A UnP abriu inscrições para o I Concurso de Arte Urbana e as seis melhores ideias serão executadas em um muro exclusivo na UnP. O período de inscrições segue até 21 de março. Os selecionados receberão tintas e sprays para darem vida aos seus projetos artísticos. A melhor arte (que será escolhida pelos jurados) ganhará uma viagem para São Paulo, o polo de Arte Urbana no Brasil, com tudo pago. Se bateu aquela curiosidade, olha os detalhes AQUI.
Artista que sempre abre espaço e divulgação para o samba potiguar, Andiara Freitas lança agora o seu próprio trabalho nesta quarta-feira. Seu segundo álbum “Todos os sambas” será apresentado no Teatro de Cultura Popular Chico Daniel, às 20h. Ingresso: R$ 10, no local. A moça estará mui bien acompanhada por Jubileu (direção musical e violão de 6 cordas), Arthur Canuto (violão de 7 cordas), Paulo Pereira (cavaquinho), Jane Eyre (flauta e sax), Aluizio Pereira (percussão), Toninho Melé (percussão) e Andrey Feitosa (percussão).
A baiana Margareth Menezes agradeceu a Natal ou à Prefeitura pelo alto cachê? Insisto: um único cachê desse pagaria mais 30 artistas locais. Que tal pelo menos diminuir o número de atrações nacionais próximo ano em vez de aumentar, e abrir mais espaço ao talento local? Duvido que surta diferença de público. Que venha Alceu pra Ponta Negra, mais um sambinha maneiro ao polo das Rocas, um porraloca pro domingo das Kengas, tipo Maria Alcina, um Monobloco pra Petrópolis e um Spok pra abertura no Atheneu. E que tal combinar Moraes Moreira pra Ponta Negra e pra Redinha? Com pacote de dois shows dá até para barganhar cachê mais barato. Nessa conta pula fora Elba, Margareth, Ricardo Chaves, Antonio Nóbrega, Cavaleiros do Forró e Grafith. Com essa grana somam mais uns 200 artistas locais na programação. Festa o dia inteiro. Ou chama uns 100 e investe o resto do dinda para incrementar a divulgação pífia que se repete a cada ano (exatamente por falta de investimento). Faz o teste, Cadu Alves. O carnaval de Natal foi reerguido, sim. Méritos indiscutíveis da sua administração (bote na conta também o trabalho de divulgação pela Secretaria de Turismo do Estado). Mas dá pra economizar e diminuir o ranço com a classe musical potiguar.
Não é só Natal que tem seu multiculturalismo no carnaval. Parnamirim adotou a mesma alcunha, mas com o diferencial de uma programação apenas com artistas locais, montada pela Fundação Parnamirim de Cultura. Já passaram pelos palcos as bandas Dusouto, Rosa de Pedra, Nara Costa, Rodolfo Amaral, Luisa & Os Alquimistas, Luna Hessee muito mais. É possível!
O Palco Praia fica nas proximidades da Barraca do Duca, em Pirangi do Norte. E o Palco São Sebastião, na Praça São Sebastião, também em Pirangi.
11h – Tânia Soares apresenta canções do saudoso compositor potiguar, Dosinho.
13h – Alphorria apresenta um show com o melhor do reggae potiguar.
15h – Plutão Já Foi Planeta apresenta o melhor do seu repertório indie pop.
20h – Orquestra Metamorfose apresenta muito axé, swingueira e frevo.
22h – Orquestra Frevo do Chico, composta por 30 músicos e cheios de frevo e marchinhas clássicas.
00h – Isaque Galvão fecha a programação com show baseado em canções populares de carnaval.
O queniano Ngũgĩ wa Thiong’o (pronunciado “ingugui uá tiongô), tem publicado no Brasil o romance “Um grão de trigo”, em 2014, pela Alfagara e, “Sombra em Tempo de Guerra”, em 2010, pela Biblioteca Azul, primeira parte de uma trilogia ainda não finalizada de memórias. Autor de novelas, peças teatrais, contos e ensaios, da crítica social à literatura infantil, estudou inglês na Universidade de Makerere, em Uganda, e é o fundador e editor da revista Mutiiri.
Das obras escritas em inglês, estreou com o romance Weep not, Child (1964). Em 1977 escreveu uma peça com críticas políticas propondo a espontaneidade e a participação do público na execução da peça como possibilidade de libertar o processo teatral do “sistema geral de educação burguês”. A peça não teve boa acolhida pelo autoritário regime queniano e o autor passou mais de um ano na cadeia. Ainda na cela, escreveu no papel higiênico o romance Devil on the Cross.
Desde então, passou a escrever no dialeto gĩkũyũ, da língua bantu, por não gostar de adotar como sua a língua colonial, afirmando que “as línguas africanas estão muito vivas, mas, se não as usamos para escrever, podemos levá-las à morte. Meu idioma é o gĩkũyũ, e com ele posso brincar mais com a musicalidade do que fazia em inglês.” Renunciou à língua inglesa, à religião católica e ao seu nome de batismo, James. Foi libertado da cadeia por intermédio da Anistia Internacional que o entendeu como prisioneiro de consciência. Saiu de seu país e, nos Estados Unidos, ensinou na Universidade de Yale durante alguns anos, bem como na Universidade de Nova Iorque, nas áreas de “Literatura Comparada” e “Performance Studies”.
Ngũgĩ wa Thiong’o e o autor deste texto, Wilson Coêlho
Seu romance “Um grão de trigo” se ambienta nos quatro dias que antecederam a independência do Quênia. Tanto na narrativa quanto nos diálogos, o autor explora a história de seu país a partir do colonialismo e do neocolonialismo, a identidade nacional, a civilização e a barbárie, a construção da língua literária, assim como a cultura da memória. O herói não é um personagem, mas a comunidade onde a história se passa. No processo de independência do Quênia, em meio aos assassinatos e torturas cometidos pelos ingleses, mostra-nos como as paixões, as traições e o medo moldaram cada um dos personagens, aliás, entre os que têm coragem e os que têm medo, os que têm medo são de certa forma superiores, considerando que os que têm medo precisam vencer a si mesmos para enfrentar a luta. Os que têm medo do escuro e decidem caminhar nas sombras, assumem um gesto de heroísmo moral, ao passo que os corajosos se quebram ou experimentam um heroísmo meramente factual e de pequenos momentos.
O homem branco chega ao país segurando firme o livro de Deus com ambas as mãos e se autoproclamando o mensageiro do Senhor, numa língua que era só doçura e com humildade comovente, vangloriando a Inglaterra dominada por uma mulher, a rainha Elizabeth. Ao converter os quenianos, os ingleses começaram a pregar a fé estranha aos costumes da terra, afrontando suas crenças, pois pisavam em lugares sagrados para mostrar que nenhum mal podia recair sobre os protegidos pela mão do Senhor. A Bíblia foi trocada pela espada.
Os ingleses diziam para ajoelhar, fechar os olhos e rezar. Os quenianos ajoelharam, fecharam os olhos e rezaram. Os olhos do ingleses continuavam abertos para ler a palavra. Mas quando os quenianos abriram os olhos, suas terras haviam sumido e a espada flamejante estava em guarda. Os ingleses “aconselhavam” que os quenianos deveriam depositar seus tesouros no céu, onde nenhuma traça os comeria. Mas eles depositaram os seus na terra, na terra dos quenianos.
Este blogueiro tem um livro semipronto sobre a história da Redinha. E, claro, o carnaval é parte fundamental desse escrito. E dentro desse universo, o bloco Os Cão, que desfila nesta terça, é talvez o mais emblemático da “praia bonita”, como se referia Cascudo à Redinha.
A história do carnaval em Natal só começou em 1877, ano em que foi encontrado o primeiro registro de uma movimentação carnavalesca, segundo o pesquisador Gutenberg Costa.
Na praia da Redinha, somente nos idos da década de 1930, quando da chegada de seus veranistas, o primeiro “cordão” de carnaval – naquela época, os “blocos” eram chamados de cordões – passou pelos arruados de areia da praia.
As ideias de criação dos blocos quase sempre fluíam nos alpendres das casas da costa marítima. Assim nasceu o bloco Chiquitas Bacanas, composta por homens vestidos em roupas femininas percorrendo as principais ruas da praia, ao som de músicas executadas por instrumentos percussivos e de sopro.
O segundo bloco de veranistas e moradores da Redinha foi o Dois de Ouro, seguindo-se de Jacu no Pau.
Na década de 1960, o carnavalesco Hélio Rocha marca época fazendo prévias, criando e financiando sua própria bandinha. Percorria ruas “assaltando” bares e amigos. Vieram, então, Os Brasinhas e os Índios Tabajaras.
Em 1962, precisamente em uma terça-feira de carnaval, um grupo de amigos, moradores da Redinha, saiu bebericando nos bares e mercados da praia, quando o jovem José Gabriel, vulgo Zé Lambreta, desapareceu retornando horas depois com lama no corpo, trazendo chifres e rabo, aproveitados de galhos de mangue. Lançava-se ali o bloco mais famoso da Redinha.
Vamos então contar essa história:
O bloco mais original e tradicional da Redinha nasceu da imaginação criativa de alguns de seus moradores. Numa manhã de carnaval, no distante ano de 1962, Francisco Ribamar de Brito (Dodô) e seu irmão, Armando Ferreira de Brito (o Gago), estavam com Francisco Clemente da Silva (o Chico Baé), Francisco Valdécio (Chico do Cabo) e Djalma de Andrade (Uá) quando seguiram todos para casa de José Gabriel de Góes (Zé Lambreta).
De lá, foram para o Rio Doce, chamado na época de Porto D’água, “para procurar pitu nos buracos da beira do rio”, explicou Dodô, hoje com 72 anos de idade. O intuito era assar os camarões ali mesmo, em uma pequena fogueira improvisada, para tirar o gosto da cachaça Olho D’água, que levaram para tomar em quengas de coco.
Entre um gole e outro, ao sabor do camarão assado, Chico Baé pegou um punhado de lama e passou sobre o cabelo. “Ele fez para o cabelo dele ficar estirado”, brinca Dodô. Vendo a “presepada”, Zé Lambreta teve a ideia: “Vamos se melar todinho e sair assustando o povo!”.
Na certa, Zé Lambreta não imaginaria que sua irreverência espontânea um dia, mereceria destaque em plena Sapucaí, no carnaval do Rio de Janeiro de 1998, no enredo da escola de samba Salgueiro, que homenageava os 450 anos de Natal.
Dodô conta em detalhes que Chico Baé colocou ainda dois “charutos do mangue” (sementes do mangue) na cabeça e um “rabo de salsa” atrás (uma espécie de capim de beira de rio). “Aí eu disse: ‘Tais todinho um cão’”, afirmou Dodô, dando origem ao nome do bloco.
Para incrementar a brincadeira, cada um desfilou pelas ruas da Redinha batendo em latas de goiabada, cantando: “Ainda tem cão dentro / ainda tem cão / rela rita / rita rela / ainda tem cão dentro dela”. “Já tínhamos criado todo tipo de fantasia; num tinha mais o que inventar não”, comenta Dodô, morador há mais de 60 anos da Redinha, sempre na rua José Herôncio de Melo, ainda sob a origem do bloco.
Os sete discípulos carnavalescos do “coisa ruim” pretendiam encerrar seu desfile inusitado no Mercado Público, no barraco de Dalila Januário. Mas o então administrador do Mercado, João Caetano de Barros, pediu para que não entrassem com medo de melar suas paredes. Dodô, então, no meio de seu relato ressaltou: “A gente não queria melar ninguém. Era só brincadeira sadia”.
Nos anos seguintes o número de “cãos” crescia, mas a ideia da “brincadeira sadia” de Dodô e seus amigos fora se perdendo com o tempo.
“No ano seguinte já eram cerca de 15 pessoas que se melavam de lama. O número de integrantes crescia todo ano. Aí deixei de brincar porque o povo só queria saber de se embriagar e melar parede. Eu já estava casado e preferi ficar em casa”, conta Dodô.
O pesquisador e folião do bloco por alguns anos, Gutenberg Costa, disse que no início, o bloco Os Cão, embora surgido de uma brincadeira sem compromisso, era organizado. “Não passávamos sujos pelas calçadas nem entrávamos no Mercado Público”.
FOTO: ED FERREIRA/AE.
Ele afirma que os mais antigos saíam pelas ruas carregando um saco de estopa, onde recolhiam bebidas, alimentos e até dinheiro dos veranistas que contribuíam para o carnaval daqueles nativos.
“Os veranistas já ficavam com um litro de cachaça ou algum tira-gosto do lado de fora. Quando não tinham nada, davam algum dinheiro. Infelizmente, hoje o ‘melaceiro’ que provocam está incontrolável”, lamenta o pesquisador.
Naquele primeiro dia de vida de Os Cão, os sete amigos findaram a brincadeira por volta das 11 horas, quando saíram das proximidades do Mercado em direção ao trapiche para tirar a lama. Durante a tarde, ainda iriam curtir o carnaval no bloco Os Brasinhas.
Havia uma revista em quadrinhos na época cujos personagens eram diabinhos, chamado Brasinhas, que deu origem ao nome do bloco. Dodô lembra com nostalgia o carnaval da época: “Todos os veranistas contribuíam com dinheiro para ajudar o bloco. Éramos 25 pessoas. Naquela época era muita gente. Na Redinha num tinha quase ninguém. A gente fazia os ‘assaltos’ (os foliões chegavam de surpresa nas casas de veraneio para beber e comer). Tinha uísque, cachaça, tudo no mundo; éramos sempre bem recebidos, mas acabou por causa de uma briga por uma pata de caranguejo, em um dos assaltos que fizemos. Os veranistas ficaram com medo de receber a gente, depois disso”.
