocabular, entrevista sobretudo na recuperação de ditos e falares regionais que imprimem à frase aquele sabor típico de água de cacimba; segundo, pela clareza, concisão e habilidade no recorte verbal”.
Com duas edições bem sucedidas, passaram-se vários anos, até que em 2014, movido sobretudo por um apelo da nova geração de leitores, com incentivo nosso e dos escritores David Leite e Clauder Arcanjo, o autor atendeu convite da editora Sarau das Letras para fazer a terceira edição, dessa vez revista e ampliada, capa dura, e novamente tem êxito, de modo especial com alcance à juventude, nas escolas, mostrando que não perdeu o encanto com o passar do tempo, dada a maneira de contar histórias, em linguagem simples, despojada, no mesmo nível de outro grande contista potiguar, Bartolomeu Correia de Melo.
Em 2017, Chão dos Simples chegou a sua quarta edição, pela Editora Bagaço, de Recife, e foi no mesmo ano adaptado para o cinema através do escritor e cineasta Rui Lopes, que escreveu e publicou o roteiro sob título homônimo.
Chão dos Simples tornou-se livro de leitura em disciplinas do mestrado e doutorado na UFRN, com vários dos seus contos amplamente discutidos, e objeto de estudo, em três dissertações de mestrado, dos pesquisadores Simara Ribeiro, Gilvan dos Santos e Sara Costa, todos estes orientados pelo professor Dr Derivaldo dos Santos.
É interessante observar como a obra vem ganhando novos leitores, sobretudo jovens, em busca de conhecer um sertão que não mais existe. E voltamos a afirmar o que já havíamos dito no prefácio da terceira edição: As narrativas de Chão dos Simples continuam atemporais e modernas.
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