O projeto ‘Con-Versa Com Prosa’ segue a tradição das comemorações pelo Dia Nacional da Poesia e, neste ano de 2019 – momento que nos exige resistência de todas as formas possíveis – apresenta o tema “Poesia, Riso e Rebeldia”, um bate-papo descontraído e engajado com dois nomes da contracultura natalense de distintas gerações: Antonio Ronaldo (FOTO) e Victor H Azevedo. A conversa será mediada por outro nome emblemático da poesia alternativa: Plínio Sanderson.
O evento é coordenado pelas professoras do Departamento de Letras da UFRN, Cellina Muniz e Tânia Lima. E além da programação, terá ainda sorteio de zines e livros. Acontecerá nesta quinta-feira, 14 de março, Dia Nacional da Poesia, a partir das 10h, no auditório do Instituto Ágora, na UFRN (ao lado do Setor 2). O acesso é livre.
Antônio Ronaldo
Compositor e poeta, atua na cena cultural de Natal desde os anos 1970. Participou ativamente do movimento de Poesia Mimeógrafo (também chamado de Poesia Marginal), do Laboratório de Criatividade da UFRN, do Teatro Novo Universitário (Tonus), da UFRN, do Trabalho de Música Popular Potiguar, nos anos 1990, e também de festivais de Música e Literatura em geral e do Prêmio Núbia Lafayete da FJA.
Tem três livros de poesia editados: Badulaques Bombons Stars Afins (& Certas Canções Insertas) (2000), Jeans Avariado (2003) e Ao Judas Atraente (2018).
Em 2009 lançou o cd “Sátiro”, com canções de sua autoria e com parceiros poetas e músicos. Em 2011, ganhou o 1º lugar no MPBeco, com a música “Tango do Hospício Encantado”, em parceria com o Maestro Franklyn Nogvaes.
Tem músicas gravadas por Cida Lobo, Geraldo Carvalho, Lene Macedo, Donizete Lima, Clara Menezes e vários outros intérpretes renomados da música popular potiguar.
BERRAR É HUMANO
Berrar é humano
O bom cabrito não erra
Em se tratando de guerra
Ou de entrar pelo cano
O dom do grito é chocante
O mito rola nos papos
Sapos, príncipes, bacantes
Fauna de rock em seus trapos
Tantos príncipes farsantes
Fauna de rock em seus trapos
(Antonio Ronaldo, “Badulaques Bombons Stars Afins”)
Victor H Azevedo
Poeta, ilustrador, tradutor e editor da Munganga Edições, micro-editora especializada em publicar prosadores e poetas internacionais, desconhecidos do grande público.
Nasceu em Natal, em 1995. Como poeta, publicou “Cachorro Morto” (2018), “19xx” (2017), “põe duas horas no super nintendo qu’eu quero esquecer da minha vida” (2016), “Eu só não sei o que fazer comigo mesmo” (2016).
Tem diversos livros planejados e/ou engatilhados para publicação, entre eles estão “Mãos de Pardal”, “Quem andou de ônibus não sabe o que é deserto” e “Ao modo dos Girassóis”.
Traduziu poemas de autores diversos como Omar Cáceres, Marsden Hartley, Yone Noguchi, Agustín Espinosa, Jack Spicer, entre outros.
Às vezes acho que
Deus se encarregou
De me dar um anjo da guarda irônico.
Quando me adoento e espirro todo o pó acumulado da viagem
Meu anjo da guarda se apodera da mão de minha mãe
E me dá um lenço com um bordado escrito “saúde”.
Ou então, por vezes, me acomete algo diferente
— Passo a acreditar que meu anjo é íntimo do acaso.
E creio nisso pois enquanto o mundo me nina
Num berço que é uma senda onde tudo me é rosto familiar,
De súbito me navalham alforrias de dentro de certos átimos,
Como quando meu pai voltou de um trabalho braçal Empurrando a bicicleta, e meu anjo da guarda, no bagageiro,
Ensinava-o a assobiar o hino da independência.
Ou como na vez em que, antes de regressar à casa,
Encontrei no quarto dos sobrinhos da minha namorada um cavalinho azul de plástico rendido no chão,
Quase como se meu anjo da guarda me dissesse:
“A partida deixa trilha de espelho contra a luz”.
Ou então como agora, enquanto escrevo este poema
E meu anjo, no ombro da chuva, tenta me hipnotizar
Para que eu regresse às leituras de criado-mudo.