Dodô abre um sorriso acanhado ao mostrar um dos uniformes dos Brasinhas, que guarda com orgulho: uma espécie de macacão em tecido grosso, de cor branca, com um emblema de um “B” no lado esquerdo do peito e o nome Brasinhas, em letra de forma nas costas. Ele afirma ainda que o bloco durou cerca de 10 anos.
O cordão ou clube Dois de Ouro, segundo memória de Dodô, foi o primeiro a desfilar pelos arruados de areia da Redinha. Os cordões eram manifestações carnavalescas ainda oriundas do pastoril. Seus integrantes eram bem organizados em uniformes coloridos e sons. O baliza ficava à frente e, com os instrumentos em mão, era quem controlava o ritmo dos foliões. Além da Redinha, o Dois de Ouro também apresentava-se no centro de Natal, nos bairros de Pajuçara e adjacências.
Dodô lembra das histórias contatas pelo pai. “Meu pai dizia que era muito bonito. Vinha gente do Pajuçara, Jenipabu e a Redinha toda participava”.
Ao comentar sobre as cores do bloco, Dodô foi repreendido pela senhora que se encontrava na casa vizinha, sentada em uma cadeira de balanço, que desde o começo escutava a conversa, vendo aquele tempo arrastado da Redinha passar. Era sua irmã, Maria Ferreira de Brito, 11 anos mais velha, que o corrige: “Não era amarela e branca, era amarela e verde a fantasia, de um cetim muito bom. No percurso, eles iam para a Estiva, a Boca da Ilha, Pajuçara. Papai passava três dias sem chegar em casa”.
O som que puxava o bloco, lembra Maria, vinha de um pandeiro, um cavaquinho e dos instrumentos que o “baliza” empunhava. “Papai era o baliza, o cara que ficava na frente, segurando uma mão de pilão de madeira, com várias fitas amarelas amarradas. Tinha também o estandarte. Lembro que era amarelo. Mas era tão lindo!”, completa Maria de Brito, tomada pelo saudosismo.
De acordo com Dodô, o pesquisador João Alfredo, também morador da Redinha, tem uma versão diferente sobre o primeiro bloco de carnaval da praia. Segundo ele, o bloco Vassourinhas foi o primeiro a desfilar pelo bairro. “O primeiro foi o Dois de Ouro. Esse Vassourinhas era de Recife, não tem nada a ver com a Redinha”, retruca Dodô.
Um outro bloco antigo que pertenceu à memória carnavalesca da Redinha e que, segundo as lembranças de Dodô, foi o segundo bloco a desfilar por lá, foi o Malandros do Morro, fundado em 1963. Dessa vez, Dodô foi mais convicto ao lembrar das cores do bloco e não sofreu interferências da irmã, que ouvia atentamente.
“Era uma calça preta e uma camisa amarela; roupa de malandro mesmo!”. Dodô lembra ainda que no bloco tinham cerca de 15 componentes e que foi fundado por Pedro Ferreira de Brito, no Buraco do Tatu, onde hoje é a avenida desembargador José Medeiros Filho.
A memória prodigiosa de Dodô guarda segredos de histórias que nem mesmo os jornais antigos ou livros registraram. Gutenberg Costa passou longos cinco anos em intensa pesquisa em arquivos de jornais, livros, documentos, relatos e registros por mínimos que fossem para incrementar sua obra. No entanto, o pesquisador, embora tenha conversado algumas vezes com Dodô, desconhecia o bloco Malandros do Morro.
Sinto falta dos bons butecos de antigamente. Butecos escritos com “u” mesmo, e sem pedir licença poética à língua portuguesa porque buteco que é buteco se impõe como instituição cultural sem desejar a alcunha. Pergunte ao Vinícius. Daquele, uma simples discussão a respeito da alma feminina virava poemúsica. E o poetinha sabia onde achar a melodia certa da amizade em um bom buteco: “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”.
Sinto, sinto, sim, falta de um roteiro lírico e sentimental para as manhãs dominicais ou para um encontro com amigos em horário agendado com a hora da sombra. Um cantinho afetuoso onde o garçom traz o de sempre sem perguntar; uma mesa com o time completo ou no máximo um ou outro contundido pela ressaca do dia anterior; de onde brotem causos e causas, filosofias e teorias de “butiquin” que costumam salvar a vida do perigo da realidade crua, porque butecos são também palcos da alegria ilusória e necessária.
Mas, o que é buteco? Não cabe descrição objetiva. É a mulher que você olha e se apaixona pelo simples jeito de caminhar. Você se casa, a paixão dura alguns anos até virar amor, companheirismo. Os mais simplistas defendem a ideia de que buteco precisa de banheiro, cerveja gelada e pronto. Nem oito nem oitenta. E nem quarenta. Pode ser um vinte e seis ou um cinquenta e oito. Ora, não precisa mulher de peito, bunda e pronto. Carece do charme; de uma pintinha no rosto; e algumas estrias. Ora, buteco perfeito é bar.
Butecos são saraus de discussão. É um passeio lírico e informal pelas reminiscências banais e sentimentais de aqui e alhures. Ali moram poetas sem poesia; cineastas sem filmes e boêmios os mais autênticos. Moram porque viver é morar; é exercer a arte do encontro recomendada por Vinícius. E os butecos têm sempre o tapete vermelho estendido aos profetas ébrios e especialistas de toda sorte. É o corredor por onde passam anônimos e antônimos.
É disso que sinto falta em Natal. Ainda se vê um ou outro buteco acolhedor no Centro Histórico, Ribeira, Redinha ou tomados por uma freguesia já dona do lugar, mas nenhum como extensão da minha varanda; um cantinho-refúgio, longe da sujeira invisível, gordurenta e hipócrita dos bares da vida.
O bloco As Raparigas é dos mais tradicionais do polo carnavalesco mais tradicional: a Redinha. Surgiu 14 anos depois de Os Cão e já conta com 41 anos de fundação, desde 1976. E claro, com um nome desses o escracho não poderia deixar de ser a marca registrada da troça. Não são bem fantasias de homens vestidos de mulher e com certeza a “produção” das vestimentas deixa a desejar. E nisso reside a essência irreverente do bloco As Raparigas. A concentração dos foliões acontece na Praça do Cruzeiro, no torrente sol do meio dia. O percurso puxado por uma numerosa orquestra de frevo deságua no Nana Banana, onde a festa continua.
Se a produção dos disfarces no bloco As Raparigas da Redinha são no improviso, no bloco As Kengas a coisa muda de figura. A sofisticação das fantasias dá o tom, sem deixar o deboche de lado.. São 34 anos de presença alegre no Centro-Histórico. A partir das 16h toda área da praça Sete de Setembro será ocupada pelo bloco que terá a realização de seu tradicional Desfile que elege a Kenga do Ano, entre 50 candidatas. O desfile mais um ano será comandado e narrado pelas personagens Jarita e Shakira. A Abertura será com muito frevo, axé, samba e sucessos carnavalescos com a madrinha potiguar das Kengas em 2017, a cantora Jaina Elne. Depois do Desfile entra em cena o mito, a diva em deboche que será Madrinha Nacional, pela segunda vez, Maria Alcina. O encerramento será com a orquestra Frevo das Kengas, com 40 músicos. Este ano o bloco desfila com o tema ‘Made In China’.
A Banda do Siri é dos mais tradicionais e mais prestigiados blocos da Redinha. Uma consistente orquestra de metais composta por 50 músicos ecoa seu frevo nas tardes e noites da praia, e arrasta uma média de cinco mil pessoas ao dia, sendo a única troça da Redinha e, quiça, do Estado, a desfilar nos quatro dias de carnaval, sem cordas ou cordões, como manda a tradição do reinado de momo naquelas bandas da cidade. O bloco foi fundado em 5 de dezembro de 1988 pelo atuais diretores Fábio Henrique Lima e Hélio Rocha, além do saudoso João Alfredo. A concentração dos foliões se dá na Praça do Cruzeiro, com percurso até o Largo João Alfredo. Uma das marcas do bloco são seus bonecos gigantes e estandartes coloridos. São quatro bonecos em homenagem a figuras singulares da Redinha, como o próprio João Alfredo.
O grande destaque do carnaval de Ponta Negra é o bloco Poetas, Carecas, Bruxas e Lobisomens, que guarda como princípio o incentivo às fantasias e recuperar as várias culturas e tradições, como máscaras e adereços, adequadas ao estivo das tradições potiguares. Os bonecos do bloco têm um significado. Cada personagem foi pensado e criado à partir de uma ideia que representasse o bairro de Ponta Negra, seu povo, seus moradores e visitantes, com todas as diferenças e características. Cada personagem representa um grupo de pessoas, embora elas possam se sentir identificadas em vários personagens. É a ideia de identidade em torno de um Bloco com suas particularidades e desigualdades. São 14 anos de desfile. Neste domingo, a concentração do bloco acontece às 16h na Praça Ecológica de Ponta Negra.
Os Grandes Carnavais tem feito a festa na Zona Leste. E neste domingo, o bloco Loucos Por Carnaval convida blocos de Tirol, Petrópolis e Ponta Negra para se misturar numa alegria só. Mas, diferente dos blocos acima, nesta troça tem ingresso. A pulseira de acesso custa R$ 50 nas Lojas o Boticário do Cidade Jardim, do CCAB da Afonso Pena e pontos de venda em Petrópolis. Todo mundo convocado: “Enquanto Campos Corre; Sales só Caminha”, “Se Parar Eu Caio”, “Kd Xoxó”, “Nem Ligue”, “Aponta”, “Se Parar Eu Caio”, “Se Brincar Eu Pego”, “Banda da Praia” e “Bloco do Magão”. A pulseira dará acesso aos Grandes Carnavais, ao bloco Loucos por Carnaval ao Som de Frevo do Xico e a assistir ao show do Monobloco e de grandes artistas locais na área do bloco na Praça Cívica. A programação começa às 16h com Diogo das Virgens. Às 18h tem Jolian Costa. Às 19h, Frevo do Chico. O percurso sai da Rua Seridó e finaliza na Rua Potengi. Na Praça Cívica a programação começa às 20h30 com Pedrinho Mendes e Sueldo Soares. Às 22h30, Banda Monobloco (RJ). E às 00h30, DJ Mandaka e Bethoven no Sax.
Um dos maiores poetas da língua portuguesa, Mia Couto postou em sua fanpage, com mais de 465 mil seguidores, a belíssima canção Amanhecerá, do poemúsico Wescley Gama em parceria com a poetisa Iara Maria Carvalho, ambos currais novenses. A postagem já vai com mais de 50 compartilhamentos.
A música é um dos destaques do álbum Campos Grandes Reunidos, o terceiro lançado por Wescley, depois do “chuva estiagem água lampiões”, lançado em 2007 mais como um experimento poético, e do excelente Seridolendas. A canção é um dueto de vozes, entre o grave de Wescley e o contraponto agudo de Milena Carvalho, irmã de Iara.
Fico à vontade para elogiar a música porque o fiz já publicamente à época do lançamento do disco e para o próprio Wescley, quando lhe contei da predileção da minha filha de 3 anos pela música quando ia à escola. Convidado para colaborar com o Prêmio Hangar, até inclui essa música entre as cinco mais bonitas do ano passado.
Amanhecerá traz a essência do álbum Campos Grandes Reunidos, repleto de verdades universais emergidas de qualquer aldeia, perfeitamente captadas por qualquer alma minimamente sensível, apenas com o recheio das lembranças e vivências do compositor, filho da riqueza de secas e poesias, de uma Currais Novos de tradições de aboio e repentes; do Seridó de Felinto, de Bembem Dantas, do Casarão da Poesia; de um Seridó pulsante e parte desse processo maluco de evolução, da modernidade líquida de Zygmunt Bauman, citado na canção.
Vale salientar as influências de Clarice Lispector na composição da letra. A frase “Uma maçã no escuro” foi tirada de sua poesia, no livro ‘A maçã no escuro’: “A existência é como apalpar uma maçã no escuro – sentimos que é uma maçã, mas não podemos vê-la.” Clarice escreveu o livro ouvindo exaustivamente a Quarta Sinfonia de Brahms.
No último post que escrevi falei dos momentos diferentes da cena musical potiguar dos anos 80 e deste novo século. Comentei que, embora nos dois cenários a qualidade da música autoral fosse boa, as chances de visibilidade eram bem distintas já que hoje há uma democratização na difusão da música nos meios digitais e uma crescente da música independente.
E vejam a notícia quentinha de hoje, totalmente comungada com o que eu disse: um produtor de um dos canais mais legais da TV Paga, o Music Box Brazil acessou o canal Dosol TV no youtube, gostou do que viu – são 1077 vídeos de música hospedados lá – e lançou proposta ao coleguinha Anderson Foca para exibir um especial sobre o decano Festival Dosol.
O Music Box Brazil tem mais de 11 milhões de assinantes e atingem praticamente todas as tvs por assinatura do país. É para essa galera que serão exibidos oito episódios do Festival, só nessa primeira leva. Há possibilidade ainda de expandir essa parceria, segundo Foca.
