Se Algo Acontecer… Te Amo é obra-prima que converte dor em esperança

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Durante 12 minutos, eu fiquei imerso de um jeito muito raro. Talvez eu possa dizer que a técnica utilizada na construção de Se Algo Acontecer… Te Amo tenha causado essa captura da minha atenção. A forma com a qual o filme tem suas cenas movimentadas ininterruptamente é hipnotizante. Mas não é só.

Também posso chegar à afirmação de que essa animação não conseguiu somente a minha concentração — o que já é difícil para alguém com o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) —; ela fez com que eu me perdesse completamente. E eu não consegui me achar depois. Pelo menos ainda não.

Atenção! Esta crítica contém spoilers sobre o filme!

Acontece que eu me perdi dentro de um universo que me pareceu muito próximo e, ao mesmo tempo, distante. O silêncio da distância, a corrupção da dor — que gera uma solidão acompanhada. É provável que a maioria de nós já tenha sentido algo muito próximo a isso. Parece que não há para onde fugir.

E, realmente, não há. A questão não é a fuga, mas o reencontro. O duelo entre as boas lembranças e a despedida parece pôr em xeque justamente o que fez ser possível toda uma saudade imortal: o amor. Pode ser uma constatação clichê, mas é através dele (do amor) que Se Algo Acontecer… Te Amo tem suas bases solidificadas. Porque não é o amor que afasta, é a ausência — ou a hibernação dele.

Não é o amor que afasta, é a ausência. (Imagem: Reprodução/Netflix)

Tudo isso é pensado para esse curta-metragem por meio de símbolos. As sombras, nesse caso, podem tanto erguer quanto derrubar muros. E são projeções do mesmo sentimento. Apenas quando as melhores memórias retornam, parece ser possível seguir em frente.

Isso tudo é tão complexo que fica bem difícil entender como tanto coube em tão pouco tempo. Sombras que afastam; sombra que aproxima; a memória que procura salvar em um retorno para tentar — em vão — reconstruir o passado.

se algo acontecer... te amo
A memória que procura salvar… (Imagem: Reprodução/Netflix)

No final das contas, tudo o que sentirmos ao assistir a esse filme deve ser abrangente e, simultaneamente, particular. É a combinação mais que perfeita entre conceito e propósito, significado e missão — esta que diz respeito a cada um, com a maneira que Se Algo Acontecer… Te Amo conseguirá atingir.

Por essa perspectiva, essa missão foi completada com sucesso em mim. Assim como a maioria de nós, tenho meus demônios interiores, minhas sombras que, vez ou outra, insistem em domar a realidade. Cada lágrima que segurei ou deixei escapar durante os 12 minutos fazem parte de quem eu sou e de quem quero e tenho tentado ser.

Eu, perdido completamente, hipnotizado, fico, aqui, do lugar de fala de quem nunca perdeu um filho, mas já perdeu amores para a morte e para a vida, imaginando um mundo tão empático quanto o que assisti; um mundo no qual, por mais que nos distanciemos, possamos lembrar com carinho dos melhores momentos que vivemos; um mundo no qual o acaso e uma música possam se unir para despertar o que há de melhor em cada um de nós.

se algo acontecer... te amo
O acaso e uma música… (Imagem: Reprodução/Netflix)

A dor, assim, poderá se transformar em esperança. Esta, claro, que não pode ser conduzida por uma solidão acompanhada, mas pela sensação de que a vida só seguirá seu curso se houver, nada mais e nada menos, do que o amor.

Se Algo Acontecer… Te Amo é uma obra-prima.


Texto originalmente publicado no Canaltech

Sihan Felix

Sihan Felix

Sihan Felix é crítico de cinema desde 2008, sendo membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ) e cofundador e integrante da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN). Felix escreve para importantes mídias brasileiras, participa como jurado e palestrante em festivais dentro e fora do país, foi crítico de uma das maiores distribuidoras nacionais de clássicos e é contista. Além disso, quer comer gorgonzola sempre, mas a vida de professor de cinema e música o impede de ter muito contato.

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