A hora e a vez de Dácio Galvão

Dácio Galvão

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Dácio Galvão lançará, no próximo dia 7 de agosto, seu novo livro intitulado Texturas. Será a parti das 17h30 no Teatro Alberto Maranhão. Na oportunidade o gestor e escritor vanguardista receberá a Medalha Frei Miguelinho e o público presente poderá assistir performances cênicas, a projeção de um documentário biográfico e ainda degustar do coquetel e da discotecagem. Acesso livre.

por Thiago Gonzaga

Eleito para a Academia Norte-rio-grandense de Letras em 2020, Dácio Galvão ocupa a cadeira nº10 da tradicional instituição cultural, fundada em 1936, por Luís da Câmara Cascudo. A entrada do poeta na Academia representa, do ponto de vista histórico, uma contribuição significativa, pois sinaliza a vanguarda na entidade. Dácio traz junto com ele, o prestigio de vários nomes da avantgarde produzida no Estado, da qual ele mesmo participa, como Moacy Cirne, Marcos Silva, Anchieta Fernandes, Falves Silva.

Poeta, ensaísta, pesquisador, compositor e gestor cultural, Dácio Galvão figura com importância em nosso meio literário e cultural. Embora tenha alcançado bastante notoriedade nas últimas décadas como gestor, Dácio distingue-se sobretudo como homem de letras. Filho do escritor, historiador e cronista Hélio Galvão, nasceu em Natal e aqui se criou e aprendeu a amar a cidade-berço, embora mantenha fortes laços com Tibau do Sul, terra do seu pai, da qual nunca se afastou. Formado em Letras pela UFRN, em meados dos anos 80, depois tornou-se Mestre em Literatura Comparada, fazendo uma leitura do poema-processo; mais tarde, em sua tese de Doutorado, estudou a poesia de Câmara Cascudo.

Em 1981, Dácio lançou Blues Repartido. Ainda nesta década, editou a revista de vanguarda CRIAÇÃO. Em 1998 publicou o livro de poemas Palavras, Palavras, Palavras, e em 2004, Da Poesia ao Poema – leitura do poema-processo. Em 2019 lançou O Poeta Câmara Cascudo – Um Livro no Inferno da Biblioteca, fruto de sua tese de doutorado, orientadada pelo escritor e acadêmico Humberto Hermenegildo de Araújo. Dácio Galvão organizou também livro sobre as cartas trocadas por Hélio Galvão e Oswaldo Lamartine denominado Abraços – Correspondências de Oswaldo Lamartine com Hélio Galvão.

Sobre seus versos, observamos que, além de uma caraterística pós-moderna, ele explora a representação de tradição e memória, como notado em vários poemas seus, afora diversas alusões a figuras e fatos históricos. Percebemos também outros elementos de resgate do passado, como, por exemplo, a invocação aos poetas veteranos, remetendo à tradição poética potiguar.

Compreendemos que a colaboração do autor para as letras potiguares é sobremodo relevante. Em Palavras, Palavras, Palavras, o poeta lança mão de reproduções de pictografias rupestres, com a impressão conjunta de paisagens, animais e gente do sertão, antepondo-as, por vezes, aos temas urbanos, não raro, através de ousados experimentos.

Ao longo da sua obra poética surgem muitas e inovadoras imagens, em ritmos variados, provando a multiplicidade e sintonia da nossa poesia com a brasileira de modo geral, na atualidade. Para efeito de comparação, por exemplo, veja-se o trabalho poético de Dácio Galvão em paralelo com o modo como outro poeta, Arnaldo Antunes arquiteta as palavras, fazendo experimentos, e buscando incansavelmente renovar a linguagem, na qual, além das figuras de palavras, considera também as figuras de pensamento, as figuras de sintaxe ou de construção e as figuras de som, recursos especiais usados para dar maior ênfase à comunicação. Apesar do seu caráter não-linear e da falta de alguns elementos de coesão para que os versos sejam interligados, fica claro, o propósito do poeta, de assim proceder para transmitir sentido ao seu leitor.

Vale ressaltar a forte influência da geração do Poema-processo, poesia vanguardista, de caráter experimental, nos versos de Dácio, bem como a aproximação com a geração de poetas vanguardistas – Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Augusto de Campos, José Lino Grünewald, Ronaldo Azeredo e Wlademir Dias-Pino, e a nível local, Moacy Cirne e Anchieta Fernandes, dentre outros.

Além de literato, como está visto, Dácio Galvão foi diretor do Departamento de Promoções e Eventos Culturais da Fundação José Augusto, coordenou o Centro de Documentação Cultural “Eloy de Souza”, é diretor artístico do “Projeto Nação Potiguar”, em parceria com Candinha Bezerra, realizando o Festival Literário de Pipa, FLIPIPA, durante vários anos. É presidente da Fundação Cultural Hélio Galvão, e exerceu a presidência da Fundação Capitania das Artes (Funcarte); atualmente é o Secretário Municipal de Cultura de Natal (RN).

Poemúsicas

Em 2009, Dácio Galvão lançou o Cd Poemúsicas, fruto de um trabalho de mais de uma década em pesquisas e composições. Poemúsicas contém instantes de experimento e de provocação linguística. As composições enfeixadas no disco são da parceria com vários artistas potiguares, dentre os quais, Carlos Zens, Babal e Jubileu Filho, e tiveram participação de grandes nomes da MPB. Algumas das poemúsicas presentes no CD foram lançadas anteriormente em outros discos pelo Projeto Nação Potiguar – Poemúsica (2005), Toques e Cantares (2004).

Recentemente Dácio lançou Poemúsicas 3, com a participação de diversos artistas. Dácio Galvão também organizou a seleção literária da obra Coco Zambê, de Candinha Bezerra e produziu O Canto do Seridó de Elino Julião. Em sua gestão à frente da Funcarte, entre outras atividades, idealizou e lançou, com a colaboração da equipe de jornalismo, a revista cultural Brouhaha, cujo título é uma homenagem direta a Câmara Cascudo.

Dácio Galvão está incluso na antologia poética organizada por Jota Medeiros, Geração Alternativa, publicada em 1997, coletânea que destaca a geração mimeógrafo do Rio Grande do Norte.

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CRÉDITO DA FOTO: Beatriz Bruno

Thiago Gonzaga

Thiago Gonzaga

Pesquisador da literatura potiguar e um amante dos livros.

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