E o primeiro programa do Festival Dosol estreia já nesta quarta-feira de cinzas na Music Box Brazil. Mas quem estiver de ressaca da folia momesca, não se preocupe. Vão ter várias reprises. Agora, se ligue: os episódios inéditos passam nos seguintes dias e horários: nesta quarta às 22h30, e de quinta (2) a quarta (8), às 22h. Música local, nacional e até gringa pra galera ver.
As secretarias de Cultura e de Serviços Urbanos entregam hoje à cidade do Natal o símbolo do Carnaval Multicultural que retrata nossa cultura e as tradições da folia potiguar.
Arte de Flávio Freitas
O boneco gigante Zérimum, criação do artista plástico Flávio Freitas, será levantado hoje às 18h em Ponta Negra.
Zérimum tem 12 metros de altura e base de 3 metros. O boneco é um Galante do nosso Boi de Reis e carrega um instrumento de sopro desfilando alegria pela cidade.
O boneco tem assinatura do mestre Gouveia, escultor e renomado criador dos bonecos do Carnaval de Olinda. Gouveia passou os últimos 15 dias em Natal trabalhando na obra que será entregue hoje à população como marco do Carnaval Multicultural.
Trata-se de uma ação inédita e que inicia uma nova era na nossa folia, com personagens e tradições marcantes da nossa cultura popular.
Para Dácio Galvão, secretário de Cultura de Natal, a criação do boneco é mais uma marca forte que o Carnaval passa a ter e um dos símbolos da nossa cultura.
“Ele é muito representativo, criado por um artista nosso que é Flávio Freitas e feito por outro grande artista que é Gouveia de Olinda”, comentou.
Para a entrega do Zérimum está previsto um banho de luzes para que ganhe o boneco ganhe mais destaque, além da presença de bandas e fanfarras que irão recepcionar a sua estreia no Carnaval de Natal.
Você pensa que os problemas deste Brasil varonil são esquecidos durante a folia de momo? Não para os bloco Os Imortais. Fundado pela Frente Potiguar em Defesa da Previdência, o bloco vai desfilar neste sábado pela primeira vez no Carnaval de Natal. A concentração está marcada para as 17h, na Praça do Gringos, em Ponta Negra, e promete misturar folia e protesto contra a Reforma da Previdência do governo Temer. A brincadeira é séria e já tem camisa, estandarte e será animada por uma orquestra de frevo.
Tudo bem que carnaval permite você soltar a franga do jeito que gosta. Mas um bloco carnavalesco teve a ideia de “restringir” essa brincadeira ao imenso universo cinematográfico. Sim, a ideia é vir fantasiado de algum personagem da sétima arte. Pelo terceiro ano consecutivo o Bloco do Goiamum desfila assim no sábado de carnaval, pelas ruas de Ponta Negra. Este ano a concentração acontece no Bar dos Doidos, a partir das 15h. E já imaginou uma tropa do Star Trek protegendo o coringa do Batman, o Superman, uma Mia Wallace do Pulp Fiction para fazer o charme; também vale a fantasia do Cisne Negro como bailarina e maquiagem de rosto; o Tarzan para um improviso rápido, e por aí vai. Tudo sem camiseta, sem corda e só com a adesão da imaginação.
Folia de carnaval e filosofia zen se misturam, sim. O Cores de Krishna dá início no Reinado de Momo com concentração a partir das 13h na Samosaria Hare, na rua Praia de Búzios, 9128, Ponta Negra, saindo em cortejo com uma banda de jovens músicos de Pium, devotos, simpatizantes e carnavalescos, às 16h, em direção a Praça dos Gringos onde faz performance. Além da bandinha que executará afoxés, maracatus e o tradicional Hare Krishna, o bloco contará com alegorias com as deidades e o casal Krishna e Radha, inspiradores do bloco. Depois de cânticos e danças na Praça dos Gringos o bloco seguirá o tradicional Carecas, Poetas, Bruxas e Lobisomens até o Praia Shopping e depois retornará para a praça onde encerrará sua primeira saída como bloco carnavalesco em Natal. A recomendação é que os foliões se fantasiem com a cor azul no rosto e com temática indiana na indumentária.
À luz dos pressupostos estéticos do Realismo, se faz necessário uma apreciação crítica do conto “Singularidade de uma Rapariga Loura”, de Eça de Queiroz, onde é possível apontar alguma moralidade embutida no desfecho do conto.
“Os Marcarios eram uma antiga família, quase uma dinastia de comerciantes, que mantinham com uma severidade religiosa a sua velha tradição de honra e escrúpulos”. A Revolução Industrial, iniciada no século XVII, entra numa nova fase, caracterizada pela utilização do petróleo e o desenvolvimento do comércio. O protagonista trabalha em um armazém quando conhece a formosura de uma mulher loura.
Essa nova sociedade serve de pano de fundo para esse conto de Eça de Queiroz, que pode gerar uma postura ideológica da realidade, preocupando-se com a verossimilhança no arranjo dos fatos selecionados, unificando, apontando numa direção. O autor expressa uma certa preferência por personagens populares e vulgares: um tradicional comerciante cego de amor por uma loura, cujo comportamento é condenável e moralmente delituoso.
Na casa de Vilaça há uma descrição de uma reunião social burguesa, segundo os padrões do romantismo. Ideologicamente, o autor é visivelmente antimonárquico, assumindo uma defesa clara do ideal republicano. Nega a burguesia a partir da célula-mãe da sociedade: a família. A hipocrisia é destacada com uma análise completa do ocorrido na casa dos Arcos, quando uma moeda de ouro é subtraída por Luíza (a rapariga loura) e o nosso herói finge não perceber o roubo, o primeiro sinal de um comportamento estranho, ajudada por um tal “amigo do chapéu de palha”, que mais tarde engana o próprio Macário. Tempos depois, o tio do protagonista desconfia que Luísa também subtrai uma caixa de lenços, mostrando uma personagem complexa, característica do Realismo.
Quando Macário “pediu licença para casar”, o tio Francisco o expulsou de casa para que ele pudesse enxergar a realidade da vida. A cada dia, nosso herói ficava mais pobre, mas não deixava de ver a amada todas as tardes, e as vezes naqueles encontros Luíza tinha sono: “era muito singular o temperamento de Luíza. Tinha o caráter louro como o cabelo”.
Quando Macário não tinha mais dinheiro, Luíza o proibiu de vê-la: “Macário rompeu a chorar, os soluços saíam violentos e desesperados”. Nesse momento, imbuído pela paixão, o protagonista foi procurar lucros em Cabo Verde para poder casar com sua querida Luíza. Quando voltou da viagem perdeu todo o dinheiro por ser fiador de um “amigo do chapéu de palha” e quando se viu só e pobre, destacou-se a chorar.
Mesmo diante de tantas evidências acerca da anormalidade do comportamento de Luíza, Macário continuava cego pelo amor e pela paixão. Numa loja do ourives, quando o casal estava na plenitude do amor e da alegria, Luíza roubou um anel e o “caixeiro começou a olhar fixamente para Macário”, desconfiando da sua noiva. Foi nesse momento que o nosso herói percebeu que sua noiva era uma ladra e a mandou ir embora. A moralidade do herói, por ser um homem honesto, choca-se com o comportamento cleptomaníaco de sua amada, que é rejeitado por ele no final do conto.
Os incidentes mostrados no conto “Singularidade de uma Rapariga Loura” decorrem do caráter das personagens e os motivos humanos que dominam a narrativa. São seres humanos completos, vivos, cujos motivos e emoções, o Realismo retrata e interpreta com fidelidade. Daí a relação com a psicologia humana.
A música potiguar vive seu melhor momento. Não sei se em qualidade, realmente eu precisaria mais conhecimento. Mas com certeza em quantidade e visibilidade. E a comparação recai diretamente à geração dos anos 80, com a profusão da música autoral potiguar na voz de tantos talentos. Foi nosso outro grande momento.
Banda Mahmed. Foto: Luana Tayze
Vejo uma explicação para isso. A música potiguar sempre esbarrou nas cercanias do Estado. Nossos vizinhos exportavam celebridades da música nacional. A Paraíba com Zé Ramalho e Elba Ramalho e na década de 90, Chico César. E a Turma do Ceará. E o Manguebeat. E o axé. E o reggae maranhense ou o samba de Alcione. A MPB do sergipano Djavan…
E tínhamos qualidade tão boa ou até melhor do que a maioria deles. Quanto mais adentro a obra musical de Babal mais emputecido fico com a muralha potiguar. Pedro Mendes exala música pelos poros. E o Cantocalismo, e o Flor de Cactus. Canções com nosso jeito potiguar. Tínhamos uma identidade musical, sim. Mas passamos batido pelo brasileiro.
Acontece que aquela década foi dominada pela indústria fonográfica, pelo jabá das rádios, pelo poder da mídia televisiva. E quem não estava no Chacrinha ou nos grandes centros, esquece. E assim a música autoral potiguar dos anos 80 permaneceu aqui. E cabe aos mais jovens resgatar porque é realmente excelente.
Hoje a galera chuta o balde pra Rede Globo. Já cansaram de tentar as rádios. E se a muralha permanece, as canções viajam mundos em plataformas digitais e chegam a produtores de festivais, a críticos, aos sites especializados em música, e daí para festivais independentes com milhares de pessoas. E a coisa gira. E flui como nunca houve por aqui.
Eis a diferença. Anos 80 presos no cercado potiguar. Século 21 viajando por fibras ópticas. E o que sempre tivemos de bom agora se torna visível, reconhecido. Nos primeiros dias deste site até enumerei 10 razões para acreditar que a música potiguar é top no Brasil e no mundo. É e foi no século passado também.
DO REMUIN SELETIVO
Esse embromation todo para mostrar que, se não temos a identidade musical local de antes, mantivemos a qualidade e aumentamos a quantidade. E se somos muitos, temos poder. E para ter poder, precisa união para ser mais. E eis que, ano passado, surgiu a Rede de Música Independente de Natal (Remuin) para organizar a bagaça.
Após promover um festival de música dentro da programação do Natal em Natal ano passado, projetos novos estão em pauta. Um deles é o motivo deste post. Trata-se de um álbum duplo, para voltar aos anos 80. Mas como somos moderninhos da Geração Y, é mesmo uma coletânea com nada menos que canções de 44 bandas e artistas potiguares.
Um recorte muito interessante do que temos de mais atual. São dois discos, sendo o Selecta (capa vermelha) com 32 canções de bandas cadastradas no Remuin e mais alguns convidados, a exemplo do grupo de rap Time de Patrão e do confrade Ras Barack. O outro Selecta (capa azul) abrigou 12 músicas instrumentais, não menos sensacional.
Para escutar todas elas, basta clicar AQUI.
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A Galeria Sesc abrirá seu calendário de exposições 2017 no dia 8 de março. O projeto do Sesc RN, instituição do Sistema Fecomércio, iniciará com a exposição “Pelo Pescoço”, do artista Daniel Torres. A vernissage será às 19h30 no espaço, que fica no Sesc Cidade Alta, em Natal. Já a mostra fica em cartaz até dia 19 de abril, das 9h às 19h. A entrada é gratuita.
A escolha da data de abertura da exposição não foi à toa: no 8 de março, Dia Internacional da Mulher, “Pelo Pescoço” pretende jogar luz sobre a violência contra as mulheres. Os 16 desenhos que compõem a mostra foram inspirados numa matéria televisiva sobre o caso de duas mulheres mortas no estado, ambas pelo pescoço. Desta inquietação artística diante de fatalidades que envolvem o feminino, chegou-se ao pescoço como mote e ponto de partida. A imagem da girafa na obra de Daniel Torres consiste eu uma metáfora para falar de machismo e feminicídio não só no grafismo, mas também nos pontos e linhas.
“O pescoço é um dos pontos fracos dos vertebrados, uma vez que, seccionando-o, o animal perde a vida, não só pela perda de grande quantidade de sangue, como principalmente por deixar de haver comunicação entre o cérebro e o coração (razão e emoção)”, explica o artista sobre a escolha do membro em seu trabalho. As cenas ilustradas nas obras tentam, portanto, despertar a consciência e provocar a reflexão do público quanto à violência contra a mulher. Os desenhos de “Pelo Pescoço” servirão também para um espetáculo de dança, cuja estreia está prevista para maio de 2017.
Em sua terceira edição, o projeto Galeria Sesc selecionou seis trabalhos de artistas potiguares para exposições no Sesc Cidade Alta, unidade localizada em Natal. Foram escolhidos para expor este ano entre março e dezembro: “Pelo Pescoço” de Daniel Torres “Olhar mais atento, do coletivo Urban Sketchers Natal; “Refugo”, de Elisa Elsie; “Caixa de lápis”, de Assis Costa; “Arremedos”, de Natã Ferreira; e “Duna: a busca de um si a que pertencer”, de Mariana do Vale. Cada selecionado receberá um prêmio no valor de R$ 2.300 brutos.
Além do cachê, o Sesc disponibiliza recursos técnicos e financeiros para a produção das exposições, assessoria em arte-educação e mediação cultural, totalizando R$ 48 mil investidos.
A Galeria Sesc é o único espaço cultural de Natal que conta com mediadores em arte visuais durante o período das exposições. Durante todo o ano, a Galeria conta com quatro mediadores, que desenvolvem o papel de elo entre o público visitante e as obras de artes. Além de fomentar o talento dos artistas locais, a iniciativa também democratiza o acesso a exposições artísticas e suscita no público o interesse pelas artes.
