Desde que publiquei meu primeiro livro, um projeto de poesia que me tomou algum tempo chamado “pequeno manual prático de coisas inúteis”, em 2009, quando eu já me aproximava dos 29 anos de idade, a pergunta que mais ouço de gente conhecida ou não, é: “como faço pra publicar um livro?” Geralmente essa pergunta vem com o preâmbulo: “eu gostaria de escrever um livro sobre a minha vida”.
Verdade é que acho difícil oferecer as respostas mágicas que as pessoas esperam para essa pergunta, como se eu fosse o sujeito capaz de oferecer o caminho definitivo e tranquilo para a publicação de um livro de sucesso.
Uma questão é que, mesmo depois de sete livros publicados (acaba de sair “Barreiro das Almas”, meu primeiro romance), ainda não sei como se publica um livro de sucesso colossal, como essa geração cuja ideia de sucesso está baseada em números gigantes do Ibope ou em milhões de visualizações no YouTube, em nós de algoritmos…
Ainda estou lutando para publicar meus livros, vendendo umas raquíticas centenas de exemplares nestes últimos quase 15 anos.
Também é verdade que hoje é mais fácil publicar um livro que à época de minha primeira aventura, em que tive a sorte de contar com Adriano de Sousa (poeta que eu já lia e admirava antes de nosso primeiro contato) e a brilhante Flávia Assaf, que capitaneavam a editora Flor do Sal e acreditavam em jovens escritores como eu.
Com as novas tecnologias e possibilidades de impressão, softwares, editores e tudo mais, publicar parece uma tarefa mais simples se comparada aos livros que tentei dar ao mundo antes dessa aventura de 2009, diagramando, imprimindo, recortando e colando livros artesanais, em casa, com tiragens gigantescas de sete ou oito exemplares.
No entanto, publicar um livro não é apenas mandá-lo para a gráfica.
Aliás, escrever um livro é assunto delicado. E antes que eu tergiverse ainda mais, volto para este que é o tema de hoje: antes de escrever um livro é preciso pensar e responder algumas questões: o livro é para você mesmo ou para os leitores? A quem interessa o que você tem a dizer? E a mais importante das perguntas: você tem lido com frequência?
Acho que nem é preciso dizer que essas não são perguntas arrogantes ou coisa do tipo. Afinal, a sua vida é mesmo tão diferente ao ponto de merecer estar num livro a ser compartilhado com pessoas que desconhecem você? A maneira como você conta sua história precisa ser vista por outras pessoas? E a última delas merece um parágrafo à parte.
Tenho visto muitos livros de autores que leem pouco. Isso me entristece. Pior que é fácil reconhecer um livro de quem tem poucas leituras, de quem ignora todo um passado de ideias postas no papel. É algo como andar num foguete construído por alguém que nunca fez um avião de papel, sequer. Ou ir a um dentista banguela.
Para arrematar esta conversa, o que acredito de fato – e preciso deixar isso claro à esta altura – é que todo mundo deveria escrever, que deveriam fazer da escrita um hábito como o que faz um monge, uma constância, um exercício diário. Escrever ajuda a organizar e entender as coisas ao nosso redor e dentro de nós.
A partir do monge feito, devemos começar a tentar dizer algo além do confessional, de maneira própria, em nossa voz.
Percorrido esse caminho, tendo posto o texto para rodar, pode ser a hora de pensar em livros e publicações, que o caminho é tortuoso. Dito isso tudo, repito como sempre terminam minhas respostas às perguntas iniciais: no que precisarem de mim, podem contar comigo.