Artista de Hollywood em Natal

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Poucos sabem que, durante a 2a. Guerra Mundial, Humphrey Bogart esteve em Natal, para participar de show, ou coisa que o valha, em Parnamirim Field, a base aérea norte-americana.

O jornal “A Ordem”, edição de 1º de dezembro de 1943, publicou em sua seção “Notas Diversas”, o seguinte:

“Acompanhado de sua esposa, encontra-se nesta capital o conhecido ator cinematográfico Humphrey Bogart, que tem estado em contacto com altas patentes do Exército norte-americano.”.

Humphrey Bogart (1899-1957) foi um dos maiores astros de Hollywood, tendo participado de filmes que ficaram na História, sob a direção de monstros sagrados, como John Huston, Billy Wilder e Howard Hawks. Curiosamente, não era o tipo do galã hollywoodiano: baixo, feioso, cara dura. Atuou quase sempre no papel de machão em filmes de aventuras (“O Tesouro de Sierra Madre”, “Uma Aventura na África”, etc.) e policiais (“Relíquia Macabra”, “Á Beira do Abismo”, etc.). Mas, talvez, a sua melhor performance (pelo menos do ponto de vista do grande público) tenha sido em “Casablanca”, fazendo par com Ingrid Bergman, numa feliz mescla de suspense e romance.

Outros astros de Hollywood passaram por Natal, naquela época, fazendo apresentações para as tropas sediadas em Parnamirim.

O historiador Lenine Pinto menciona: Jeanette Mac Donald e Nelson Eddy (dupla consagrada em filmes musicais e de romance), Paulette Goddard, Fredric March, grandes nomes e menos cotados: Jack Benny, Don Ameche, Franchot Tone, Joe E. Brown, Ilona Massey, Keenan Wynn, Andrew Sisters. Cita Tyrone Power, porém este só veio a Natal depois da Guerra. Segundo Lenine, o grande sucesso foi a Orquestra de Tommy Dorsey. (“Natal, USA”, 1995).

Protásio Melo, escritor e professor, que ensinou português aos oficiais norte-americanos residentes em Parnamirim, diz que estiveram em Natal: Al Jolson (famoso por ter sido o ator principal do primeiro filme sonoro, “O Cantor de Jazz”), Humphrey Bogart, Nelson Eddy, Fredric March, Joel McCrea, Kay Francis (3 vezes, 1943 e 1945), Martha Raye e os menos conhecidos Jack Benny, Joe E. Brown e ainda, Joan Barrel, Samievelyn Hamilton, Bruce Cabot, Carole Landis, Mitz Mayfair, artistas cujos nomes o tempo apagou. (“Contribuição Norte-americana à Vida Natalense”, 1993).

Abordando idêntico assunto, o escritor Minervino Wanderley afirma que Natal, durante a Guerra, passou a tomar um aspecto cosmopolita, com a passagem pela cidade de ilustres personalidades, entre as quais cita Humphrey Bogart e Clark Gable (“Carnaval em Tempos de Guerra”, 2006). Mas, o autor não diz a fonte em que bebeu. É discutível, ou melhor, improvável a presença de Clark Gable, galã famoso, sem que os jornais locais noticiassem tal fato. O astro passou rapidamente por São Paulo e Rio de Janeiro, em 1935, retornando de uma viagem de férias a Buenos Aires. Não voltaria ao Brasil. (1).

No livro “Natal do Século XX” (2019), de autoria dos irmãos Carlos e Fred Sizenando Rossiter Pinheiro, consta que vários artistas visitaram Natal ao longo da 2a. Guerra, entre eles Al Jolson, Bette Davis, Kay Francis, Carole Landis e Martha Raye. A orquestra de Glenn Miller, segundo os autores, tocou no “recém-inaugurado” (sic) Cinema Rex – informação esta, ao que tudo indica, equivocada. Lenine Pinto assegura que Glenn Miller nunca esteve em Natal. Quem também não pisou a terra de Poti foi Bette Davis. (2).

Já o Prof. Clyde Smith Junior nos informa, textualmente:

“Humphrey Bogart demorou por alguns dias em Parnamirim, quando veio apresentar um show no clube U.S.O.” (“Trampolim para a Vitória”, 1993). E acrescenta, com base em notícia do jornal “A República”:

“Em seguida, em 28 de dezembro (de 1943), Nelson Eddy veio a Parnamirim para também apresentar um dos seus shows naquela noite”.

A 25 de janeiro de 1944, o jornal “A Noite”, do Recife, noticiava a chegada em Natal, no dia anterior, de Ilona Massey e Noel Coward. A atriz inglesa já estivera no Rio de Janeiro, então capital federal, tendo sido recebida pela primeira dama do País, D. Darcy Vargas, na sede da Legião Brasileira de Assistência. Daí se pode avaliar a sua importância. Na verdade, Ilona Massey não era estrela de primeira grandeza, mas gozava de certa fama, especialmente pela participação em filmes de apelo popular, como, por exemplo, “Balalaika”, musical em que atuou ao lado de Nelson Eddy.

Noel Coward (1899-1973), diretor, roteirista e ator britânico achava-se, então, no auge da carreira artística; logo mais receberia um Oscar especial pelo filme “Nosso Barco, Nossa Vida”, que dirigiu em parceria com David Lean, com roteiro de sua autoria, e no qual atuou como ator principal.

É de se lamentar que não tenha ficado registro maior sobre a passagem de tantas celebridades do Cinema na pequena Natal daquele tempo.


NOTAS

1- Ver “A viagem de Clark Gable ao Brasil” por Diego Nunes (Memória Cinematográfica), trabalho publicado em 06-02-2018.

2- Criado em 1942 por Bette Davis, John Garfield e Jules C. Stein, o clube “Hollywood Canteen” visava dar aos soldados alguma diversão antes de partirem para o front.” Existia clube semelhante no Rio de Janeiro, onde se apresentaram vários artistas de Hollywood, entre estes, Ilona Massey. Não há notícia de que Bette Davis tenha estado lá, tampouco em Natal.

Manoel Onofre Jr.

Manoel Onofre Jr.

Desembargador aposentado, pesquisador e escritor. Autor de “Chão dos Simples”, “Ficcionistas Potiguares”, “Contistas Potiguares” e outros livros. Ocupa a cadeira nº 5 da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

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