O quê? Galeria Sesc inicia calendário de exposições 2017 com “Pelo Pescoço”
Vernissage? 8 de março, às 19h30
Período da exposição? De 09 de março a 19 de abril, das 9h às 19h (exceto finais de semana e feriados)
Onde? Sesc Cidade Alta (Rua Coronel Cascudo, 33, Cidade Alta)
ENTRADA GRATUITA
A produção do 1º Concurso Dosinho de Marchinhas Carnavalescas apresentou hoje (23/02), ao vivo na Universitária FM, as dez composições classificadas na primeira etapa do concurso que visa contribuir com as tradições do carnaval potiguar e promover uma saudável e divertida disputa entre os talentos da nossa música.
O concurso homenageia o compositor Claudomiro Batista de Oliveira, o Dosinho – que se notabilizou no cenário carnavalesco como importante e criativo construtor de marchinhas gravadas por vários intérpretes brasileiros.
Em sua primeira edição o Concurso Dosinho teve satisfatórias 34 inscrições entre marchinhas, frevos e canções carnavalescas. 14 autores assinam as 10 classificadas.
A comissão para seleção das dez semi finalistas do concurso foi formada pelos músicos e compositores Mirabô Dantas e Romildo Soares e pelo produtor cultural e idealizador do Concurso Marcelo Veni. Duas convidadas participaram como ouvintes e comentaristas das marchinhas acompanhando todo o processo de avaliação e definição das classificadas.
Na próxima etapa a curadoria ganhará novos integrantes para selecionar e divulgar, no dia 2 de março, as 5 finalistas para a final do concurso que acontecerá dia 7 de março, a partir das 19h, com apresentações ao vivo, no auditório do Sesc-Cidade Alta. A entrada do público e de torcidas dos finalistas será gratuita. O Concurso tem apoio da FM Universitária.
Serão escolhidos e premiados na noite as seguintes categorias:
– Marchinha do Ano, com 1º Lugar, 2º Lugar e 3º Lugar. E o destaque vocal que levará o Prêmio Dosinho de Intérprete do Ano.
Na mesma noite haverá a entrega do Prêmio Dosinho de Carnaval em 17 categorias que se destacarem na folia de 2017.
Maiores informações: 9.9175 9870 / 9. 8790-1373 (Marcelo Veni)
AS 10 MARCHINHAS CLASSIFICADAS À SEMIFINAL
aos quatro anos, semi-árido caatingoso, num caicó arcaico, em meu peito a tortura na pele da terra. havia tarzan (pastor alemão), que comia sua galinha e meti a mão… a boca do cachorro abocanha a minha, perfurando a bochecha. o cachorro morreu, de raiva. o médico me desenganou. seu airton dispara para a capital. mais de cem injeções. teimosamente, não preciso dizer que o subscrito escapou. o poeta soteropolitano/potiguar, alberon, decretou: filho do cachorro ensandecido – numa tradução livre. em verdade, desse não lembro, ficaram as marcas, estampadas no rosto e na coxa esquerda.
kalú, pra ser humana só faltava falar. sei, lugar comum em relatos semelhantes. mas, dou fé! morreu estuprada no dia de natal. trepada num aloprado pastor alemão – engatada fatal! isso, lá pelos idos setenta, época do sugismundo, do país avante e pra frente, em pleno e trágico milagre econômico. meu pai enterrou-a no quintal, plantando uma roseira, entoada em cantoria ritualística. bebemos e cantamos. kalú, depois de morta, teimava em aparecer enquanto eu tomava banho. kalú foi a primeira e única alma que presenciei: kaluuuuuuuu, vade…
jumbo, pastor belga (no sentido canino, não luterano), capa preta brilhosa como tapete persa (poema inci-de-um-tal raio do trupizute, bráulio tavares, temente a buceta cabeluda da sua amada), teve uma ferida que evoluiu para gangrena. sacrificado e enterrado no cabaré da zule, em nome da insofismável ordem prostibular. seu airton exigiu, suplicou que todos e todas as meninas (profissionais) presentes chorassem. emocionante, pense num enterro orgasmático.
peter pedro pablo, cão irmão. poodle marrom, não era cachorro de ninguém. morava conosco, habitante da casa. persona invocada, só atendia quando tava a fim, ou, lhe interessava – senhor de si, absoluta altivez. filósofo da chuva. dileto companheiro de empreitadas ensandecidas e inusitadas. quando meus pais zarpavam à dadivosa praia da santa rita, levava-o a todos os lugares – adorava as panquecas da bodeguita de la plaza. lançamos a chapa anárquica ao ca de ciências so(s)ciais, pelas efervescências: sonrisal, não vote, revolte, arrote! untei o pêlo do peter de mel, a exemplo do sid barret (do pink floyd); preguei compridos de sonrizais, de sala em sala, fazendo fita, recitava propostas e proselitismos ufanos, depois, tomava o comprimido em ebulição no copo, e, claro, arrotava estrondoso: a-r-r-o-t-e! e peter, impávido, ator atroz. laureado no 3º festival de poesia da ufrn (86), melhor poesia e melhor performance; ao receber o prêmio, no auditório do nac, de terno completo, com os pedros, o peter e o pereira (como guarda costa, o prêmio de 13 mil dinheiros, é mole?), no preâmbulo, ofereci o prêmio ao muso, peter pedro pablo – companheiro memorável ou honorável?
casei… descasei… casei… filhotes com 22, 20 e 13 anos, num porre louco, adotei o caba maltês prisiaca esculhambado, clayde zé. engatinhando sapens/mente, já terrorista juramentando, precisa apreender alemão para, soturnos, filosofarmos sem fim. agora, o danado, espevitado, cz, determinado em destruir os ready mades expoéticos, roendo revolveres do “assassinaram e métrica” e detonando os “dados poéticos” – sem parar, endoidado, num transe apocalíptico.
imagino a sorte do amigo dunga. saudade criativa do chulepa, misturador de tintas inspirado, que produzia alucinado para a prosperidade, já que a terrinha cascudiana não está preparada para tal revolução pictórica. um dia, tarde ou noite, dunga (e chulepa) serão imortalizados e supervalorizados, em cotação via bolsas de valores, do au-au à wall-street, de hong kong a jucurutu.
assim, a humanidade canina caminha. enquanto, o clayde zé é radicalmente destrutivo, chulepa era inventivo alucinado. mas, declaro que, irremediavelmente, não troco. pois, a criação é antes de tudo, uma práxis destrutiva!
O trabalho do monsenhor Pedro Ferreira na formação da música erudita e na criação de coralistas no Rio Grande do Norte é desses dignos de manchetes garrafais, medalhas, homenagens e loas. São 70 anos, dos seus 80 outonos de vida, dedicados à música. Sim, 70! Grande parte escondidos na rotina obscura de ensaios e apresentações sem notícia.
O então “padre” Pedro foi responsável, entre outros, pela criação da Banda Sinfônica da Universidade e também de um dos maiores patrimônios musicais do Estado: o Coral Canto do Povo. Isso há quase três décadas. Após alguma oposição deixou o cargo de regente do Canto do Povo e fundou a Camerata de Vozes do RN, precisamente em 5 de junho de 2012. Ambas as instituições são vinculadas à Fundação José Augusto
Essa semana, ele mesmo pediu exoneração do cargo de maestro da Camerata. O afastamento é para se dedicar à elaboração de um livro especial sobre a polifonia sacra. “Coisa de gênio”, como enfatizou a diretora da FJA, Isaura Rosado. “Algo sem referencial no país. É um trabalho de uma envergadura que nem saberia dimensionar a importância”, ressaltou o diretor administrativo da Orquestra Sinfônica do RN, Francisco Marinho.
A Camerata é hoje um dos principais grupos de coralistas do Estado, concebida para um gênero de música com origem nas raízes das cameratas italianas. A substituta do monsenhor será Tercia Souza, escolhida pelos próprios coralistas. Segundo Marinho, ela herdará uma Camerata coesa e com repertório elaborado. “Claro, ela manterá o conceito, mas colocará sua leitura musical própria”, reforça Marinho.
O grupo é composto por 34 membros muito bem selecionados, dissidentes de outros grandes grupos do Estado. O número reduzido de músicos permite trabalhar o aprendizado estrutural das peças, da criação à linguagem e transformação dos sentidos. Assim, as cameratas permitem apresentações em locais menores, diferentemente de grandes grupos e orquestras.
Portanto, fica o registro da importância do trabalho realizado pelo monsenhor Pedro Ferreira, da Camerata de Vozes e do tradicional movimento coralista do RN no qual o monsenhor se dedica desde os tempos de Seminário, tal qual o movimento de bandas de música espalhado pelo interior do nosso Estado, no qual deposito muito na conta do maestro Bembem Dantas. Essa é a nossa tradição musical mais latente e que se mantenha o apoio total a essa gente!
O ator Lipe Volpato, da novela Cúmplices de um Resgate, a cantora mirim Bia Vilar e o DJ Jr farão a festa da criançada no domingo no Hotel Bello Mare, em Ponta Negra. Concentração em frente ao hotel com apresentação da Bandinha da Praia, com o melhor do frevo e marchinhas, a partir das 15h30. Presença de personagens como princesas, heróis e palhaços e distribuição de guloseimas (pirulito, pipoca, algodão doce, picolé). O ingresso de R$ 100 vale para um adulto e uma criança e dá direito a um abadá infantil e duas pulseiras de adulto, e também a um passeio, na sexta-feira, no Trem Fumaça, que sai do Praia Shopping às 17h e percorre ruas de Ponta Negra, na companhia de Lipe Volpato e Bia Vilar.
Prossegue até 1º de março na Cidade da Criança a exposição fotográfica ‘Fantasia de Criança’, que exibe o resultado das oficinas de artes carnavalescas realizadas em fevereiro no parque direcionadas à meninada. A mostra retrata o trabalho feito pelo artista visual Novenil Barros com maquiagem facial e pela arte educadora Gerusa Câmara.
O Midway promoverá uma programação infantil com shows, recreação com palhaços, oficinas de pintura, concurso de fantasias, esculturas de balões, entre outros. No domingo, o shopping realizará um pocket show da princesa Bela, com participação da personagem Moana, e um concurso de fantasias infantis; na segunda-feira, os pequenos que estiverem fantasiados poderão tirar uma selfie com o Homem Aranha e a Princesa Rapunzel; e na terça-feira, estarão presentes as personagens Anna e Elza, do filme Frozen, e da princesa Cinderela, no concurso de fantasias infantis. A programação terá início no terceiro piso sempre às 15h, e em seguida, às 16h, os personagens irão à Praça de Alimentação ficando até as 18h interagindo com os presentes. O Midway disponibilizará ainda música ao vivo na Praça de Alimentação todos os dias a partir das 19h, e o Mar de Bolinhas, na Praça Central.
O Partage Norte Shopping montou uma programação especial pra criançada durante todos os dias de carnaval, a partir das 17h. Confira: 17h – Abertura: Trenzinho Animado, em seguida, brincadeiras como Batata Quente, Cada macaco no seu galho, Pula Corda, Elástico, Dança da Laranja, Vivo-Morto, Estoura Balão, Danças de Roda, Dança da Cadeira, Corrida de Saco, Cobra Cega, Cabo de Guerra, Oficina de Dança e Oficina de Máscaras. A partir das 18h tem início as pinturas carnavalescas. E às 18h30, escultura de balões. Para encerrar, às 19h, Desfile de fantasias. Além disso, a Cinépolis funcionará normalmente durante todo o período de Carnaval.
Entre sábado e terça-feira, o Carnaval do Praia Shopping traz atrações para toda a família, tanto crianças como adultos. Sempre prestigiando a cena da música potiguar, a farra começa com As Joanitas e Isaque Galvão no sábado. Segue com Bruno Josuá (CarnaKids) e Pedrinho Mendes no domingo. Na segunda tem Xaranga do Riso e Rodolfo Amaral. E finaliza no melhor estilo com Carmen Pradella (CarnaKids) e Dodora Cardoso na terça-feira. Todas as atrações têm acesso gratuito, sempre a partir das 17h.
Neste sábado de Carnaval tem programação na Pink Natal (Av. Hermes da Fonseca, 754, Tirol). A partir das 17h tem início o #BloquinhoKids com shows de Nanda Lynn, Trupe Canta Alegria e muitas surpresas. Vendas na Loja Bransk (Midway – 2º piso). Informações 99418-9794
A Funcarte divulgou as atrações artísticas da nossa cidade que irão brilhar nos palcos do Carnaval de Natal, e as Escolas de Samba e Tribos de Índios aptas a receber incentivo municipal, além dos Blocos, Troças e Bandas de Frevo que irão multiplicar a folia em Natal a partir de amanhã. Na quinta-feira (23) serão conhecidos os artistas da inédita Virada Carnavalesca, que acontece na avenida Erivan França, também com atrações potiguares.
A folia começa oficialmente nesta quinta-feira (23), quando o prefeito Carlos Eduardo entrega as chaves da cidade ao Rei Momo Bruno Henrique e à Rainha do Carnaval, Rozeane Ferreira. No consagrado Baile de Máscaras do Largo do Atheneu a folia começa com Ribeira de Pau e Corda às 20h, Banda Dugiba às 21h30 e Spok Frevo Orquestra às 23h. A partir das 18h haverá apresentações da nossa cultura popular, como Congos de Calçolas, Boi de Reis Manoel Marinheiro e Araruna.
Na sexta-feira (24), show de Romero Ferro às 20h e depois Bangalafumenga. No sábado (25), Pedro Paulo e Carlos Zens se apresentam no Largo do Atheneu a partir das 20h e no domingo (26) tem Orquestra Velhos Carnavais (20h) e Monobloco na Praça Cívica a partir das 21h30. Na segunda-feira (27) tem os Blocos Guaxinim e Banda de Frevo, juntamente com Galvão Filho, Alphorria e Luna Hesse. Na terça-feira (28) tem Leão Neto a partir das 20h.
