#CaminhosdeNatal: a Duque de Caxias dos imponentes casarões históricos

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A Avenida Duque de Caxias está localizada no bairro da Ribeira. Primitivamente conhecida como a Campina da Ribeira, passou depois a denominar-se Rua do Bom Jesus, marcada pela presença da Igreja do Bom Jesus das Dores.

Já no dia 7 de agosto de 1604, o então capitão-mor do Rio Grande, Jerônimo de Albuquerque, concedia ao padre vigário Gaspar Gonçalves Rocha trezentas braças em quadra, na campina junto à Cidade.

Foram doadas diversas concessões de terras naquele logradouro público, a última das quais, segundo os registros sobreviventes, ocorreu no dia 8 de fevereiro de 1812. Conforme informava a requerente Mariana da Costa, o terreno por ela desejado, media cinco braças de frente por dez de fundos, “fazendo frente para a Igreja do Senhor Bom Jesus, com o fundo para o poente’’.

Em um mapa relativo à Cidade do Natal, desenhado na 7ª década do século XIX, figura a antiga Rua da Campina, cuja extensão principiava na atual rua José Alexandre Garcia, prolongando-se até a rua que hoje recebe a denominação de Ferreira Chaves.

A Rua do Bom Jesus teve a sua denominação alterada para a Rua 25 de dezembro, pelo Decreto Municipal de 13 de fevereiro de 1888. Quinze anos depois, em 31 de julho de 1903, a Intendência Municipal passou a denominar aquele logradouro de Rua Sachet, em homenagem ao mecânico do “Pax’’, o balão que explodiu em Paris, matando Augusto Severo e seu amigo Sachet.

Em 1929, o então Prefeito de Natal, Omar O’Grady, iniciou as obras de calçamento da antiga Rua Sachet. O governador do Estado, àquela época, era Juvenal Lamartine de Faria. O calçamento da antiga rua Sachet, trecho compreendido entre as ruas Nísia Floresta e 15 de novembro, somente foi inaugurado em 3 de outubro de 1934, na gestão do prefeito Miguel Bilro. No mesmo dia foram inaugurados os calçamentos da Rio Branco (até a atual Rua do Saneamento) e 15 de novembro. As solenidades foram iniciadas às 8:30 horas, na presença do Interventor Federal Mário Câmara, do Prefeito Miguel Bilro e de diversas personalidades, como Neiva Júnior, Comandante Aluísio Moura, Juvenal de Carvalho, os prefeitos de São José de Mipibú, São Gonçalo do Amarante e Papari, além de secretários de Estado, altas autoridades, funcionários da prefeitura e uma grande multidão.

Duque de Caxias

Posteriormente, aquele logradouro público recebeu a denominação de Avenida Duque de Caxias, que permanece até os dias atuais, uma homenagem prestada ao Patrono do Exército Brasileiro.

Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, nasceu na fazenda Taguaraçu, no atual município de Caxias, no Estado do Rio de Janeiro, no dia 25 de agosto de 1803. Era ele filho do tenente Francisco de Lima e Silva e de Cândida de Oliveira Belo.

Aos 15 anos, ingressou na Academia Real Militar, criada por Dom João VI em 1814. Caxias recebeu a patente de tenente em 2 de janeiro de 1821. Em dezembro do mesmo ano, concluiu o curso de oficial, passando então a servir no 1º Batalhão de Fuzileiros.

Em 1822, incorporado ao Batalhão do Imperador, combateu na Bahia, contra os soldados portugueses, adversos à lndependência do Brasil.

Aos 21 anos, recebeu do Imperador Dom Pedro I, a Imperial Ordem do Cruzeiro do Sul, as insígnias de major e as Comendas da Ordem de São Bento de Aviz e Hábito da Rosa.

Em 1836, Caxias convolou núpcias com Ana Luiza, filha do intendente de polícia Paulo Fernandes Viana. O casal teve três filhos: Luiza de Loreto, Ana de Loreto e Luís.

Em 1837, foi ele promovido a tenente-coronel. Em 1840, a General Brigadeiro, quando recebeu também o título de Barão de Caxias, um referencial à cidade maranhense onde ele combatera e sufocara a Revolta dos Balaios.

