Black Fraude Cervejeiro: quem nunca?

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Quem nunca caiu num Black fraude que atire a primeira pedra! Será que seremos para sempre reféns de promoções mequetrefes ou do Celso Mussolini (Russomano) para fazer valer nossos direitos de consumidor? Triste constatar que Black Friday é algo que não existe, tal como Papai Noel ou paulistano que não adora um Tucanistão.

Friday ou Fraude?

Brasileiro é um espécime engraçado mesmo, sofre de uma síndrome de vira-lata e adora importar coisas, seja capinha de celular da China pelo AliExpress ou festividades que não são suas, como o Black Friday norte-americano (nesse caso, esqueceram de importar também o feriado que a antecede, o Thanksgiving, ou, dia de ação de graças).

O ponto é que importamos certas “culturalidades” de uma maneira bem chinfrim, subalterna, mal feita e pela metade. Enquanto os americanos se empanturram de comidas, tendo como a base o peru, na quinta-feira que antecede à liquidação de estoque, nós apenas pagamos o pato de aceitar qualquer produto encalhado pela metade do dobro, e isso vale principalmente para os produtos cervejeiros.

Tudo pela metade do dobro – ou o dobro sem limites

Nessa última Black Friday eu vi de quase tudo: vi grandes cadeias de supermercado local aplicar 30% de desconto em cima do valor cheio de um produto que já estava quase 70% mais barato na véspera (e dizem que quem morre de véspera é o peru, mas, nesse caso, foi o desconto).

Vi site de entrega nacional tirando seu lucro (ou melhor, mantendo as suas margens) aumentando o valor do frete. Vi o Bro’s beer “bugando” pela milionésima vez em tempos de promoção. Vi cervejaria argumentando que não tinha sobra para pôr em promoção e pedindo “ajuda” para que os clientes comprassem pelo preço “normal”.

Vi aquelas manjadas publicações de cervejarias locais falando do “custo Bra$il”, que cerveja não é só lucro, é insumo, é imposto… é blah blah blah e mimimi também!

Só não vi mesmo foi promoção de verdade estilo Made in USA, algo entre 70-90% de promoção nas gôndolas da Macy’s. Isso eu não cheguei a ver.

Ou seja, o difícil mesmo foi ver promoção, eu até vi algumas boas, às vezes o frete não compensava, às vezes a cerveja era ruim mesmo e não valia a pena, às vezes era venda casada (teve cervejaria que condicionava o desconto ao consumidor ter que levar 6 unidades iguais da mesma cerveja! Que absurdo!).

Sempre tinha algum complicador, afinal de contas, a vida de quem vive de comprar suas próprias cervejas, ao invés de ganhar como alguns desses mega influencers nacionais, não é fácil.

Black Friday da Invicta

Teve uma única Black Friday que, de fato, salvou-se, foi a da cervejaria Invicta, ainda que com um frete razoavelmente dispendioso. Essa promoção de Black Friday concedia o desconto igualitário de 50% em todo o portfólio da cervejaria e de algumas cervejarias parceiras que produzem como ciganas na planta da fábrica da Invicta, como a 2 Cabeças e a All Beers, para citar algumas das participantes da promoção.

Em virtude desse desconto expressivo, algumas das cervejas mais populares da linha de produção ativa da Invicta acabavam saindo por algo em torno de 7,50 covas rasas, sem o frete. Rótulos como a Hellbeirão, a Pilsen deles, ou a Damiana, uma “german IPA”, feita com o lúpulo tedesco Mandarina, eram uma dessas opções mais em conta.

O frete certamente era um elemento complicador, mas, a saída para esses casos são as compras coletivas, em que se reúnem muitas pessoas, 5 ou 6 geralmente, para dividir os custos do frete. Às vezes, como no caso da Salvador Brewing, o frete sai grátis (e elas chegam encaixotadas no isopor e com cooler). No caso da cervejaria Trilha, acima de um valor “X”, o frete passa a ser fixo.

Não foi o caso com o frete da compra da Invicta, mas, o valor de aproximadamente 3 reais de frete por cerveja foi algo salutar, dada a pujança da Black Friday feita, concedendo descontos de 50% de modo nivelado em todas as cervejas, não apenas aquelas que estavam encalhadas ou perto de vencer.

Esse é um dos subterfúgios ou estratagemas mais comuns às cervejarias: desovar o que não se consegue vender ou se livrar de produtos que estão com a data de vencimento muito próxima. Ainda bem que esse não foi o caso com a liquidação feita pela cervejaria Invicta.

A Saideira

Promoção é algo bom e todo mundo gosta. Promoção nacional ou importada, tanto faz. O problema é quando essas promoções dão azo a fraudes e enganações. Ou quando, por exemplo, impõem compra mínima ou venda casada (artigo 39, inciso I, do CDC neles Celso “Muçulmano”!). Brasileiro gosta mesmo é de ser enganado, e o que não faltou foi enganação, pseudo-descontos ou tudo pela metade do dobro.

Nesse vale tudo, quem sempre sai perdendo é o consumidor cervejeiro! Afinal, o que mais se viu foi aqueles descontos mambembes de 10 a 20% que não fazem nem cócegas nas margens reais de lucro que giram entre 200 a 300%… me engana mais que eu gosto.

Música para degustação

Como o clima é de pesar, a recomendação musical tinha que ter Black no nome: o clássico Black Metal do Venom!

Cheers!


FOTO principal: www.mariacevada.com.br

Lauro Ericksen

Lauro Ericksen

Um cervejeiro fiel, opositor ferrenho de Mammon (מָמוֹן) - o "deus mercado" -, e que só gosta de beber cerveja boa, a preços justos, sempre fazendo análise sensorial do que degusta.
Ministro honorário do STC: Supremo Tribunal da Cerveja.
Doutor (com doutorado) pela UFRN, mas, que, para pagar as contas das cervejas, a divisão social do trabalho obriga a ser: Oficial de Justiça Avaliador Federal e Professor Universitário. Flamenguista por opção do coração (ou seja, campeão sempre!).

Sigam-me no Untappd (https://untappd.com/user/Ericksen) para mais avaliações cervejeiras sinceras, sem jabá (todavia, se for dado, eu só não bebo veneno).

A verdade doa a quem doer... E aí, doeu?

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