Na sexta-feira (24) a partir das 21h tem o suingue de Sueldo Soares e às 23h o mestre Moraes Moreira. No sábado, dia 25, Nara Costa sobe ao palco às 21h e Elba Ramalho (23h) coloca todo mundo no ritmo. No Domingo (26) é a vez do sucesso potiguar Dusouto (21h) estrear no Carnaval de Natal abrindo o show de Alceu Valença (23h) e na segunda (27) a classe de Sérgio Groove (21h) nas guitarras antes do imperdível show da rainha Margareth Menezes (23h).
No Carnaval do Largo do Buiú (Redinha) a folia começa na sexta-feira (24) com Alphorria às 22h e Kelly Wanger à meia noite. No sábado (25) é a vez da Orquestra Boca Seca (22h) abrir a noitada para Cavaleiros do Forró colocar todo mundo pra dançar ao som dos seus sucessos de 16 anos de carreira. No domingo (26) tem Don Cardoso (22h) e Banda Priscila Brow à meia noite. Na segunda (27) é a vez do sucesso Grafith (21h30) e Luizinho Nobre às 23h30. E na terça a vez de João Batista do Fama (22h) e Banda Dubê à meia noite.
A folia no Cruzeiro terá uma atração musical por noite de Carnaval, sempre com artistas da nossa cidade. Na sexta o samba de Debinha Ramos, no sábado é a vez de Igor Fortunato, domingo com Orquestra Raízes do Frevo, segunda Yrahn Barreto e na terça-feira, Zeca Brasil. Os shows no Polo Redinha (Cruzeiro) iniciam às 21h.
O tradicional e emblemático Desfile das Kengas celebra mais um ano de vida como uma das mais típicas representações do Carnaval de Natal. Domingo, dia 26, tem show de Jaina Elne abrindo o desfile a partir das 16h, seguido do Desfile das Kengas às 18h e show com Maria Alcina às 20h. O encerrando em alto estilo será com Orquestra de Frevo percorrendo as principais ruas do Centro da cidade a partir das 22h.
Rocas, berço do samba e do futebol da nossa cidade. Um dos polos mais tradicionais terá uma terça-feira (28) bem ao seu estilo. Shows de Isaque Galvão às 20h e Casuarina fechando a noitada às 23h.
As Escolas de Samba e Tribos de Índios representam uma das tradições mais fortes do Carnaval Multicultural de Natal. A Prefeitura do Natal, através da Secretaria de Cultura (Secult/Funcarte), promove mais uma edição desta tradição carnavalesca de Natal que movimentará o Polo Ribeira durante sábado (25), domingo (26) e segunda-feira (27), sempre a partir das 19h.
Participam nesta edição 11 escolas de samba e 7 tribos de índios que se inscreveram no Chamamento Público promovido pela Prefeitura do Natal e estão aptos aos incentivos municipais para o desfile. A ordem do desfile será conhecida nesta quinta-feira (23). Os desfiles acontecem na passarela do Samba na avenida Duque de Caixas, Ribeira. Arquibancadas, banheiros, infraestrutura e trabalho de logística das secretarias municipais envolvidas fazem parte do Polo Ribeira.
Uma simples pesquisa em um site de busca na internet sobre cultura nordestina, em dezembro de 2016, se transformou em um grande problema para o cientista social e artista plástico Erick Lima. Especialista em xilogravura, Erick se deparou com duas de suas obras compondo a identidade visual do enredo da Escola de Samba Dragões da Real, que integra o grupo especial das escolas de samba de São Paulo.
Erick Lima
Trabalhando há uma década com xilogravura, Erick jamais havia passado por situação semelhante, na qual suas obras fossem utilizadas sem autorização. O uso indevido do seu trabalho levou o artista plástico a entrar na justiça com uma ação de indenização por danos morais e materiais.
“Ser artista no Brasil não é uma tarefa das mais fáceis, não que se procure por facilidade, mas o que se observa na prática é que para sobreviver em nosso país o artista muitas vezes precisa desempenhar outra função no mundo do trabalho, sendo dessa outra, em regra, de onde tira o seu sustento. Para mim, é decepcionante ver o escamoteamento da minha arte dessa forma”, afirma Erick.
As obras podem ser facilmente identificadas como de autoria do artista. Ao serem pesquisadas em sites de buscas na internet, remetem direto para o blog da Casa do Cordel, o qual disponibiliza os contatos pessoais para quem se interessar pelas mesmas. É, inclusive, dessa forma, que o artista é contactado para firmar contratos de sessão de imagem e venda de obras para variados fins, seja para compor um quadro, ilustrar livros, cordéis, etc.
No último dia 13, a justiça determinou liminarmente, por meio de decisão da juíza Rossana Alzir Diógenes Macedo, da 13ª Vara Cível de Natal, “a apreensão dos exemplares que se encontrarem no endereço da empresa ré, bem como a suspensão da divulgação das obras mencionadas”. A Escola de Samba Dragões da Real foi oficialmente notificada nesta segunda-feira (20), às 13h02, mas ainda não se pronunciou sobre o assunto.
O artista aguarda agora o julgamento do mérito da ação. “Considero que o fato poderia ser um lisonjeio se fosse feito através do devido reconhecimento da minha arte por uma escola de samba do grupo de elite de um dos carnavais mais famosos do mundo, todavia, minhas obras estão sendo utilizadas sem a minha autorização, além de terem sido manipuladas graficamente, sendo transformadas em uma só imagem, e ainda retiraram as iniciais que me identificavam como autor, com o claro propósito de apropriação indevida do meu trabalho”, conclui Erick Lima.
As três coletâneas literárias lançadas pela Editora da UFRN há dez estão disponíveis para leitura online gratuita. Um ótimo recorte da atual literatura potiguar. Notícia exclusiva e um presente deste Papo Cultura para o leitor.
Noticiamos o lançamento dos livros nos gêneros Conto, Poesia e Crônica, organizados por Wildson Confessor e Kamyla Álvares Pinto, intitulados ‘Café frio e outros contos’ (contos); ‘Natal e outras crônicas’ (crônicas); e ‘Máquina de sonhos e outros poemas’ (poesia).
Todos os escritos frutos do edital José Américo da Costa, publicado em 2015. Foram 176 propostas. E as comissões julgadoras de cada categoria selecionaram 13 contos dos 36 propostos, 20 poemas entre os 114 inscritos e 21 crônicas das 26 submetidas, totalizando 53 trabalhos inéditos de autores potiguares ou radicados no RN.
E para democratização do acesso à literatura produzida no Rio Grande do Norte, a EDUFRN colocou à disposição todos os três livros na íntegra no formato de Livro Digital e com livre acesso. E abaixo postamos o resumo dos prefácios de cada livro e o link de acesso:
A segunda edição do Concurso Américo de Oliveira Costa premiou onze poetas, que são os autores dos vinte poemas desta antologia. Como se pode ver pelos resumos biográficos de cada um, vários dos poetas reunidos aqui já foram premiados em outros concursos e são autores de livros publicados, fato que demonstra, de algum modo, que há uma intensa participação na atividade de publicação de livros de poemas no Rio Grande do Norte (“Capital, Natal. Em cada casa um poeta, em cada esquina um jornal” (…)
Diríamos, então, que a poesia atual do Rio Grande do Norte está contextualizada em um quarto período, que sucede o tempo da geração de Zila Mamede, o tempo do poema-processo, o tempo da poesia marginal (a brava geração mimeógrafo). São poetas que partilham a democracia, fato quase inédito numa sociedade tradicionalmente golpeada ao longo da história da república brasileira. Talvez, por isso, tanta floração poética. (…)
… Se o leitor quiser deliciar-se com um estilo mais poético (prosa poética), pode ir imediatamente para as páginas de “Salmouras do tempo”, de “Os grandes amores. Ou quase”, de “Que solidões cascaveiam o amor no outono?”. Aí encontrará belas reflexões sobre o tempo, o amor, a solidão e, ao mesmo tempo, sobre a vida. Qual o efeito do tempo sobre nós, sobre nossos sentimentos? Ao envelhecermos, o amor se despede de nós? Afinal, “velhar é se diluir numa sopa de pelancas, forever”? Ou a velharia é que “sabe namorar-gozando e gozar-namorando, com ou sem viagra”? Ruben G Nunes reflete sobre os grandes amores e suas contradições, nos “ziriguiduns da vida”. Afinal, o que é um grande amor? É sempre paz? É sempre guerra? Ou é uma pazguerra constante? Aqui o leitor certamente saboreará um arranjo magnífico com as palavras, como no trecho em que o cronista nos ensina como viver um grande amor: “É preciso se atirar de cabeça… reservar hotel, sarapatel e lua de mel em Salvador; além de fazer promessa pra Oxumaré”. Outro fragmento interessante ocorre quando ele nos faz perceber que “o ponto final de um grande amor nunca é ponto final… é sempre reticências de dor, perda, falta, carência, arregos, esperanças, redesejos, esperas… e de eterno retorno…”
Os concursos literários têm virtudes e defeitos que muitas vezes se equivalem. Graças a eles – os concursos – abrem-se vias de renovação literária, na medida em que novos autores se aventuram a apresentar seus trabalhos perante uma comissão julgadora da qual esperam algum reconhecimento, e às vezes o obtêm com justiça. Este é o lado virtuoso dos concursos. (…) Enfim, diante de tantos estilos, tantas histórias, tantas veredas abertas pelos autores deste livro, não temos dúvida em afirmar que o conto potiguar contemporâneo está bem representado por esta coletânea.
Depois de um período de recessos, a Caravana de Escritores Potiguares retoma atividades com programação em São Bento do Trairi e Parnamirim. No município da Borborema Potiguar, o evento reúne alunos e professores na Escola Estadual Professora Maria Lídia da Silva, nesta terça-feira, 21, às 13 horas. Já, em Parnamirim, a edição acontece na quarta-feira, 22, no Auditório do Centro Administrativo, no bairro Cohabinal, em duas sessões (manhã às 7h30 e tarde às 13h30), com atividades voltadas exclusivamente para professores. Isso, porque a programação desenvolvida conjuntamente com a secretaria de educação parnamirinense busca reunir todos os mediadores de leitura lotados nas bibliotecas escolares da rede pública municipal de ensino. Projeto massa de incentivo à leitura, patrocinado pela Cosern pela Lei Câmara Cascudo e capitaneado pelo nosso colunista Thiago Gonzaga.
Lady Sings The Blues – um tributo a Billie Holiday propõe uma homenagem ao centenário da cantora que se popularizou como a maior diva do jazz de todos os tempos. Atravessando fronteiras, Billie eternizou os grandes clássicos do gênero com interpretação singular e enriqueceu o repertório com composições próprias que ainda encantam os mais diversos ouvintes. O espetáculo acontece dia 9 de março, às 20h, na Casa da Ribeira, contando com um time de músicos especializado: Jow Ferreira na guitarra, Daniel Ribeiro no contrabaixo e Rogério Pitomba na bateria. Na voz e comandando o palco, a cantora Bruna Hetzel busca destacar as diversas facetas desta personagem clássica do jazz, introduzindo aos ouvintes fragmentos do universo de Billie, recriando-os e ambientando-os em seu universo particular. Ingresso: R$ 40 inteira e R$ 20 meia ou antecipado para todos até o dia 8 de março.
No período de 29 de março a 1 de abril, o Grupo de Estudos André de Albuquerque Maranhão (GAM), o Ludovicus – Instituto Câmara Cascudo e o Instituto Tavares de Lyra promoverão o evento “Memória e Tradição – Bicentenário da Revolução de 1817”, com a finalidade de resgatar a importância da Revolução de 1817 para a História do Rio Grande do Norte. Na programação haverá a palestra de Paulo de Albuquerque Maranhão, descendente da Casa de Cunhaú, além de mesas redondas com renomados professores de História do RN e pesquisadores, mais o relançamento de três livros: “A Casa de Cunhaú”, de Luís da Câmara Cascudo; “A participação da Capitania do Rio Grande do Norte e de Maçons Potiguares na Revolução Pernambucana de 1817”, de Cassimiro Júnior; e “A ressucitada”, de Francisco Galvão. O evento será realizado no Ludovicus – Instituto Câmara Cascudo e será aberto ao público. Inscrições: Enviar e-mail para: frente.gam@gmail.com Ao final do evento será entregue certificado de 10h para quem fez a inscrição.
Os Anos 80 foram terríveis ao movimento gay no Brasil e no mundo. A AIDS se mostrou a peste negra do século 20 e não à toa dizimou uma população já sem esperança naquela década. Um banho de água fria para um gênero que se firmava socialmente surfando na onda libertária e na revolução feminista dos anos 70.
Se os grandes centros do país já estavam repletos de casas noturnas exclusivas ao público gay na década de 70, em Natal eram raras e, digamos, camufladas, como se fossem algo proibido. E foi mesmo no abrir da década de 80, tão cheia de cicatrizes, que a boate Equus – depois chamada de Broadway – se tornava pioneira como primeira casa do gênero em Natal (alguns apontam o restaurante Saci, vizinho ao Palácio da Justiça, que tinha lá um público gay).