Em 1852, combateu Rosas (Argentina) e Oribe (Uruguai). Retornando vitorioso, recebeu o título de Marquês. Aos 66 anos, foi agraciado com o título nobiliárquico de Duque de Caxias. O grande militar que ficaria conhecido como ‘”O Pacificador”, faleceu no dia 7 de maio de 1880.

A avenida Duque de Caxias

A Avenida Duque de Caxias ainda conserva belos e imponentes casarões históricos, alguns construídos na primeira metade do século XX, como as casas residenciais de Januário Cicco e Fortunato Aranha. O primeiro morou em um palacete imponente, que atualmente funciona como albergue. A parte térrea da casa era destinada ao consultório de Januário Cicco residia ele com a família, no pavimento superior.

A casa de Fortunato Aranha, outro imponente palacete, que já serviu como sede do Instituto do Açúcar e do Álcool, abriga atualmente a sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Superintendência do Rio Grande do Norte. A casa, valorizada por uma escadaria de acesso, apresenta porão e mirante. Sua cobertura é toda arrematada por platibanda com balaustrada, ostentando na fachada belos arcos ogivais com cercaduras de massa.

O antigo prédio do BANDERN, construído na esquina com a avenida Tavares de Lira, foi inaugurado em janeiro de 1939. O prédio, desenvolvido em três pavimentos, ostenta belas colunas com capitéis caprichosamente trabalhados, que servem de apoio à marquise que separa o segundo do terceiro pavimento.

No mesmo ano de 1939, aos 13 de maio, inaugurava-se na mesma avenida, o antigo prédio do Grande Hotel, que hoje serve de sede ao Tribunal de Justiça. A construção daquele prédio veio solucionar o grave problema de hospedagem, existente na Natal de então.

No dia 19 de abril de 1944, inaugurava-se na Duque de Caxias, o prédio que até os dias atuais, serve de sede à Associação Comercial. Desenvolvido em três pavimentos, o prédio apresenta cornija encimada por platibanda. Possui fachada harmoniosa e perfeitamente simétrica em relação ao acesso principal, que é efetuado através de hall de entrada com pé-direito duplo, cuja cobertura acha-se apoiada em quatro colunas com capitéis de massa.

No cruzamento da Duque de Caxias com a Esplanada Silva Jardim existia, até 2010, uma árvore bicentenária conhecida como a “Árvore da Cidade”. Trata-se de uma tradicional castanhola (Terminalia Catappa Linn, da família das Combretáceas). A referida árvore, já centenária em 1904, foi plantada no quintal da casa que pertenceu, a partir de 1764, ao português Manoel Pinto de Castro, casado com Francisca Antônia Teixeira. Do casal nasceu dentre outros filhos, Miguel Joaquim de Almeida Castro, Frei Miguelinho, mártir norte-rio-grandense da Revolução Republicana de 1817.

Como principal artéria da Ribeira, a avenida Duque de Caxias foi palco de grandes acontecimentos. Pelas suas calçadas circularam figuras de destaque internacional, como os artistas americanos que se hospedaram no Grande Hotel, à época da 2ª Guerra Mundial, além de políticos importantes e boêmios inveterados.

lvanaldo Lopes, em seu livro “Natal do meu Tempo”, conta um fato curioso ocorrido naquela avenida. Certa vez houve um tiroteio na Duque de Caxias, nas proximidades da Tavares de Lira, que por pouco não ocasionou uma tragédia. Uma bala perdida varou a cartola de um passante, e para espanto geral e susto maior para a vítima, o projétil passou à distância de um centímetro da cabeça do transeunte!

Este foi apenas um dos milhares de fatos curiosos, ocorridos na nossa “Ribeira Velha de Guerra”.


ILUISTRAÇÃO: Mônica Rosário Alves

Jeanne Nesi

Jeanne Nesi

Superintendente do IPHAN-RN, Sócia efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do RN, e Sócia correspondente do Instituto Histórico Geográfico e Arqueológico de PE. Fundou a Folha da Memória, com periodicidade mensal. Publicou cinco livros, sendo dois como co-autora. Publicou folhetos, folders e cordéis e mais de 300 artigos sobre o assunto em uma coluna semanal no jornal Poti, na Folha da Memória e em revistas do IHGRN.
Atualmente aposentada, mas sempre em defesa do patrimônio histórico.

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