Toda super heroína chora

mulher frágil

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Tenho pensado muito sobre acolhimento e cuidado. Acontece que a vida inteira sendo vista como mulher forte foi imposto a mim a obrigação de suportar tudo, como se eu fosse uma grande rocha desprovida de sentimentos e afetos.

Nós, mulheres, vivemos com o estigma de que podemos aguentar tudo, e nessa, vamos sofrendo diversos tipos de violência física e simbólicas e se a gente sabe que ninguém é de ferro, porque aprendemos a ter essa falta de empatia e cuidado conosco? Por que nos cobramos tanto a ponto de nunca nos permitir sofrer e sentir? Por que ser vista como mulher forte incomoda tanto e muitas vezes até provoca repulsa e falta de responsabilidade afetiva conosco? Onde foi que veio escrito em nós que temos que aguentar e suportar tudo sem sentir dor?

A gente bem sabe que a mulher, só pelo fato de existir, já é cobrada em todos os aspectos na sociedade, isto é histórico e parece que nós nunca estamos certas e sempre há uma cobrança extrema por algo a fazer ou realizar. Sobre nós estão os olhares mais críticos e carregados de culpa e opressão e o pior disso tudo muitas vezes é saber que muito dessa culpa vem da criação machista e não empática inserida nas mulheres. E mesmo elas sofrendo a mesma coisa, são elas que julgam e cobram umas as outras numa competição desenfreada.

Fomos ensinadas a competir e a criticar, por exemplo, o que a outra veste, quanto ela pesa, a sua aparência física, a sua vida amorosa, o status e o seu trabalho. Absolutamente tudo é criticado porque na hora em que olhamos uma para a outra colocando a nossa régua de parâmetros, deixamos de olhar para as nossas imperfeições e isso nos deixa numa posição de soberba. O que piora muito com a falta de empatia da mídia que expõe os nossos corpos, nos diminui enquanto ser humano e faz questão de nos dizer que não somos belas o suficiente, competentes a ponto de assumir altos cargos e felizes. Mas se outra pessoa demonstra tristeza por isso, eu encho o peito pra dizer: nunca me senti assim, sempre me resolvi muito bem em tudo, mesmo que a noite você chore copiosamente no seu travesseiro. Nada pode abalar o estereótipo de fortaleza, você tem sempre que demonstrar capacidade de suportar tudo.

E por falar em ser feliz, a mulher dita como forte nem precisa de amor e de afeto. Felicidade? Precisa não, isso é besteira… Ela deve se bastar, não sentir solidão, resolver suas questões sexuais sozinha e ter um coração embrutecido. Para que sentir e viver uma relação de afeto? Melhor trabalhar, estudar, viajar, e contas pagas e é assim que vão se criando as grandes mulheres insuportáveis e ressentidas. O estigma de que uma mulher forte não precisa de amor e afeto é o maior folclore já contado desde os primórdios. Nascemos com um selo de culpa eterna.

E quando tentamos ser frágeis somos vistas como irresponsáveis, abertas, avulsas, desprestigiadas e somos criticadas, por que demonstrar amor e afeto é sinal de fraqueza e não é coisa de mulher. É preciso quebrar esse padrão urgentemente!

Eu vim aqui nesse texto falar que mulheres fortes, somos todas nós e nós também precisamos de acolhimento e cuidado. Queremos chorar sem culpa e sermos abraçadas.

Eu quero ser vista como ser humano, com emoções, fraquezas e necessidades. Afinal, eu acolho tanto, cuido tanto, seguro tanta onda minha e de todo mundo que me cerca, que sei que mereço, quando me sentir pra baixo ou em situação de vulnerabilidade, ser acolhida. Eu exijo isso!

Eu quero ser amada com todas as fraquezas que o amor nos traz. É pra isso que serve as pernas bambas e as borboletas no estômago, pra provar que estou viva e sentindo!

É hora de pararmos de nos sacrificar em prol dos outros e começar a olhar para nós mesmas com amor e carinho. Não podemos deixar que a sociedade nos defina como máquinas de resistência, é preciso nos permitir sentir, chorar e pedir ajuda quando precisarmos. É hora de nos acolhermos e cuidarmos umas das outras. Juntas, podemos mudar essa realidade e nos libertar do estigma da mulher forte como pedra, porque isso não é mérito pra ninguém, só nos coloca mais cansaço e culpa.

Mulher forte, que se levanta depois de apanhar ou cair, é bonito no livro de super heroína, que no final tem um final feliz e um príncipe encantado. A gente sabe que na vida real não é assim. A gente cai, apanha da vida e quer passar 3 dias sofrendo em posição fetal. Eu pelo menos sou assim. Esse negócio de levanta e sacode a poeira deixou de ser imediato. Primeiro eu choro, descanso e revejo a vida antes de me refazer, e não sinto culpa por absolutamente nada.

Comecei a questionar agora outro lugar. O lugar de que quero cuidado e apoio emocional, de que quero acolher a minha vulnerabilidade e minhas necessidades. Quero reconhecer que preciso de apoio e de ajuda sem ser vista como louca. Já não quero enfrentar tudo sozinha. Não quero ser cobrada por não ser uma pessoa provida da vontade da maternidade. Quero me relacionar com alguém que seja companheiro, parceiro e que me ajude nas horas em que eu me sentir frágil.

No meu ciclo de amigas, percebo que muitas estão vestidas com essa capa de super-mulher-rocha-forte-foda e entrando em lugar de pessoas tão duras que sequer conseguem socializar. Eu acho chato demais gente que nunca sente, gente que sempre está tudo bem e gente que liga o foda-se da boca pra fora só pra não dar o braço a torcer. Quem disse que isso é qualidade? É nada amiga, melhore!

Por isso, é importante reconhecer que precisamos de ajuda e buscar apoio de pessoas, pode ser amigos ou terapeutas, que saibam nos acolher e cuidar de nós. Não podemos continuar a suportar o peso do mundo nas costas sem ajuda e esperar que isso não tenha consequências para nossa saúde e bem-estar. É hora de mudar essa visão de que a fortaleza é uma qualidade que pode ser explorada sem limites e reconhecer que todas as pessoas precisam de acolhimento e cuidado.

Eu demorei muito pra entender que não dou conta de tudo e de que apesar de me manter firme e forte, vai haver o dia em que eu não vou suportar, apenas estarei livre para sentir sem nenhum julgamento. Nosso sentir é legítimo e nada pode nos privar disso. E quando eu estiver sentindo, quando me doer, quando me sensibilizar vouTo chorar emocionada, de alegria ou sofrida sim!

Carla Nogueira

Carla Nogueira

Carla Nogueira, mais conhecida como Carlota, formada em gestão de pessoas, com MBA em gestão humanística de pessoas. É multicriativa e fundadora do Estúdio Carlota Coletivo Afetivo, criando oportunidades para gerar potência e oportunidades de fomentar a arte, a cultura e as pequenas marcas com grandes ideias. Notívaga, cervejeira e sarcástica, escreve sobre suas percepções diante dos fatos do dia a dia.

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1 Comment

  • Jaqueline Lopes

    Boa noite,

    Achei incrível seu texto, li ,gravei e enviei a um grupo de mães atípicas que criei com objetivo de ter apoio real e o direito de chorar sem se sentir culpada.
    Gratidão

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