A Equus estava fincada na rua Felipe Camarão, onde funciona atualmente a Potylivros, na Cidade Alta. A casa foi aberta pelo hoje produtor do Som da Mata, Marcos Sá de Paula e Ângelo Burrão, famoso por outras casas noturnas de Natal, como o 744 e as boates Liberté e La Prision, esta última no Centro de Turismo.
Marcos Sá de Paula
“Ângelo tinha uma boate impedida de inaugurar por falta de alvará devido briga com vizinhos. Eu morava em Recife e dirigia o Café Concerto Misty, uma boate gay de lá. Vinha a Natal poucas vezes e numa delas Ângelo me perguntou se eu achava viável abrir uma boate gay em Natal. Falei que só conhecia o Libertê, do próprio Ângelo. Mas numa dessas vindas a Natal me chamaram para festa no Círculo Militar, na Praia do Forte. Menino, era fresco saindo pelo ladrão. Então falei para ele que público tinha. E Ângelo me propôs montar a boate e eu assumir o comando”, relembra Marcos Sá.
Passado um ano e meio de funcionamento, Marcos Sá “se encheu” da noite e entregou a gestão a Moacyr “do Postinho”, que já tinha comprado a Ângelo a estrutura da casa. Foi por essa época que Lula Belmont, então com 25 anos, passou a trabalhar como garçom da boate.
Lula já tinha experiência em casas noturnas na Cidade Alta e Ribeira quando chegou à Broadway. E por esse lastro na noite, lhe foi perguntado sobre a casa receber os ensaios do concurso Mr. Gay, que aconteceria no Palácio dos Esportes, e ele foi enfático: “Melhor não trazer esses 20 ou 30 candidatos porque depois do concurso vai atrair gente demais pra cá e pode virar baderna porque não é o público que normalmente frequenta a boate”.
O concurso aconteceu num sábado de 1982. Cerca de três mil pessoas lotaram o Palácio dos Esportes. E fim da festa, já madrugada, milhares de pessoas migraram para a rua onde funcionava a Broadway e uma série de barzinhos, como o Barbaridade e outros. E o alerta de Lula começou a soar nos ouvidos de quem não o escutou.
Perto de 1h da manhã a rua Felipe Camarão estava completamente tomada. Às 2h já faltava bebida na Broadway. Nem água tinha em qualquer bar da rua. “Fechamos a boate bem antes do horário normal e fui dormir. À época eu morava no Winbledon, um dos primeiros prédios para moradia na cidade, perto do hoje Potengi Flat. Quando acordo e saio pra rua, o rapaz da cigarreira me pergunta: ‘Já viu a Tribuna e o Diário de hoje?’. Na primeira página do Diário e numa boa parte da capa da Tribuna tinha algo como ‘Orgia gay na Rua Felipe Camarão’. E no subtítulo falava em tóxico, garrafa no chão, seringa jogada no terreno ao lado da boate. Tudo montagem!”.
Lula suspeita da notícia montada porque fazia três meses que ele tinha arrendado a boate e o proprietário queria o prédio de volta. “Sei que depois da notícia, quando foi quinta-feira, apareceram três pessoas. Sexta e sábado nada. Ou só gente de fora, de João Pessoa, Recife, interior do estado, alheios ao acontecimento. Aí promovemos uma festa à fantasia chamada ‘Um dia sonhei que era assim’. Panfletamos pela cidade porque era assim a divulgação na época. Tudo para reverter o quadro. Contratamos o DJ Junior Natal, um dos pioneiros da cidade. À época era caríssimo DJ porque era novidade. Ele tinha amigo em Nova York que enviava fitas cassete pra ele e tínhamos a chance de tocar aqui o mesmo som que boates dos grandes centros do país tocavam”.
Resultado: a boate lotou novamente. Mas Lula permaneceria na Broadway apenas mais seis meses. Segundo ele, o dinheiro arrecadado não compensava o esforço e o aluguel do ponto. Foi quando resolveu abrir o Vice-Versa e marcar história na noite de Natal.
Antes de chegarmos à história de Lula a partir do Vice-Versa, voltaremos até o ano de 1957, quando Luiz Antônio Belmont nasceu, na então distante Serra de São Bento. O pai Severino da Costa Belmont, o Costinha, mantinha três famílias, sendo as outras duas em São José do Campestre e Araruna, na Paraíba.
Costinha faleceu quando Lula tinha apenas seis anos de idade. Foi quando a família de dez irmãos, de pai e de mãe, veio embora para Natal. Na partilha da herança, cada família ficou com suas casas e a mãe de Lula Belmont, Germina Bezerra, herdou a gestão dos correios de Serra de São Bento.
Lula e Bosco, cabeleireiro top de Natal, no ano de 1979
A primeira residência em Natal foi na rua Meira e Sá, no Barro Vermelho. Por lá ficou até os 12 anos. Nesse período estudou no colégio público Jerônimo Gueiros, no mesmo bairro. Quando Potilândia foi inaugurado – o segundo conjunto habitacional de Natal, depois da Cidade da Esperança –, a família se mudou para lá. “À época tinha o critério de só receber famílias com pelo menos dez filhos. Então foi fácil recebermos a casa”.
Fez o ginasial e o científico no ainda prestigiado Colégio Atheneu. Mesmo adolescente, trabalhava na lanchonete Roda Viva, num ponto alugado pela família ao cunhado de Lula, situado por trás da Assembleia Legislativa, hoje em frente ao Bar de Nazaré e onde mais tarde se transformaria no Vice-Versa.
Nessa época de estudante e comerciante, Lula também jogava vôlei, tendo integrado a seleção do Rio Grande do Norte, entre os anos de 1975 a 1978 e teve oportunidade de conhecer diversas cidades do país participando de jogos.
Em 1978, aos 21 anos, já pertencia ao quadro técnico da secretaria de educação do estado, quando entrou por indicação de amigos – hoje Lula é aposentado como professor.
Anos mais tarde, integrou a primeira turma do curso de Educação Artística na UFRN, e o que poderia ter direcionado seu destino profissional foi interrompido pelo que realmente construiu seu futuro: o trabalho na noite natalense. Esse chamado foi natural. O movimento sociocultural da época, fim dos anos 70, se dava pelo centro da cidade. E pela lanchonete passava toda sorte de gente, como proprietários de casas noturnas.
Foi quando conheceu Arruda Sales e em 1980 passou a trabalhar com ele no Frenesi Café Teatro, na então movimentada rua Doutor Barata, na Ribeira. Esse Café Teatro manteve dois espetáculos de teatro de revista em cartaz por dois anos ininterruptos, fato inédito na história da cidade.
Lula trabalhava no Frenesi, de quinta a sábado à noite e na secretaria de Educação do Estado, todos os dias à tarde. Mas em 1982, o Frenesi fechou. Foi quando Lula chegou à Broadway e, dois anos depois, teve a ideia de abrir seu próprio ponto comercial.
O Vice-versa marcou época em Natal. Começou como bar, em 1984. Funcionava de terça a sábado sempre com casa cheia e sem hora para acabar. “Praticamente se amanhecia todos os dias por lá. Nessa época o Centro da Cidade tinha outro movimento, outro aspecto. Pessoas que trabalhavam em bancos e repartições frequentavam os bares e movimentava o comércio noturno”, rememora Lula.
Vice-Versa lotado
A casa mantinha a estrutura de residência, com a divisão de cômodos e material original de uma casa antiga, da velha família Procópio. Tinha oito metros de frente para a rua Vigário Bartolomeu, e se estendia por 30 metros de fundo, até a Assembleia Legislativa. O charme estava na decoração com quadros enormes de mitos das artes, como Charles Chaplin, Greta Garbo e etc.
O clima no Vice-Versa – nome sugerido por Marcos Sá – era todo cultural. Além da decoração havia espaço para galeria de arte e até para apresentações de teatro de bolso, aberto às segundas-feiras para 60 pessoas. Foi nele que estreou o espetáculo marcante de Véscio Lisboa, O Anjo Maldito, em cartaz por seis meses.
A criatividade dava o tom do Vice-Versa. Na época da efervescência política com a retomada do estado democrático e a nova república (com letra minúscula, mesmo), o cardápio tinha nome de políticos. Depois migrou para artistas locais.E com essas simples ideias conquistava a simpatia do público e do artista.
Pedro Mendes, produtor Zé Dias e (não sei), durante o Quinta Arte no Vice-Versa
Tinha também os pequenos projetos. Um deles, chamado Quinta Arte prestava homenagem às artes potiguares, com uma semana para cada expressão das artes e entrega do Troféu Caju a destaques. Aos domingos o movimento era todo do público rocker com reunião de bandas e possivelmente o primeiro encontro de bandas de heavy metal de Natal. “Era tão novidade que eu mesmo desconhecia o público e fiquei abismado quando começaram a chegar. Não pensei que Natal tivesse tanto roqueiro”, brinca Lula.
Um concurso com a novidade do karaokê foi sucesso total e justo na época em que o Vice-Versa formava fila na entrada. “Só tinha acesso se saísse alguém. Era uma loucura”. E o bar soube surfar nas discussões do momento. Mesmo a questão da AIDS foi tema de debates. “Promovíamos debates políticos, temáticos. Um deles foi sobre a AIDS, quando trouxemos o hoje presidente da Unimed, Antônio Araújo para falar da doença”.
A segmentação do Vice-Versa para um público predominantemente homossexual foi algo natural, na visão de Lula. “Promovemos também o concurso Mr. Vice-Versa, só de rapazes que desfilavam. Isso rendia muita mídia nos jornais da época. Já existiam As Kengas no carnaval, criação nossa. Mas nunca curti gueto. Eu gostava da mistura do público frequentador do Vice-Versa. Se enxergasse pelo lado mercadológico, não teria feito. A segmentação é ruim para um comércio. Mas foi algo natural. E assim começou a atrair o público gay, sobretudo no turno da madrugada. Daí passamos para a boate, por volta de 1988”.
Ricardo Nelson, Lula e Wholton. Ano 1985.
A boate funcionava na parte de trás do Vice-Versa, de quinta a sábado. O prédio já pertencia aos irmãos Lula e Antônio Belmont desde 1987. Mas os anos na noite eufórica do Vice-Versa cansaram Lula Belmont, além de outros fatores menores, como uma demora arrastada de reforma, que empurraram o produtor a fechar a casa em 1992.
Outro motivo foi o início da decadência do Centro Histórico. “A Cidade Alta já tomava outra forma. Já não tinha o mesmo movimento de antes. Foi o fim”, lamentou Lula.
Outras boates gays proliferaram por Natal após o fim do Vice-Versa na década de 90. A Vogue, Avesso Clubber, Feitiço, Crystal Club… No local onde funcionou o Vice-Versa, anos mais tarde, abriu o Giga Byte, com espaço, de certa forma pioneiro, para apresentação de transformistas da cidade.
Cida Lobo, Lula e Zezé Polessa
Foi ainda como garçom da Broadway, que Lula Belmont fundou o bloco As Kengas, em 1983, numa época berço de reativação do carnaval de Natal, com sucesso da Banda Gália e fundação de inúmeros blocos e troças carnavalescas.
Mas As Kengas se tornou ícone da irreverência e sucesso já no primeiro ano de desfile. “Iniciamos com uma charanga e média já de 200 a 300 pessoas. Entre oito e dez kengas participaram do desfile e depois rodavam o chapéu para pagar as roupas e a estrutura do desfile. O resultado da disputa foi um empate entre Joe Maravilha e Luciano Moraes”.
Passados 34 anos, As Kengas se transformou em um dos maiores blocos do carnaval de Natal, arrastando milhares de pessoas e sempre com presença de celebridades que aderem no clima de desbunde. Para este ano, com decoração “Made in China”, Maria Alcina fará o barulho do bloco no domingo de momo, no Centro Histórico.
Fernando Athayde. Acervo: Fabio Athayde
Ainda no Vice-Versa Lula tinha iniciado trabalho de produção cultural voltado ao teatro. Talvez o primeiro espetáculo tenha sido o A Missão, com os atores Fernando Athayde, João Marcelino e Marcos Bulhões, que venceu mais de 20 festivais Brasil afora. A peça tratava da Revolução Francesa. “Fernando Athayde venceu todos os festivais que participou, como melhor ator, e a peça ainda levava nas categorias de melhor iluminação… melhor tudo”.
Um dos espetáculos, A Bela no Reino da Fera, fez tanto sucesso que Lula colocou em cartaz no disputado Teatro Alberto Maranhão, à época dirigido por Carlos Nereu.
Com o Vice-Versa fechado, Lula prosseguiu na produção de espetáculos infantis e espetáculos teatrais para adultos, além da festa carnavalesca anual com As Kengas. “Iniciei a onda de espetáculos numa segunda-feira no TAM. Coisa inédita na época. E eu conseguia meia casa só com shows locais. Até hoje pouca gente tem coragem”, se orgulha.
O Bardallos deveria ter se iniciado ainda no prédio do Vice-Versa, sendo um boteco de calçada com hora marcada para fechar à meia noite. Após fechado, quem quisesse continuar entraria na boate. Essa era a ideia para o Vice-Versa antes de fechar.
Ainda com produção de espetáculos, Lula enxergou um ponto comercial de fachada estreita e cumprimento alongado, na rua Gonçalves Lêdo, um local para reviver seus tempos de bares noturnos. Lá funcionava o histórico Abech Pub, do comerciante Pedro Abech, palco para surgimento de muitos artistas, a exemplo de Khrystal. Mas naquele ano de 2005, o local estava fechado há mais de ano e Lula decidiu alugar.
