A história da medicina inclui a vida e a obra de grandes médicos ou de outros profissionais, cujas biografias revelam suas contribuições para o crescimento dessa área de estudos.
Ao longo dos séculos, desfilam nomes de homens e de mulheres, cujas vidas foram capazes de modular a saga que tem Hipócrates (460a.C.-377a.C.) como marco principal.
Porém, poucos percebem que as vidas de grandes vultos da humanidade, em particular as doenças que sofreram, também importam para a história da medicina.
Como separar, por exemplo, as obras-primas de van Gogh (1853-1890) da doença mental que o afligiu de forma constante? A vida de van Gogh compõe uma página da história da medicina.
Da mesma forma, a vida e as doenças de Beethoven, um dos maiores gênios da música em todo o mundo, também compõem outra página similar, pois suas enfermidades foram muito mais do que a bastante conhecida surdez.
As doenças de Beethoven
Ludwig van Beethoven nasceu a 15 de dezembro de 1770, em Bonn, Alemanha, e faleceu a 16 de março de 1827, em Viena, Áustria. O pai, músico da orquestra da corte, rude e alcoólatra, ao perceber o talento do filho, agiu com extremo rigor, no afã de obter ganhos com as apresentações do menino, opressão também sofrida por outro gênio da música, Amadeus Mozart.
Aos 11 anos, Beethoven começou a receber aulas de música, além de literatura e de filosofia, do culto e renomado compositor Christian Neefe, seu grande mestre.
Em 1792, o mais celebrado músico europeu vivo, Franz Joseph Haydn (1732-1809), logo após conhecer Beethoven, convidou-o a morar em Viena para ser seu aluno, o que ocorreu pouco tempo depois.
Em 1796, Beethoven começou a sentir perda da audição, progressiva e constante, fato que o levou, cinco anos depois, a escrever:
“Eu estava a ponto de pôr fim à minha vida, devido a um mal incurável que, nos últimos seis anos, se agravou, nas mãos de médicos incompetentes. A única coisa que me impediu de fazer isso foi minha arte”.
Beethoven não teve uma infância feliz e foi infeliz com as mulheres, pois conheceu apenas amores platônicos. Não casou e não deixou filhos. Quase a vida toda sofreu de colite frequente (Doença de Crohn?), furunculose, episódios de hemoptise, hepatite, dores ósseas e reumáticas, otites, entre outras mazelas. Sua certidão de óbito atestou cirrose hepática.
Nos últimos dias, pobre e cansado, pediu ajuda aos amigos de Londres, os quais, por meio da Philarmonic Society, mandaram-lhe 100 libras. O dinheiro chegou tarde, mas serviu para pagar os funerais. Aos amigos, no leito de morte, ele teria dito: “Aplaudi, amigos, a comédia acabou”. No entanto, há quem defenda que as últimas palavras do autor das nove mais famosas sinfonias foram: “Vou ouvir no céu”.
Para a história da medicina, Beethoven é um exemplo de paciente que, vítima de várias doenças, mesmo assim, revelou-se um singular gênio da música.
IMAGEM: Tela do pintor Julius Schmid, em 1901.