Posso recorrer em erro brutal já no título. Não sou historiador, mas tampouco uma ilha isolada do senso comum. E se perguntar a qualquer transeunte na Venezuela, Colômbia, Bolívia, Equador (talvez Peru, não sei), eles têm um herói em comum na ponta da língua: Simón Bolívar. A Argentina, libertada por San Martin, tem lá seu Che, sua Evita Peron. E o Brasil?
Bolívar não foi um ídolo, como Ayrton Senna e outros mais confundidos com heróis (ultimamente também na seara política). Mas um herói de fato, repleto de conquistas, feitos e atos dignos do status. Bolívar libertou nada menos que seis nações do domínio espanhol em nossa América: Venezuela, Colômbia, Bolívia, Equador, Peru e Panamá.
A recente série Bolívar, da Netflix, retrata toda a sua saga em 60 capítulos de quase uma hora. Digna de maratona! Uma verdadeira novela biográfica de um filho de família abastada, órfão muito cedo e que desde jovem se capacitou para um futuro de glória e também desprezo, já nos últimos dias de vida (um spoiler que não prejudica em nada a andar da série).
A série também narra, em segundo plano, a trajetória de Manuela Saenz, equatoriana amante de Bolívar, conhecida como “Libertadora do Libertador”, de um feminismo pioneiro e responsável por outros atos dignos de heroismo. A série nem conta, mas “Manuelita”, após a morte de Bolívar, foi ainda mais renegada pela sociedade, mas sua história ganhou o mundo e ela mereceu visita de ilustres, como o escritor Helman Melville, autor de Moby Dick.
Estátua de Simón Bolivar no RJ
“Bolívar” mostra ainda um exército corajoso, idealista, que ajudou “O Libertador” em sua empreitada. E eu pensava: afora a epopeia do comandante Luiz Carlos Prestes, totalmente desconhecido do “povão” brazuca, quem mais poderemos comparar com a saga de Bolívar e seu “Exército Patriótico”? Ninguém. Não à toa existe estátua de Bolívar no Rio de Janeiro, sem ele nunca sequer ter pisado aqui!
Nossos livros de história nos conta, sim, a vida de alguns heróis: um Zumbi dos Palmares, um Tiradentes, um Antônio Conselheiro (Prestes sequer é lembrado nos livros!)… Mas são histórias, no âmbito geral e prático, de insucesso, por mais que tenham servido de exemplo. O Quilombo dos Palmares, Canudos, a Coluna Prestes, foram derrotados. E o Brasil foi “descolonizado” a partir de uma quartelada safada, é preciso que se diga!
A série Bolívar conta muito da história da nossa América, de um herói vitorioso, idealista, e também dos efeitos e custos de uma guerra. Como pano de fundo, a corrupção que permeia nosso continente desde o começo das repúblicas latino-americanas, além, como já citado, da fantástica história da heroína Manuela Saens.
Vale a maratona!