A vida é miúda. Um bocado miúda. Mas quando olhamos nossos dias, metas, expectativas e realizações, a impressão é de que a vida deveria ser enorme: cheia de coisas importantes, grandiosas, napoleônicas, colossais. Como se todos nós viajássemos em conquistas de Colombo, espalhando nossas vidas pessoais em fotos, selfies, check-ins, vídeos e coisas do tipo, porque somos as pessoas mais interessantes do mundo.
Fotografamos nossa comida, criamos pequenas mentiras de felicidade publicadas nas redes sociais, escrevemos a aventura com um mendigo a quem demos um sanduíche e de quem recebemos uma lição de vida, tudo isso porque queremos fazer crer que somos as pessoas mais interessantes do mundo, sem aceitarmos tacitamente que a vida é miúda, muito miúda.
Miúda como uma lembrança engraçada que nos ocorre enquanto esperamos no sinal fechado. Ou a miudeza de um banho largo depois de fugirmos do calor infernal de uma tarde de terça. Miúdo como acertar o ponto da comida a que todos comem com gosto, mesmo que digam poucas coisas. A vida é miúda sem a necessidade de encontrar um sentido grandiloquente para ela: sem precisar dizer que os filhos são o sentido da vida ou mesmo aquela bobagem de escrever livro e plantar árvore, coisa e tal.
Retirar um livro da estante, cheio de lembranças e frases sublinhadas, rever uma foto de que se gosta muito, falar sobre um filme muito bom que você viu, deitar no sofá fazendo cafuné em quem se ama, rir com os amigos sobre as bobagens mais bobas do mundo, terminar um dia de trabalho com a sensação de que nos cansamos menos do que o previsto ou a felicidade miúda de termos feito algo bom, todas essas são miudezas da vida miúda: a matéria pequena e essencial dos dias.
Porque são raras as conquistas enormes. São eventuais. As formaturas, os livros escritos, os prêmios conquistados, as coisas que só acontecem uma vez, etc. Tudo isso é importante, mas não é essencialmente a vida. Toda a grandiosidade das coisas grandes são marcos, são mementos, mas não são a vida. A vida é sempre miúda e diária.