Jornalismo e Literatura são irmãos briguentos, mas unidos pelo amor da irmandade. Convivem em mesma casa e têm uma mesma mãe chamada Escrita, casada com um senhor às vezes chato, pedante e cheio de regras, mas também um homem de boa índole quando bem tratado: o senhor Texto.
A Literatura, filha mais velha, costuma ensinar seus dotes artísticos ao irmão mais novo. E o Jornalismo é astuto, perspicaz; capta os fatos no ar. São irmãos inteligentes. E o destino os fez famosos quando há um mínimo de esforço em educá-los.
O escritor, contista e diretor da revista literária Bravo!, João Gabriel de Lima, foi preconceituoso ao seu modo com a Literatura. Segundo ele, a Literatura é mentirosa, é o “império da imaginação”. Mas a imaginação se encaixa em seu modo de ser.
O problema visto nesse tempo-hoje é que o império da imaginação, a mentira, tem recaído no Jornalismo. E para ele essas pechas são incabíveis ao seu ofício. E em Natal, a proliferação de blogs recheados de comentário imagéticos tem prejudicado muito o entendimento entre os irmãos.
Ninguém sabe mais o que é imaginação e verdade. O que é notícia ou comentário ideológico (ou escatológico). O que são portais ou portões para uma rede de intrigas sem apuração, sem redação, sem compromisso; iscas para o peixe-cidadão, perdido no mar de fakes e news.
Dias atrás se publicou que este elefante magro guardava robustos 1,4 bilhão de reais e poderia sanar a fome do peixe-cidadão. “Notícia” baseada em dados oficiais do Portal da Transparência. Como se não precisasse interpretação correta, como se não despertasse a dúvida: um simples por quê?
Mas a isca foi jogada ao mar, aos peixes esfomeados. E isca mordida, o peixe-cidadão agoniza; morte por inanição jornalística. E nem adianta o governo esclarecer todos os números, os portais e blogs “transparentes” se mantêm firmes, se mantêm fakes. Nenhuma retratação.
Ora, joguem o peixe-cidadão de volta ao mar, caros pescadores de ilusão!