“Abri o Bardallos Comida e Arte sem divulgação. Achei que o bar teria que acontecer por si próprio. E como não estava mais afim de amanhecer dia em bar, tive a ideia do badalo do sino a meia noite para fechar o bar. E assim permaneceu por cinco anos até que o prédio foi vendido”.
Foto: João Maria Alves
Coincidentemente nessa época, Lula viu o que nunca tinha visto mesmo escancarado a sua frente todos os dias. “Passava e nunca tinha percebido essa casa. E coincidiu de o proprietário vendê-la na época que o Bardallos fechou. Negociei, comprei e transferi o Bardallos pra lá. Procurei manter o mesmo clima do bar. E a clientela permaneceu. Aprendi que não se mexe bruscamente numa estrutura de bar ou se perde cliente”.
Hoje o Bardallos é point da vida boêmia e cultural do Centro Histórico de Natal. Ótimos shows acontecem pelo menos três vezes durante a semana, via de regra com o que há de melhor na música potiguar. E projetos culturais também encontram no local o espaço para desaguar mais arte ao público sempre presente.
Mas o velho guerreiro de 60 anos está cansado. “Estou morando em hotel aqui próximo faz um ano e meio. Melhor coisa que eu fiz. Aluguei meu apartamento e minha ideia depois de mais uns três anos de trabalho é viajar mais. Passar um mês em São Paulo, um mês em Florianópolis, onde tenho família… Tudo pago com o aluguel da minha casa. Mas o Bardallos permanece. Agora, é difícil. O que segura mais a onda (as finanças) aqui é o serviço de almoço. Mas é difícil parar; sou meio conservador com essas coisas”.
Termo lapidado por Othoniel Menezes, poeta nativista de “Sertão de Espinho e Flor”, para designar a praieira dos nossos amores. Cidade erigida por decreto. Nunca foi vila ou freguesia. Recebeu os agnomes: Cidade dos Reis, Cidade de Santiago, Natalópolis, Nova Amsterdã, Jerimulândia, Londres Nordestina, Natalvesmaia. Sua fundação é impregnada na nebulosa da polêmica. Quem seria seu signatário: Jerônimo de Albuquerque, João Rodrigues Colaço ou Mascarenhas Homem?
Impressões e controvérsias. Frei Luís Santa Tereza, “Da Cidade de Natal, não há tal” (1746). No quengo de Manuel Dantas, “Natal já é hoje antiga e será eterna como o mundo, porque nasceu envolta na lenda”. Cascudo revela: “A cidade do Natal, fundada no séc. XVI, nasceu no séc. XX. Os intermediários de história guerreira, política ou dorminhoca. Faz de conta que não existiram”.
Na contemporaneidade, a cidade quanto mais imbuída na mundialidade, mais apartada da sua história. Pela mediação do cotidiano no lugar, somos levados dos fatos particulares à sociedade global.
O turismo é a parcela essencial do espaço que se transforma em mercadoria. A entrada da cidade no mercado das paisagens, acarreta transformações sócio-espaciais impulsionadas pelo desenvolvimento desse vetor econômico. A produção de lugares de consumo e o consumo dos lugares redesenham a urbe, impondo-lhe formas, funções e imagens completamente novas.
No contexto dos anos 90 temos imbricado: os resquícios da urbanização industrial periférica (abortada) e uma emergente forma de urbanização – a turística. Essa redefinição se expressa no novo imaginário da região, em que o Nordeste litorâneo subjuga o Nordeste do atraso profundo das secas. A cidade coloca-se no mundo para ser o nosso lugar. Território encantado, repleto de significações. Cabe ao citadino ler o texto social impresso nas paisagens, decifrar suas aderências, seus entraves e (transpondo as aparências) suas alienações.
Foto: Ângela Almeida
No livro “Massacre da Natureza” de Júlio Chiavenato (Moderna, 2005): “Grandes cidades, e até capitais, como Natal, no Rio Grande do Norte, não possui redes de esgoto: usam-se fossas”. Não sabe o autor que dois terços do reduzido percentual de saneamento (em torno de 31%) é despejada ‘in natura’ no leito do rio arrimo. Na Paraíba, a simples execução do bolero de Ravel no ocaso ribeirinho demarcou um evento turístico. Nós demos as costas ao Rio Grande – “sem ter quem lhe conceda a extrema-unção de um beijo”. Oswaldo Lamartine segredou para Diógenes da Cunha: Natal não existe! O que chamamos de Natal é apenas o assoreamento da beleza do Potengi.
Os raros espaços de lazer são equivocados ou expropriados… A ciclovia da Via Costeira encontra-se em estado deplorável, os hotéis utilizam como canteiro de obra, os malfazejos buracos e cimentos petrificados tornam o passeio perigoso, impraticável. Nas reurbanizações praianas (Ponta Negra, Artistas/Forte, Avenida Roberto Freire) os calçadões foram construídos com pedras portuguesas, que por ser um piso irregular não favorece as atividades esportivas. Obra pensada esteticamente, sem considerar a real utilização do aparelho urbano pela população. Mentalidade barroca-tropical nas intervenções urbanísticas.
A pólis é arquitetada priorizando o tráfego automobilístico. Nos três viadutos construídos no governo passado a ausência de passarelas revela a insignificância dos pedestres. A cidadania é ratificada pela propriedade de um bólido, quem não possui um carro na pós-modernidade é um pária. Embaixo do viaduto do Baldo converge um frenético movimento de transeuntes, que arriscam a vida na travessia diariamente improvisada. Há décadas que a população clama (em vão) por uma simples e providencial passarela.
No Tirol tem uma lagoa escura, um recanto verde no meio da selva de prédios. Vizinha ao rio Tiuru (rio da água de beber), foi horto, aviário na segunda guerra, ponto chique nos anos 60 e oásis para travessuras adolescentes. Hoje, a Lagoa Manuel Felipe encontra-se poluída, escondida e acabrunhada. Premente resgatar a cavilosa Lagoa. Para mostrá-la, exibi-la, devolvê-la aos natalenses, basta derrubar o muro da Prudente de Morais. Urge inserir a Lagoa na paisagem da cidade!
A ponte forte-redinha é exemplo hilário, se não trágico; uma obra na hora certa, mas no lugar errado. A prioridade não foi resolver o constrangimento da população (“do outro lado do rio”, além da “ponte da exclusão”, discriminados pelo preconceito e segregados na generalização de a “Zona Norte”) dos humilhantes congestionamentos diários, mas uma obra para perpetuar no horizonte um ícone administrativo – nas entranhas salobras da boca da barra, corcova de concreto encravada. A organização do espaço urbano prepara a geografia da cidade de forma a viabilizar os interesses político/privado. Pragmatizando uma neo-euro-colonização, que retalha o litoral numa desenfreada especulação imobiliária, estigmatizando as populações locais.
Escabrosa é a pendenga da pretensa área de lazer de Mãe Luiza, os hoteleiros não querem permitir que a comunidade tenha usufruto e mesmo livre acesso à praia. Recentemente, almejaram até expropriar toda a área da Via Costeira, ou legalizar a privatização da praia – que na prática já existe. Típico apartrade turístico, perverso e alienante.
Na Natal balneária, somos vítimas da exacerbação do modelo de urbanização litorâneo brasileiro. A contradição entre o processo de produção social do espaço e sua apropriação privada, diferencia os modos de consumo do lugar. Os lugares da cidade se delimitam, se fecham e se tornam exclusivos. O lugar não existe plenamente para todos. Outrora, Othoniel vaticinou à “Jerimulândia” o carma do “pecado original de haver nascido na Esquina”.
Plínio Sanderson é poeta, antropólogo e geógrafo
Uma exposição do artista visual Andruchak estará aberta à visitação no Espaço Cultural MAPA, no Midway, a partir desta quinta-feira. Uma oportunidade de o público vivenciar a experiência do surgimento de uma obra, com pintura ao vivo. E o trabalho de Andruchak é fantástico e está espalhados em diversos recantos de Natal. Reitero o que já disse nesses CURTINHAS: é excelente o trabalho da MAPA Realizações de aproximar o público da arte produzida no RN. Já passaram pelo espaço o Caio Padilha, Pássaros Proibidos (Simona Talma e Clara Pinheiro), Khrystal, Sami Tarik, a atriz Nara Kelly, Canindé Wagner, Harmonium, Igor Traço, Juliana Linhares, Bruno Barros, Marcos Souto, Tuareg, Passurbano, Gira Dança, Qu4tro, Paylo César Vitor, Yrahn Barreto, trilha sonora do espetáculo Violetas e Daniel Valente; desenho ao vivo com Daniel Torres; exibição de mostras audiovisuais do Trinca Audiovisual, Mostra Caboré de Cinema; também tivemos em cartaz a exposição Ser do Sertão – Arte de Adesivar de Jussara Santos e agora a exposição Andruchak – Geometricismo.
O artesanato potiguar ganhará uma importante ferramenta para sua valorização: um selo de qualidade e autenticidade. O projeto passará a ser lei no Estado após a sua promulgação na Assembleia Legislativa, em breve. A proposta busca reconhecer produtos elaborados com qualidade adequada e certificando sua procedência. Números da Secretaria Estadual de Trabalho e Assistência Social (Sethas) apontam cerca 9.890 artesãos cadastrados no RN. O setor movimenta R$ 50 bilhões por ano no Brasil, beneficiando mais de 8,5 milhões de pessoas envolvidas com a atividade no país e quase metade da produção está no Nordeste, com aproximadamente 3,5 milhões de pessoas atuando na região.
Nesta terça-feira (21) o bloco “Se Parar eu Caio” ganhará as ruas de Petrópolis e Tirol puxando a maior prévia do Carnaval de Natal. O bloco prestará uma homenagem ao saudoso Marcelo Tinôco, autor da música oficial do Se Parar eu Caio. Como instrumentista, tocador de bandolim, viola caipira e guitarra baiana, Marcelo contribuiu para a difusão do choro e da música em geral. Uma das figuras mais queridas da cena cultural, ele terá seu retrato estampado no estandarte do bloco, como homenagem.
Encerra hoje, dia 20, o prazo para as inscrições e participação no 1º Concurso Dosinho de Marchinhas Carnavalescas. As Marchinhas inscritas não precisam ser inéditas e as selecionadas entram na programação da Universitária FM. Para efetivar a inscrição basta o interessado enviar e-mail para premiodosinhodecarnaval@gmail.com . A marchinha gravada em MP3, com título, letra e os dados do(s) autor(es).
Roger Waters quer tocar o disco The Wall na fronteira dos Estados Unidos de Trump com a nova ilha embargada do México. Diga aí! “Os esgotos estão cheios de homens gananciosos e poderosos nesse exato momento”, disse o ex-Pink Floyd nesta entrevista. Queria ver o Trumpão moído igual aos estudantinhos do videoclipe da música.
A Fundação Cultural Dona Militana abriu vagas para novos integrantes da Banda Municipal de São Gonçalo do Amarante. Inscrições para participar da audição vão de 6 a 10 de março de 2017. Estão disponíveis vagas para flauta transversal (01), clarinetes (03), sax alto (01), trompa (01), trombone (01), tuba (01), percussão (C.R – Cadastro de Reserva). Requisitos: ser residente em São Gonçalo do Amarante, apresentar comprovante de escolaridade, apresentar comprovação de cursos de música (se possuir), copias do RG, CPF e comprovante de residência.
O quarteto instrumental potiguar Camarones Orquestra Guitarrística, que mistura elementos de rock, ska e surf music, divulgou nesta segunda (20) a pré-venda do novo álbum “Feeexta”.
Capa do novo disco Feeexta
Com onze faixas e participações especiais de Rick Mastria (Dead Fish), David Datcho (Los Tormentos) e Arnauld Merckling (Dot Legacy), o disco será lançado pela gravadora paulista Hearts Bleed Blue (HBB) em parceria com o selo de Natal, DoSol.
“Feeexta”, segundo o guitarrista Anderson Foca, se diferencia dos trabalhos anteriores. “É um disco mais dançante e também é o primeiro com nosso novo guitarrista Alexandre Capilé (Water Rats / Sugar Kane)”, conta.
Foca também revela não ter uma música preferida no novo álbum. “Acho que no lance instrumental você pensa no todo, no show, e esse disco é muito para ser tocado ao vivo, funcionando no palco, gravamos ele assim”.
Com dez anos de carreira, o Camarones Orquestra Guitarrística é conhecido como um dos grupos independentes mais ativos do Brasil e para Foca a ideia é comemorar rodando por todo o país. E este Papo Cultura divulgou ontem também algumas agendas já fechadas para uma extensa turnê europeia.
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Natal parece cidade de partida, nunca de chegada. Ou se chega para partir depois. Se visita, portanto. É que nada aqui dura muito. Bares da moda, bandas da moda, estéticas da moda. Diógenes da Cunha Lima já poetizou que na Ribeira só o que passa, permanece. Natal toda guarda esse princípio. Talvez por isso o tema de mesa-redonda na UFRN, ser “Utopias para a Cidade”. E quer discutir uma Natal para todos. Título realmente adequado.
Talvez sejam as dunas móveis onde nada se sustenta. Talvez seja a extensão litorânea com o além-mar a apontar sempre novas possibilidades. Talvez seja a saudade eterna dos norte-americanos que vieram, chacoalharam a cidade e foram embora em debandada. Fato é que Natal vive de história e imaginário, de nostalgia e ilusão. Uma cidade cheia de disfarces mesmo ao flaneur de Walter Benjamim: um viajante apaixonado e fisgado pela Natal de sonhos.
O flaneur encostaria seu barco no Potengi de águas turvas. E iniciaria o périplo. Rocas, Canto do Mangue: fósseis da cidade verdadeira. A Ribeira de eterna saudade. Cidade Alta devorada pelo tempo. Tirol/Petrópolis, retrato de uma cidade que poderia ter sido e não foi. Barro Vermelho nem residência nem comércio. Alecrim vendida. Lagoa Seca de tudo. Lagoa Nova de concreto. Cidade da Esperança que se foi. Felipe Camarão, bastião morto.
Tela de Flávio Freitas
E o flaneur desceria às praias. Uma Redinha cansada de peixe. Praia do Meio do nada. Praia de quais artistas? Areia Preta blindada. Via Costeira de outros. Até a Ponta Negra babel, da vila e da noite. Não, Natal não é mais cidade do sol. Do sol que nasce para todos. Aqui até as utopias distam mais. Estão longe, logo depois da linha do horizonte marítimo – o novo mundo sempre mais belo e mais ameno do que a cidade construída de costas ao rio.
Natal vive do ontem. Na política coronelista. Na economia atrasada. Nos movimentos sociais torpes. Vive de lendas. Da presença de Exupery. Da Cidade Espacial de Manoel Dantas. Da cidade cosmopolita. O escritor Pablo Capistrano foi certeiro: “Natal é cidade formada por matutos cosmopolitas e sertanejos que moram na praia”. E François Silvestre comprova: “O mapa do RN se parece muito mais com um caranguejo, mas não, queremos ser o elefante”.
Queremos ser vanguarda. Queremos um novo porto, um novo parlamento, um novo presépio. Queremos ser o ar mais puro das Américas. Queremos, queremos e de tanto querer, tudo se absolve. Falta querer identidade. E para tal precisa não querer mais. Ainda no século 19 havia o trocadilho popular: “Natal. Não há tal”. Natal nunca houve. Cidade de retalhos, mosaico de culturas sem unidade onde se gasta 200 para o outro não ganhar 20.
Natal turística, sim. Sol e Mar. Araruna e Congo. Fortaleza e Morro do Careca. Ginga e camarão. Linda em costumes e saberes, como nos quadros de Dorian e Navarro, nos livros de Cascudo e Lamartine. Nada é ficção. Ou também, porque Natal é cidade imaginária na arte que imita a vida. Natal esquina e esponja do mundo, de geografia e de alma abertas, onde quem passa deixa legado, porque na Ribeira ou em Natal, só o que passa, permanece.
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Foto: Alex Uchoa
O Camarones Orquestra Guitarrística celebrará seus 10 anos em grande estilo. Já são mais de 20 shows fechados na Europa. Paris, Lisboa, Porto Reun, Braga e, mais recentemente, em Berlim, no próximo 24 de maio. Datas conquistadas fruto de muita parceria, intercâmbio e, claro, qualidade sonora. O selo alemão Setalight Records, por exemplo, fará o lançamento do novo disco ‘Feeexta’ pela Europa. Aqui, o novo álbum da banda será lançado dia 5 de março no Som da Mata. Simbora.
Quando se trata de música erudita o universo do consumo artístico fica mais restrito, infelizmente. Mas vejam só: já são mais de 144 mil visualizações no youtube para o vídeo da soprano potiguar Alzeny Nelo interpretando a 5ª Bachianas de Villa-Lobos. O concerto aconteceu no encerramento da Semana da Música 2009, no auditório da Escola de Música da UFRN e acompanhada com octeto de violoncelistas da EMUFRN, sob direção musical do regente Fábio Presgrave. Lindo!
Carlos Sérgio Borges, o nosso Joãozinho Trinta, promoverá nesta quarta, no Bardallos Comida e Arte, a expo ‘Use Máscaras, Mas Não se Esqueça de Mim’, só com máscaras finas e decorativas. Coisa chique ao estilo e ao requinte do trabalho do artista. E para esquentar a festa, o elogiado show de Mago DaSilva com o show Nas Trincheiras da Alegria. Também coisa fina, viu? Eu vai.
Conheço razoavelmente bem a obra solo de Paul McCartney e reputo o Flowers in the Dirt, lançado em 1989, como um dos três melhores discos de Paul, junto com o Ram (1971) e o Tug of War (1980). E para alegria dos fãs, edições de luxo do álbum serão lançadas no próximo 24 de março. Esta será a 10ª liberação da coleção do arquivo de McCartney. Saiba mais AQUI.
Antes do reinado de Momo começar de fato e de direito, o Bloco Suvaco do Careca (FOTO) promove seu último ensaio neste domingo (19), com presença da Orquestra Dragões do Frevo e 15 instrumentistas da bateria da escola de samba Balanço do Morro. A concentração da prévia oficial está marcada para às 15h, em frente a Trattoria Bella Napoli em Ponta Negra. O acesso é gratuito, a festa é na rua e os ‘suvaquianos’ adiantam que o bloco fará uma breve giro pelas redondezas para aquecer os foliões. Além do repertório tradicional, recheado por sambas, marchinhas e frevos, passistas e casal de Mestre Sala e Porta Bandeira da Balanço do Morro e o boneco gigante que simboliza o bloco carnavalesco que aposta na forma mais democrática de folia pelo sétimo ano consecutivo: pé no chão, sem cordas e um clima que agrada toda a família.
O bloco “Os Mala do Barro Vermelho – Resgatando os Antigos Carnavais” faz sua prévia de carnaval neste domingo (19), das 12h às 18h, na sede do bloco, na Rua Jaguarari, e adivinha: no Barro Vermelho. A prévia contará com uma roda de samba puxada por maGo daSilva e o grupo Sambasesqueménois, com o repertório nas Trincheiras do Samba. O repertório tem sua essência no partido-alto, no improviso e na interação com o público; na experiência com diversos elementos musicais que se agregam a esse gênero. Para viabilizar os custos do bloco, que sai este ano no dia 27 de fevereiro, está sendo vendida uma camiseta por R$ 20, uma rifa de dez litrões de Skol e no dia do evento será vendida a já tradicional feijoada.
O antes talento prodígio e hoje um baterista renomado internacionalmente, Rogério Pitomba retorna de sua paz na cidade de Braga, em Portugal, para incendiar o Som da Mata neste domingo, a partir das 16h30 no Anfiteatro Pau Brasil, no Parque das Dunas. Rogério tocará clássicos da música brasileira e o repertório dos seus dois CDs: ‘Até o caroço’ e ‘Cacho maduro’. Acompanham o baterista o baixista Daniel Ribeiro, o guitarrista Ricardo Baya, o pianista Emerson de Oliveira e o saxofonista Anderson Pessoa. Acesso ao parque por R$ 1.
Hoje acontece também o último baile carnavalesco do Grêmio Etílico Carnavalesco Orquestra Greiosa, no Whiskritório. O pub abre a partir das 18h. E às 19h30 o palco ferve com a subida de uma seleção de músicos de várias bandas bacanudas da cidade, como Camarones, Dusouto, Talma&Gadelha, Alphorria e Rosa de Pedra. A orquestra promete cometer uma grande farra sonora que vai de músicas de compositores locais até grandes clássicos da música popular brasileira, tudo embalado no clima momesco e dançante. Para um som de deixar Monobloco na poeira. Senha: R$ 15 na lista amiga AQUI. Sem nome na lista é R$ 20 na hora.
Ler Charles Bukowski é tomar um porre, no melhor dos sentidos e um prazer, em muitos outros. É um percurso das relações de gozo e frustrações que implicam no contato do homem consigo mesmo, tanto na tentativa de se entender como tal quanto na expectativa de compreender a mulher.
Quando conheci, no final dos anos 70, o fiz acompanhado também de bebidas e drogas. Como no caso de alguém chegar numa festa em que os amigos já se encontram num adiantado estágio de embriaguez e, por mais que se tente ser agradável, fica sempre faltando algo, ou seja, alcançar o nível etílico suficiente para um mínimo de sintonia nos pretensos diálogos.
Assim é reler Bukowski. Na verdade, para se ler Bukowski é preciso ser um iniciado. Hoje, quase quarenta anos depois, apesar das poucas cervejas e nenhuma droga, o faço muito mais embriagado pelo poder desnorteante e desmoralizador de sua escrita: a literatura que se basta pela capacidade de dizer – sem maneirismos – a partir de si mesma, como uma poética da existência, onde a mundidade (não confundir com mundaneidade) se revela contra a razão.
O livro é uma narração no mais puro e simples estilo da vida amorosa, alcoólica e sentimental de Bukowski. Como uma espécie de crítica da razão puta, uma razão puta com a lógica da hipocrisia e da mediocridade, Bukowski escreve por espasmos, como se possuído pelo que há de mais necessário e cru na angústia.
Apesar de nascido na Alemanha, filho de soldado americano com uma jovem alemã, aos 3 anos de idade foi levado para os EUA, Bukowski é considerado o último escritor norte-americano “maldito”. Um tipo de anti-herói, alcoólatra de misantropo, de certa forma, uma espécie de beat honorário, considerando seu parentesco com o movimento, mesmo sem ter se associado a nenhum dos autores beatniks.
Dentre os personagens citados ou que transitam no romance, figuram seus contemporâneos como Bob Dylan, Willian Burroughs, John Fante, Céline, Hemingway, Gable, Cagney, Bogart, Errol Flynn, Catherine Deneuve, Judy Garland, Randy Newman e outros.
A obra também está repleta de personagens fictícios ou pseudônimos simbolizando alguns dos mitos que impregnaram o espírito de comportamento da época, como é o caso de Tanya, que ele compara com Betty Boop, personagem dos desenhos animados considerada a rainha dos desenhos animados da década de 1930, bem como, a alusão que faz ao modismo místico da classe média, através de Drayer Baba, um cara que nasceu na Índia e morreu em 1971, dizendo que era deus.
Estou falando de Mulheres, romance de 1978, das aventuras de Henry Chinaski que, além de protagonista de outras quatro obras e pequenos textos e poemas, é uma espécie de alterego de Bukowski. É a história de um escritor velho que vive em ambientes undergrounds e que, apesar de ter se tornado famoso, continua com seu estigma de perdedor, vivendo entre uma bebedeira e outra e se divertindo com diversas mulheres.
Este personagem, assim como o próprio Bukowski, é um escritor autobiográfico que cresce pobre, tem casos com diveresas mulheres bem jovens e – apesar de odiar – durante muitos anos trabalhou nos correios. E por falar em mulher, conforme Henry Chinaski, por causa dela “muito cara legal foi parar debaixo da ponte”.
Num dado momento, uma de suas amantes lhe pergunta: “quer dizer que você só vive para escrever depois?”. Ao que ele responde: “não, eu só existo. Daí, mais tarde, eu tento me lembrar de umas coisas e coloco-as no papel”.
Milan Kundera, em ‘A insustentável leveza do ser’, define dois tipos de amantes: o romântico e o épico. O romântico como aquele que nunca se realiza por acreditar na existência da mulher ideal e que, por mais que tenha experiência com diversas mulheres, nunca a encontra e, o épico, como aquele que sabe sentir prazer na particularidade, ou seja, naquilo que cada uma tem de diferente das outras.
Henry Chinaski não é um nem outro, ou é um e outro ao mesmo tempo. Nisso, numa espécie de ciranda entre Eros e Tanatos, ele mesmo se confessa confundido entre a crueldade de Marquês de Sade, sem o seu gênio. Ao mesmo tempo, seduzido pelo mito de Don Juan, reproduz o comportamento de Casanova, de Fellini, apaixonado pelo manequim de uma loja.
Num certo sentido, creio que Chinaski é mais fiel ao conselho daquele anjo de A última tentação de Cristo, de Nikos Kazantizakis, afirmando que na vida do homem só existe uma mulher e que, nesta mulher, o que muda é a cara e o nome. Em Mulheres, esta “mulher” se apresenta com o nome de Lydia, April, Dee Dee, Lilly, Mindy, Hilda, Cassie, Sara, Valerie, Tanya e tantas outras.
Por mais que, para muitos, a obra possa parecer uma história de sexo e bebedeiras, para Bukowski, na verdade, Mulheres, é um poema sobre o amor e a dor.
O dito Carnaval Multicultural de Natal se iniciou ainda na primeira gestão do prefeito Cadu Alves com os polos Redinha, Ponta Negra, Centro Histórico e Ribeira, sendo este último a concentração das escolas de samba e tribos de índio.
Por um ou dois anos, o Alecrim também se fez polo, mas logo perdeu o posto para a tradição sambista do bairro das Rocas. E este ano foi acrescentado o polo Petrópolis e as festas do Largo do Atheneu também ganharam a alcunha de polo carnavalesco. Talvez pela novidade, sem edital para os shows locais.
Na noite de hoje, o prefeito visitou a 15ª edição do Nazaré Folia, no bairro de Nossa Senhora de Nazaré, ou simplesmente Nazaré, na Zona Oeste de Natal. Ficou impressionado com a quantidade de gente para assistir shows do Circuito Musical, Tonny Farra e Nana Neném e anunciou, na conta do twitter da Prefeitura, o novo Polo Zona Oeste no carnaval de Natal em 2018.
Era a “Zona” que faltava, já que as zonas Sul (Ponta Negra), Leste (Rocas, Petrópolis e Atheneu) e Norte (Redinha) já são contempladas, embora a Redinha seja muito mais tomada por veranistas de outras zonas do que pela população da Zona Norte, que sejamos justos, já recebe uma fatia razoável da programação do Natal em Natal.
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